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terça-feira, 17 de março de 2015

O monumento Inugami e o curioso decreto de proteção aos animais no Japão



Na localidade de Takatarou Nishioka, cidade de Saga, província de Saga, Japão, existe um Inugami kuyou-tou (犬神供養塔) ou "Torre memorial do cão-deus", a 30 metros da antiga escola primária de Nishioka, em um canto próximo de um bambuzal onde também se encontra o popularmente conhecido "Poço de Inugami".

Segundo os antigos moradores, quase nenhum jovem se aproxima do local por ser considerado amaldiçoado onde se encontram duas pedras naturais onde em uma delas, figuram duas letras: 犬神 (Inugami = cão-deus). A data de origem desses monumentos, é incerta. Estima-se que tenham sido erigidos por volta de 1720.

A finalidade exata tampouco é conhecida, mas suspeita-se de que o quinto Shogun, Tsunayoshi Tokugawa, emitiu o Decreto de Proteção dos Desfavorecidos em 1687, e nesse local, todos os cães da cidade de Saga teriam sido consagrados e mais tarde construíram este peculiar monumento aparentemente comemorativo.



O estranho decreto que valorizou mais a vida de animais do que de pessoas

O "Decreto de Proteção dos Desfavorecidos" ou "O Decreto de Proteção Animal" como ficou conhecido (生類憐れみの令 Shourui awaremi no rei), foi uma lei emitida com a finalidade de proteger os animais, e também, de forma menos ostensiva como figura nos registros antigos, pessoas desfavorecidas como idosos e crianças. Essa lei com base na misericórdia do budismo, esteve em vigor até o ano de 1709.



Para que o leitor tenha uma ideia da rigidez desse decreto, durante esse período de tempo, pagava-se multa por maltratar ou matar um cão, por abandonar um cavalo, um idoso ou uma criança. Pescadores tiveram dificuldades para seguir com seu ofício e a lei precisou de uma emenda por conta disso. E até a condenação ao suicídio por honra e pena de morte foram levadas a cabo como por exemplo:

  • Em 1691, foi proibida a exibição de ratos, gatos e cães, assim como forçar tais animais a aprenderem truques para entreter o público
  • Em 1689, dois cães brigaram em frente à loja de bandeiras de Masanao Sakai e devido a que um dos animais morreu por conta dos ferimentos, a loja foi responsabilizada e fechada por decreto. 
  • Em 1695, 10 pessoas foram condenadas a praticarem o Seppuku (cortar a barriga) e um foi decapitado, por caçarem aves com arma de fogo e tentarem comercializá-las.


A lista de registros de casos levados ao extremo por conta dessa antiga lei é bem grande, e exemplifico aqui apenas esses três acima, que figuram em atas de tribunais.
Porém, do que não foi registrado em papel mas teria sido testemunhado e contado de pai para filho, figura até os dias atuais que essa lei era tão extrema, que não se podia nem mesmo matar uma mosca sob o risco de ser decapidado.

Se hoje em dia há uma maior conciência em prol dos animais e portanto, há casos em que nossa raiva ante a covardia de gente que maltrata animais indefesos é tão grande que chegamos até a achar justo algo assim, tal não foi naquele tempo em que essa lei esteve em vigor no Japão.

Houve muito acobertamento, como por exemplo, se algum espertalhão matasse um cachorro, não era difícil colocar a culpa em alguém inocente e dizem que nos primeiros meses do decreto, muita gente passou fome com a proibição de comer peixe, base da alimentação dos japoneses...



Enfim, este post sem pretensões, mostra uma pequena anedota histórica dessas que tanto passam em branco e que só veio a aparecer aqui, graças a essas duas pedras das imagens.


Fonte: Rusmea

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