Você provavelmente já viu um relâmpago durante uma tempestade. Eles são
rápidos e geralmente tem sempre o mesmo comportamento. No entanto,
existe um fenômeno que envolve os relâmpagos que ninguém sabe explicar.
Esse mistério é chamado de “Relâmpagos Globulares”.
Relâmpagos globulares, ou raios-bola (ball lightning), são esferas
luminosas que aparecem geralmente durante tempestades, possuem
comportamento imprevisto e desafiam o Conhecimento Estabelecido há
muitos anos. Até as últimas décadas do século XX, eles eram considerados
uma ilusão de ótica, fraude, ou erros de interpretação das testemunhas.
O crescente número de relatos, contudo, mobilizou
considerável volume de recursos e pessoas dispostas a tratá-lo com
seriedade. Como é natural, a dificuldade em obter explicações
consistentes dentro do paradigma mantém viva a resistência em admitir
sua efetividade, de modo que a realidade concreta de muitos dos eventos
continua sendo motivo de questionamento na comunidade científica.
Teoricamente, o relâmpago globular não poderia existir. Ele vai contra
algumas leis da física que conhecemos e isso deixa muitas pessoas
irritadas. Mas se o fenômeno não é possível, como tantas testemunhas
afirmam que ele existe? Seria tudo fraude? Ou esses fenômenos não teriam
uma origem natural?
Existem inúmeros relatos de testemunhas oculares do fenômeno, desde
muitos séculos. Segundo aqueles que já o viram, o relâmpago globular é
um espetáculo apavorante:
A bola luminosa aparece de repente, avança para a pessoa emitindo um
forte ruído, pode às vezes queima-la, danificar objetos, e não raro
desaparece após violenta explosão.
Testemunhas e relatos
Diana de Poitiers (amante de Henrique II, da França), por exemplo, teria
sido queimada por uma chama que correu em volta de seu quarto, em sua
noite de núpcias em 1557.
Em 1596, segundo um relato, algo alarmante aconteceu enquanto o Dr. Rogers pregava seu primeiro sermão na Catedral de Wells: “Em
seu sermão, de acordo com um texto que escolhera, e não tendo feito
oração, ele começou a discutir os espíritos e suas propriedades;
momentos depois, pela janela oeste da igreja entrou uma coisa escura, do
tamanho de uma bola de futebol, que seguiu pela parede do lado do
púlpito; e, de repente, ela como que se partiu, mas com não menos
estrondo e terror do que cem canhões houvessem sido disparados ao mesmo
tempo; e com isto caiu uma tempestade extremamente violenta, com
relâmpagos e trovões, como se a igreja estivesse cheia de fogo.”
Muito impressionante, sem dúvida, mas a despeito de todas essas
histórias os cientistas que posteriormente se ocuparam do fenômeno
continuaram a encará-lo como um enigma: ninguém conseguia decidir-se
sobre se o relâmpago globular existia ou não. É bem verdade que não
houve nenhum problema antes que a “era científica” trouxesse novas
descobertas sobre a natureza da eletricidade: as pessoas contentavam-se
em admitir que o relâmpago em forma de bola, como o trovão ou a chuva
torrencial, era apenas mais uma manifestação do universo imprevisível e
não poucas vezes hostil.
Já no século XIX, porém, os que estudavam a eletricidade não conseguiam
conciliar seus conhecimentos com a ideia de que algo como um relâmpago
pudesse existir em forma de bola, completas em si mesma. Nos
laboratórios de pesquisas, eram geralmente tratadas com desdém notícias
como esta, de 1892:
“… a família estava na casa, com as portas e janelas abertas, quando
uma bola luminosa pareceu saltar do fio, passou pela porta aberta e uma
janela, seguiu seu curso por algumas varas através do espaço aberto por
trás da casa. Um menino que estava na sala agarrou o polegar gritando:
“Estou ferido”, e o Sr. Hewett sentiu, durante algum tempo, uma sensação
no braço esquerdo. Uma menina pegou seu xale e saíu correndo da casa
para perseguir a bola. Disse que a persegiu durante certa distância,
enquanto ela se afastava saltitando, até que pareceu dissipar-se no ar
sem nenhuma explosão…“
Representação de de um raio globular que entrou pela chaminé (1886) |
Em tempos mais recentes muitos cientistas chegaram a admitir que, afinal
de contas, os relâmpagos em forma de bola talvez existam. Isto se deve,
de um lado, ao desenvolvimento dos conhecimentos de meteorologia e de
física do plasma, permitindo criar um quadro dentro do qual se pode
examinar e principiar a compreender o problema, e, de outro lado, ao
fato de que não tem diminuído o número de relatos de testemunhas
oculares. Houve, por exemplo, uma extraordinária manifestação do
fenômeno na pequena estação balneária escocesa de Crail, em agosto de
1966.
Na tarde em questão, a Sra. Elizabeth Radcliffe voltava para casa, andando por um caminho de concreto perto da praia:
“Ergui os olhos e vi o que julguei ser uma espécie de luz e, quase no
mesmo instante, ela se transformou numa bola, de tamanho mais ou menos
entre uma bola de tênis e uma bola de futebol. Cruzou o caminho e mudou
ligeiramente de cor, ficando como a do chão. Depois, passou sobre a
grama e ficou esverdeada e, logo, com grande rapidez, desapareceu na
direção do café, onde explodiu“
Dentro do café, encontrava-se a Sra. Evelyn Murdoch, que cozinhava na ocasião para os fregueses. Conta ela:
“O café estava cheio e tudo estava normal. De súbito, houve um
tumulto medonho: sons horríveis de coisas estalando, aumentado o tempo
todo. Olhei pela janela da cozinha e vi pessoas correndo da praia,
gritando, berrando e o barulho ficou mais forte. Repentinamente, um
estalo violento. Pareceu que abalava toda a casa e toda o cozinha se
iluminou com uma luz ofuscante. Nunca vi uma coisa dessas em toda minha
vida… Os fregueses correram para a rua e um homem com uma perna de pau,
que ocupava geralmente uma mesa junto ao balcão, correu junto com o
resto. Nunca vi gente fugindo com tanta rapidez em toda minha vida.“
Mais tarde, a Sra. Murdoch descobriu que a grossa coifa de ferro fundido
que ficava em cima do grande fogão do café se partira de um lado a
outro. A filha dela, Sra. Jean Meldrum, encontrava-se em visita ao café
quando a bola de fogo caiu. Deixara seu bebê no carrinho do lado de fora
e, logo que o estranho barulho aumentou, correu para ir buscá-lo. Este o
momento em que viu a bola de fogo:
“Era de um alaranjado luminoso no centro e branco puro em toda a
volta e rolou pela parede do café. Foi até a janela e quando me levantei
para ver o que era aquilo, a coisa saiu pela janela, bateu no meu peito
e simplesmente desapareceu.“
Num estacionamento próximo de trailers, a Sra. Kitty Cox saíra para passear com seus dois cães. Diz ela:
“De repente, houve aquele ensurdecedor estampido de trovão e, então,
diretamente à nossa frente, ouvi gritos e vi crianças correndo e depois
aquela bola sibilante apareceu diante de mim, arrastando o que parecia
uma fita de cobre, de alguns centímetros. Meus cães entraram em pânico e
eu fiquei olhando, enquanto ela passava com grande rapidez, sibilando e
zumbindo, e se encaminhou para o mar.“
Dos EUA vem a extraordinária história de Clara Greenlee e seu marido,
que viram uma bola de fogo vermelho-alaranjada atravessar a parede do
quintal concretado de sua casa em Crystal River, Flórida. Do tamanho de
uma bola de basquetebol, ela rolou pelo chão; a Sra. Greenlee bateu nela
com o mata-mosca, que por acaso tinha na mão. A bola explodiu com o som
de tiro de espingarda. “isso deve ter matado a mosca”, disse a Sra.
Riggs, vizinha de Clara Greenlee.
Gravura de um raio globular a entrar pela janela (1901) |
No Camerum, África, em 1960, a Sra Joyce Casey dirigia-se para a
cozinha, certa noite, quando “uma coisa parecida com um farol de carro”
correu pelo corredor em sua direção. Aproximou-se dela, virou, entrou no
banheiro e desapareceu pelo vaso.
Um dos mais detalhados registros feitos por um cientista é o do
Professor R. C. Jennison, dos Laboratórios de Eletrônica da Universidade
de Kent, que presenciou um aparecimento em circunstâncias inusitadas e
alarmantes. Foi em março de 1963. Conforme escreveu ele na revista
Nature, encontrava-se a bordo de um avião da Eastern Airlines, num voo
entre Nova York e Washington, sentado em uma das poltronas da frente,
quando a aeronave se viu colhida por uma violenta tempestade elétrica. O
avião “foi envolvido por uma súbita, ofuscante e aterradora descarga elétrica”
e, alguns segundos depois, uma esfera incandescente, de uns vinte
centímetros de diâmetro, emergiu da cabine do piloto e veio descendo
pelo corredor, aproximadamente a meio metro de minha poltrona, mantendo a
mesma altura e o mesmo curso dentro do campo de observação”. Um aspecto
desse aparecimento lança dúvida sobre uma teoria largamente aceita, a
de que o relâmpago globular seria apenas uma ilusão de óptica, uma
“imagem residual” ou persistente deixada na retina pelo relâmpago comum.
Isso porque o Professor Jennison informou também que a bola foi vista
por outra pessoa além dele, uma “apavorada aeromoça que estava
sentada, com o cinto apertado, no lado oposto e mais para a parte
traseira do avião. Ela viu a esfera continuar pelo corredor, até
desaparecer finalmente na direção do toalete.”
Os relâmpagos globulares também já foram fotografados, embora alguns
cientistas desconfiam desse elemento como prova documental, acreditando
que é fácil confundir um fenômeno luminoso com outro. Mas houve alguém
que não só conseguiu instantâneos (imagens fixas), como ainda um filme
de 16 mm do que pode ter sido perfeitamente um relâmpago globular.
Trata-se do Professor James Tuck, nascido na Inglaterra e hoje
naturalizado norte-americano. Ao longo de uma brilhante carreira
científica, trabalhou como conselheiro-chefe para assuntos científicos
de Lorde Cherwell, colega de gabinete de Sir Winston Churchill, e mais
tarde se incorporou ao Projeto Manhattan, em Los Álamos, que produziu a
bomba atômica. Tuck ainda reside em Los Álamos e foi lá que ele passou a
estudar em laboratório o relâmpago globular, algo que muitos
pesquisadores antes dele haviam tentado em vão.
Ouvira ele dizer que o relâmpago globular aparecia de vez em quando em
submarinos como resultado de manipulação incorreta da aparelhagem e, às
vezes, queimava as pernas dos tripulantes inábeis. Foram frustradas suas
tentativas de estudar o fenômeno a bordo de submarinos, mas descobriu
que, ali mesmo em Los Álamos, havia uma bateria de submarino de dois
milhões de dólares, instalada para outro programa de pesquisas, mas
naquele momento ociosa. Obteve permissão para trabalhar com ela e assim
iniciou uma série de experimentos “clandestinos”, com Tuck e seus
colegas trabalhando no projeto durante a hora do almoço ou fora do
expediente normal. Embora produzissem descargas elétricas muito fortes
com a bateria, nem ele nem seus colegas conseguiram gerar coisa alguma
parecida com um relâmpago globular.
Passando-se os meses, viram-se pressionados para pôr fim aos testes, a
fim de que o edifício onde trabalhava com a bateria pudesse ser
desocupado e demolido, abrindo espaço para outro programa de pesquisa.
De repente, não houve mais tempo. Do lado de fora, os ‘bulldozers’ já
esperavam para iniciar a demolição. Os cientistas haviam experimentado
quase tudo em que podiam pensar, sem sucesso. Numa final e desesperada
tentativa de atingir seu objetivo, resolveram adicionar alguma coisa à
atmosfera em torno do comutador. Confeccionaram então uma pequena caixa
de celofane em torno do comutador e a encheram de metano em baixa
concentração. Achavam que a quantidade de gás, por bastante pequena, não
era inflamável – mas apesar disso, tiveram sorte porque estavam
agachados atrás de sacos de areia quando o comutador foi acionado. Subiu
uma grande labareda e ouviu-se um formidável estrondo. Mais tarde,
todos eles se lembravam de como o telhado do edifício voou pelos ares.
Assim findou a experiência, mas só depois que mandaram revelar o filme,
tirado por duas câmaras colocadas em ângulos diferentes, é que
descobriram o que havia acontecido.
Em perto de cem imagens aparecia uma bola de luz de cerca de 10 cm de
diâmetro. O Professor Tuck tem certeza de que não se trata de defeito do
filme ou de falha no processo de revelação. Mas também não afirma nada,
salvo que pode ser algum fenômeno relacionado com o relâmpago globular.
No momento, ele tenta classificar as características do fenômeno e já
isolou vários fatores potencialmente importantes. Entre eles, que ele
geralmente:
- Ocorre após um relâmpago comum;
- A bola tem, em média, 15 cm de raio;
- Apresenta em geral uma coloração de amarelo para vermelho;
- Não é excessivamente quente e costuma produzir um som sibilante.
Com base nessas características, talvez venha a surgir uma teoria
aceitável para a maioria dos cientistas. Tuck inclina-se para uma reação
química como origem do fenômeno, mas o fato é que a literatura
científica transborda de outras teorias, desde “”meteoritos de
antimatéria” a variações do tema da ilusão de óptica. Atualmente, a
despeito do fato de se conhecer um número crescente de características,
com base em relatos de testemunhas dignas de crédito, quase nada se sabe
sobre o relâmpago globular, embora os homens de ciência agora se sintam
mais confiantes de que um dia poderão explicá-lo. Ainda no campo
científico, o pesquisador Jacques Bergier informou na década de 1970
sobre as bola de fogo que:
“o professor Kapitza reproduziu-a em seu laboratório e tirou belas
fotos. A bola de fogo é um plasmoide, isto é, matéria ionizada,
eletricamente carregada, mantida coesa até o presente por forças
desconhecidas. Só que a bola de fogo tem uma existência máxima de 5
segundos e não ultrapassa 25 centímetros. (…) a bola de fogo é aliada a
trovoadas, e é provavelmente produzida pela faísca comum. (…) Existem
observações de bolas de fogo caindo na água. Uma dessas observações, na
qual se pode medir com um termômetro, a elevação da temperatura de uma
sentelha de água onde a bola caiu serviu depois de base para as
estimativas de energia.”
Entretanto, como já pudemos constatar existem relatos de relâmpagos
globulares maiores e de duração bem mais longa que as descritas por
Jacques Bergier. A progressiva aceitação do relâmpago globular como
fenômeno verdadeiro é um fato que se tem repetido constantemente na
história da ciência quando esta se defronta com os mistérios. Hoje, é
com espanto que nos lembramos de que a existência dos meteoritos era
outrora peremptoriamente negada, tendo sido objeto de veemente discussão
na Academia de Ciências da França. Os sábios simplesmente não podiam
admitir que caíssem pedras do céu, embora estivessem familiarizados com o
aparecimento de meteoros e conhecessem as estranhas “pedras de raio”
que haviam caído na França, não encontravam meio de estabelecer uma
ligação entre os dois fenômenos, estabelecer uma ligação entre os dois
fenômenos, primeiro porque não existia um registro organizado de
observações, e segundo porque não havia uma teoria científica que os
enquadrasse.
Foi necessário que o conceituado físico Ernst Chladni postulasse a
existência dos meteoritos para que os cientistas levassem o assunto a
sério e passassem a observá-los devidamente. À adoção dessa nova atitude
não tardou a seguir-se a confirmação de que realmente os meteoritos
caíam do céu.
Teorias sobre relâmpagos globulares
Vários físicos especulam que o fenômeno deva ser causado por descargas
elétricas. O físico russo Pyotr Kapitsa acredita que o relâmpago
globular seja uma descarga sem eletrodos, causada por uma onda
estacionária de UHF de origem desconhecida, presente entre a Terra e uma
nuvem.
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Segundo outra teoria, “o relâmpago globular exterior é causado por um maser – análogo a um laser mas que opera num nível de energia muito mais baixo – atmosférico, com um volume da ordem de vários quilômetros cúbicos.”
Dos cientistas neozelandeses, John Abrahamson e James Dinniss, acreditam que o relâmpago globular consista em “bolas felpudas de silício incandescente, criadas por relâmpagos comuns que atingem a Terra.”
Segundo a teoria deles, quando raios atingem o solo os minerais se
quebram em minúsculas partículas de silício e seus componentes com
oxigênio e carbono. As pequenas partículas carregadas se ligam formando
cadeias, que por sua vez formam redes filamentares. Estas se agrupam
numa leve bola felpuda, que é sustentada por correntes de ar. Daí ela
flutua como um relâmpago globular, ou como uma esfera incandescente de
silício felpudo emitindo a energia absorvida do raio sob a forma de
calor e luz, até que o próprio fenômeno se consuma.
Em 2007, o pesquisador Gerson Paiva conduziu e publicou uma pesquisa
experimental pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife,
Brasil, feita com base em dados espectrográficos que foram registrados
por acaso, onde propunha a hipótese do silício vaporizado. Esta hipótese
sugere que o raio globular consiste de silício vaporizado que queima
através do processo de oxidação. O relâmpago que golpeia o solo da Terra
pode vaporizar a sílica contida no seu interior e, de alguma forma,
separa o oxigênio do dióxido de silício, transformando-a em vapor de
silício puro. Enquanto esfria, o silício pode condensar em um tipo de
aerossol flutuante, brilhante devido ao calor do silício recombinado com
o oxigênio. O registros do experimento relatam a produção de "bolas
luminosas com uma duração da vários segundos" através da evaporação de
silício puro com um arco eléctrico. Esta hipótese ganhou apoio
significativo em 2014, quando o primeiro registro de espectros de raio
globulares naturais foram publicados. Os teóricos depósitos de silício
no solo incluem as nanopartículas de Si, SiO e SiC.
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