Fundada em Campina Grande, pelo então empresário algodoeiro, Roldão
Mangueira de Figueiredo no final da década de 1960, a seita “Os
Borboletas Azuis”, tornou-se de fato famosa em 1977, quando seus
integrantes começaram a se vestir de azul e branco e depois quando foi
matéria de um jornal da Rede Globo.
Roldão pregava que o mundo seria destruído por um
dilúvio na década de 80. Houve uma dramática redução do número de fiéis
depois do fiasco do dilúvio anunciado, e o número de seguidores passou
de aproximadamente 700 para somente 67 pessoas.
A seita primava pelo misticismo religioso, misturando várias práticas
religiosas, como o catolicismo, espiritismo e protestantismo, seu líder
pregava que o mundo seria destruído num dilúvio que ocorreria em 13 de
maio de 1980: “Uma enorme bola de fogo cruzará o céu, o Sol girará por
três vezes consecutivas, um ensurdecedor trovão ecoará por toda a Serra
da Borborema. Em seguida choverá ininterruptamente por 120 dias”, foi o
que disse Roldão Mangueira a seus fiéis que acreditavam cegamente nele.
Esperando o fim do mundo, novos membros dessa seita venderam seus bens
para aderir a nova religião, eles se reuniam na chamada “Casa da
Caridade Jesus no Horto”, localizada no Bairro do Quarenta. O
funcionamento desta Casa de Caridade ocorria através da união de sessões
espíritas, realizadas sobre a “Mesa de Caridade” no interior da casa e
de orações do Ofício de Nossa Senhora e demais preces católicas. Os
seguidores de Roldão Mangueira eram orientados por normas de
comportamentos que condenavam cores berrantes, esporte, a prática da
medicina e atos mundanos. Um dos costumes mais conhecidos do grupo era o
fato de andar com os pés descalços para ter contato com a terra.
Na época da profecia de Mangueira, o Diário de Pernambuco publicou o
seguinte: “A cidade vive dias de expectativas. Nesta semana (maio de
1980), cresceu a hostilidade da população contra os Borboletas Azuis. As
autoridades temem que haja um linchamento dos integrantes da seita...”,
passou os anos 80 e nada de fim do mundo, a realidade é que ao entrar
no mês de maio de 1980, Roldão Mangueira simplesmente sumiu, quando a
imprensa de Campina chegou a especular que ele estaria internado numa
clínica psiquiátrica de João Pessoa. Não é preciso dizer que nada
aconteceu em Campina Grande, no dia 13.
No dia 13 de maio, realmente choveu em Campina Grande, o que de certo
causou alguma apreensão. Já em Aracajú, cerca de 300 funcionários da
fábrica Unibras e Confecções Junior, entraram em pânico em consequência
de um vento forte, que levou os trabalhadores da industria, na maioria
mulheres a acreditar que seria o fim do mundo.
O mestre da seita não durou muito e e morreu nos anos 80, logo após a
morte de Roldão, em 1982, o novo líder do grupo passou a ser Antônio de
França, que mesmo com a decadência da Seita, ainda tentava chamar
atenção para a “Casa da Caridade”, como de fato ocorreu em matéria
publicada na “Gazeta do Sertão” de 29 de setembro: “Hoje os adeptos são
pouco mais de vinte, mas a fé na religião e nos princípios é a mesma”.
Com o passar dos anos, os integrantes ou foram morrendo, ou simplesmente
retornaram as suas vidas normais, fazendo com que a seita fosse se
esvaziando até ficar apenas com duas adeptas, ainda na “Casa da
Caridade”, que foi doada por Roldão Mangueira à “Fundação Casa de
Caridade Jesus no Horto”. Todas as noites, as aposentadas Maria Tereza e
Helena Fernandes se encontravam para orar e confirmar sua fé, dizendo
que ainda esperavam o surgimento de um novo líder religioso, isso com
uma foto de Roldão Mangueira na parede.
Pelo fracasso das sua profecias, a imprensa passou a zoar Rodão
Mangueira, com humorismo e chacotas fazendo relatos de ação que não
aconteceu com ele. Na cidade de Campina Grande existe uma história
contada em tons cômicos de que Roldão Mangueira tentou andar sobre as
águas do Açude Velho. Relatam o “causo” que ele não se afogou por pouco.
Sobre isso, Antônio de França, um dos líderes do grupo afirmou: “Nunca
existiu esse negócio de dizer que nós iríamos andar sobre as águas, nem
tão pouco estávamos construindo uma arca para nos salvar do dilúvio.
Tudo foi inventado e chegaram até a dizer que nós estávamos separando os
casais. Apenas não aceitamos ninguém vivendo sem ser casado, pois a
religião não permite”, relatou Antônio à “Gazeta do Sertão” em 1982. O
texto de Francistone Tomaz sobre “A Última Borboleta Azul".
Irmã Tereza e o baú que guarda parte da história dos Borboletas Nascida
na zona rural da cidade de Areia no brejo paraibano, Maria Tereza
Vicente, hoje com 86 anos, adotou o codinome Irmã Tereza ao ingressar no
movimento Borboletas Azuis.
Ao contrario do que é divulgado, até hoje o movimento tinha como
propósito levantar a doutrina católica que, segundo seu líder espiritual
estaria em decadência devido ao reinado dos três últimos papas.
Pregavam também o desapego às coisas materiais. Irmã Tereza conta que
tudo teve início quando seu líder espiritual recebeu a incumbência
divina para abrir uma casa de caridade nos moldes da Igreja Jesus no
Horto, Igreja esta localizada na cidade de Juazeiro do Norte no estado
do Ceará.
Daí nasceu A Casa de Caridade Jesus no Horto localizada até hoje no
bairro do quarenta em Campina Grande. O local foi palco de várias curas
milagrosas presenciadas pela religiosa a enfermos que vinham de toda
parte do país, segundo ela essas curas ocorriam através das sessões
espíritas realizadas por médiuns sobre a “Mesa da Caridade” acompanhadas
de orações do ofício de Nossa Senhora e demais preces católicas.
O auge do movimento teve inicio no ano de 1978, quando seus integrantes
passaram a usar vestimentas nas cores azul e branco, daí o nome
borboletas azuis, e começaram a distribuir um folheto em que alertavam à
toda humanidade sobre um “dilúvio” que aconteceria precisamente no dia
13 de Maio de 1980.
O fato não aconteceu e seus seguidores que eram em torno de setecentos
diariamente no templo, foram perdendo a credibilidade junto ao seu líder
que foi internado em um hospital psiquiátrico da cidade por familiares,
vindo a falecer em 1982, tendo sido substituído por Antônio de França,
que era acompanhado por pouco mais de vinte seguidores.
Irmã Tereza, a última remanescente dos Borboletas Azuis se mantêm firme
no seu propósito de “levantar” a Igreja com a chegada de um novo líder.
Alheia às piadas e comentários maldosos sobre sua maneira de viver, a
fiel seguidora de Roldão Mangueira mantêm sua rotina de orações e
tarefas rotineiras no templo, como cuidar do jardim que fica em frente à
capela. E talvez seja no jardim que essa adorável senhora encontre o
significado de toda sua existência, pois “borboletas azuis não andam em
bandos, são sempre solitárias.
Fontes: Noite Sinistra
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