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Eduardo Anizelli/Folhapress
Ao lado da coleção de naves de "Guerra nas Estrelas", o engenheiro
eletrônico e pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) Ricardo Varela, 57, ouve jazz e revela um sonho: ser abduzido
por um OVNI.
"Quem não quer dar uma volta em uma nave? Só não quero nada enfiado no
meu corpo, como o instrumento que entra no nariz e perfura o cérebro.
Quem já foi abduzido diz que isso dói demais."
Varela é um caçador de OVNIs profissional. Sua vasta formação e
experiência em astrofísica fazem dele um dos mais respeitados ufólogos
do país, membro da comissão nacional e colaborador de publicações sobre o
tema.
Há mais de três décadas, Varela realiza um trabalho paralelo no Inpe, em
São José dos Campos, onde é responsável pela segurança de informação do
instituto. É ele quem recebe relatos, fotos e vídeos de pessoas comuns
que avistaram –ou acreditam ter avistado– objetos voadores não
identificados.
"Por ter o nome 'espacial', e ainda mais 'nacional', o Inpe é procurado
por pessoas que querem fazer relatos. Nos anos 80, trabalhei muito para
que esses casos fossem transferidos para mim", diz Varela.
Em média, ele recebe cinco relatos por mês. Quando aparece um caso
qualquer na TV, chovem telefonemas –o que ele chama de "contaminação
sociológica". Analisa os vídeos e os repassa a uma comissão de 15
ufólogos. Eventualmente, vai a campo checar casos intrigantes.
"Logo de cara, aviso que quem analisará sou eu, e não o Inpe. Muitas
pessoas ligam pedindo um 'carimbo' de que é um disco voador. É um grande
problema, pois parte dos relatos tem objetivo comercial. E as pessoas
ficam bastante irritadas quando eu digo que não é um ovni."
Cem por cento das fotos que já recebeu, diz, têm explicação terrestre:
erros de interpretação ou aberrações ópticas. O que o intriga são alguns
vídeos.
"É comum ver cenas de pequenos objetos luminosos, bolinhas de luz,
fazendo evoluções. Não tem como um objeto feito pelo homem fazer uma
curva de 90 graus!"
Os vídeos que passam pela peneira do ufólogo, ou seja, que não são
drones (o novo vilão dos pesquisadores), satélites artificiais, nuvens
condensadas, helicópteros, nem Vênus entram na chamada "área cinzenta",
isto é, de casos inconclusivos.
"É de outro mundo? Não posso falar isso. Posso provar que somos
visitados por seres extraterrestres? Impossível. Mas eu acredito. A
resposta que dou ao cidadão é essa: é um ovni, só isso", afirma.
Em 30 anos, ele diz que as evidências já coletadas são insuficientes
para afirmar que somos visitados, o que não diminui sua crença. "Não
tenho provas, mas alguns vídeos e relatos impressionam. Pode ser
alucinação? Sim. Mas e quando você tem uma dúzia de relatos iguais?"
Em 1995, em Aparecida (SP), ele colheu depoimentos sobre uma bola de luz
numa serra –e chegou a ver marcas de fogo na mata e um objeto escuro
que apagava as estrelas .
"Há muitos relatos de pilotos, policiais, pessoas que não são
contaminadas. Um coronel da FAB [Força Aérea Brasileira], piloto, subiu
com seu avião e se deparou com um disco voador. São esses relatos de
pessoas que não vão ganhar nada com isso que reforçam que tem alguma
coisa esquisita", diz.
Para Varela, o que não tem explicação é o temor e a indisposição das
autoridades para tratar do assunto. "Relatos de pessoas prejudicadas são
raros. É uma oportunidade de estudos como outra qualquer. No Brasil, a
ufologia é muito associada ao lado místico", afirma.
LIDERANÇA
As chances de flagrar um óvni no Brasil aumentam consideravelmente se o
observador olhar o céu do Pará, entre 18h e 23h59, a olho nu.
É o que mostram estatísticas inéditas divulgadas pelo Comdabra (Comando
de Defesa Aeroespacial Brasileiro) em agosto de 2014 e em fevereiro
deste ano.
Os dados vão de 1954 a 2005 e somam 710 avistamentos, com detalhes sobre
locais e horários com mais ocorrências, formatos mais citados e métodos
de observação. Em 13 casos, há relatos de contato com seres
extraterrestres.
As estatísticas integram uma pilha de documentos das Forças Armadas
desclassificados, ou seja, tornados públicos, após pressão de ufólogos e
pedidos via Lei de Acesso à Informação.
Para o ufólogo Ricardo Varela, há muito a ser revelado. "Ao menos
sabemos que havia procedimentos de pesquisa científica quando militares
se deparavam com OVNIs."
Mais do que isso, o Brasil já teve um grupo oficial para apurar os
casos, o Sioani (Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não
Identificados), com oficiais da FAB, que funcionou de 1969 a 1972.
Em seu currículo pessoal, Varela aponta o caso de Aparecida, em 1995,
como o mais impressionante. Moradores de uma serra relatavam a presença
de um "fantasma" –uma bola de luz que surgia e abduziu algumas pessoas.
"Temos relatos de moradores que viram a luz, queimaram as córneas e o
rosto. Um frentista, assustado, fugiu de lá", diz. De campana, ele
avistou árvores queimadas apenas na copa e um objeto que obscurecia as
estrelas. "Até hoje, às 18h, as pessoas trancam as portas e janelas."
Em nota, a Aeronáutica afirma que todos os relatos referentes a ovnis
até dezembro de 2014 foram enviados ao Arquivo Nacional e que não dispõe
de estatísticas referentes ao período posterior a 2005.
Fonte: Folha de São Paulo Via: Arquivos Do Insolito
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