Você acorda
daquela noite em que o sono é ótimo e sua cama parece ser o melhor lugar
do mundo, sua casa é quente mas lá fora não. Nevou por toda a noite. A
neve é interessante e você está muito curioso para ver o que a natureza
fez em seu jardim naquela noite. Ao abrir as cortinas você estranha ao
ver seus vizinhos andando assustados cassando algo na neve em seus
jardins. Acaba achando aquilo cômico e sorri. Então ao olhar para o seu
ninho de tulipas e percebe algo estranho. Existe algo a mais em seu
jardim. Algo marcado na neve. São pegadas, mas não de um homem ou
qualquer animal, são diferentes, são assustadoras
A manchete
do jornal "The Times" do dia seguinte (exatamente 16 de fevereiro de
1855) descreveria perfeitamente o sombrio fato que ocorrera naquela
inesquecível noite... "O Diabo andou em Devon".
Na noite
anterior (uma quinta-feira) uma grande nevasca invadiu a região de
Exeter no sul de Devon na Inglaterra. O frio fora intenso e a manhã fora
a o momento dos cidadãos verem os estragos que a nevasca causara. Boas
noticias, ninguém esperava, mas o que viram deixou todo os moradores
duplamente pasmados.
Em todos os
jardins haviam pegadas, mas não pegadas humanas,aquilo era diferente,
era uma pegada desconhecida. Eram pegadas em formas de ferradura,
entretanto não poderiam ser de um animal quadrupede, com certeza era de
um bípede; fato claramente notado pelos espaçamentos das passadas.
O fato mais
estranho era que as pegadas além de se estenderem por quase todos os
jardins da região, ainda podiam serem vistas claramente em cima dos
muros, das alçadas, das casas e até grandes edificações.
É como se
aquilo que deixou as pegadas possuísse o poder da onipresença ou
ubiquidade, ele esteve em centenas de lugares em uma única noite. Andou
espreitando as portas das residências, vigiando janelas, quartos de
crianças, brincando entre os telhados e galopando nas ruas da cidade
como um louco viajante. Digo isso porquê os rastros iam e vinham. Ou
seja, o que quer que tenha andado em Devon naquela noite; andou em todas
as direções, em todos os sentidos numa velocidade até hoje
incalculável.
Não tardou
para a notícia se espalhar e o caos tomar conta da população. HAVIA UM
DEMÔNIO ANDANDO EM DEVON (e havia mesmo) e agora estavam todos em
perigo. Então, não tardou para guarda imperial entrar em ação para
defender o povo da rainha.
Muitas
famílias se trancavam em casa, poucos saíam durante a noite o caos
estava instalado na região dos condados de Exter no sul de Devon. Muitos
colocavam em suas casas amuletos "Sheelas" para se protegerem dos maus
espíritos que infernizavam a região e a polícia andava a todo vapor
tentando a todo custo destruir a criatura, e claro, caso não
conseguissem, poderiam ao menos apagar os boatos.
Sheelas |
Muitos
moradores afirmavam que aquilo era o fim do mundo e muitos temiam
principalmente por suas crianças, pois muitas das pegadas foram
encontradas frente as janelas dos quartos de crianças.
As pegadas não cessaram em uma só noite e muitas famílias acreditavam
que se elas aparecessem em seus quintais provavelmente alguém de sua
família iria morrer, ou talvez alguém ali havia feito algum pacto com o
demônio. Parece difícil de acreditar, mas houve alguns assassinatos na
época por esse motivo.
Então surgiram as aparições documentadas; vejam essas:
Foram muitos os avistamentos na região de uma criatura com grandes
chifres, rabo e patas de bode que corria numa velocidade incrível.
Na região de Dawlish um grupo de renomados cidadãos avistaram um
criatura demoníaca que corria e saltava gargalhando velozmente em todas
as direções e só não foram atacados pois se ajoelharam e oraram pedindo
proteção.
Lembram que eu falei da guarda? vejam o que aconteceu.
Três soldados em um vilarejo próximo a Devon juram ter perseguido a
cavalo uma criatura extremamente veloz e demoníaca que exalava a enxofre
e gargalhava infindamente. Os soldados juram ter disparados contra a
criatura, disseram que a chance de ter errado os disparos era quase
minima. E foi aí que a coisa ficou séria. A criatura, como se quisesse
demonstrar que não havia morrido, gargalhava nos ouvidos do soldados de
forma infernal, contudo não podia mais ser vista e os três homens
fugiram.
Após tanto rumor um conceituado reverendo da região chamado H. T.
Ellacombe resolveu analisar o caso (que achava ser somente uma
brincadeira de mal gosto) e resolveu realizar uma investigação minuciosa
sobre o caso. Essa investigação ficou conhecida como "A primeira
investigação paranormal criteriosa realizada pelo homem" e foi publicada
pela renomada revista Illustrated London News, no dia 3 de abril de
1855.
Ellacombe entrevistou muitas pessoas, recolheu depoimentos, colheu as
medidas das pegadas e fez até réplicas em gesso delas. Foi um trabalho
exaustivo que resultou em um processo com mais de 500 páginas e suas
últimas palavras ao entregar o relatório ao conselho da Diocese de Devon
foram.
Vamos ver o porquê. Essas são as principais análises do reverendo.
1- Se as pegadas foram deixadas por um animal terrestre qualquer
(incluindo aqui os pássaros), o elemento mais difícil de explicar é a
sua colocação fantástica: "O misterioso visitante passou de modo geral
apenas uma vez em cada local e o fez em quase todas as casas de
numerosas partes das diferentes cidades, assim como em fazendas
isoladas. Essa pista regular, percorre em certos casos áreas de difícil
acesso como os telhados das casas ou por sobre os palheiros, ou pelo
alto de muros muito altos (um com cerca de 4 metros e meio de altura),
sem deslocar a neve nem de um lado nem do outro e sem modificar as
distâncias entre as pegadas. Os jardins cercados de sebes altas ou de
muros e com portas fechadas foram visitados, assim como aqueles que não
tinha obstáculos nem eram fechados. Muitos donos dessas propriedades
juraram que haviam trancado portas que conduziam aos seus pátios
internos eque encontraram os mesmos devidamente trancados e sem sinal de
terem sido arrombados ou abertos.
2- O mesmo fato foi observado de um lado e de outro de um muro.
Dois outros habitantes seguiram uma linha de pegadas durante três horas e
meia, passando sob um bosque de groselheiras e de árvores frutíferas em
renques; perdendo em seguida o rastro e reencontrando-o sobre o teto de
casas nas quais sua busca havia começado.
3-As
pegadas atravessavam um estuário de quase 3 quilômetros de largura,
desaparecendo em uma margem e ressurgindo na margem oposta de forma
absolutamente visível, indicando que seja o que for que tenha deixado as
marcas entrou em um lado do estuário e ressurgiu do outro sem
interromper sua marcha. Não há dados que corroborem a informação de que o
estuário estaria congelado na ocasião o que possibilitaria a travessia.
De qualquer forma, as marcas deixadas nas margens pareciam indicar que a
criatura entrava nas águas gélidas até que ela apagasse suas trilhas.
4-
"De nada serve atribuir a mais de um animal estes rastros, porque isto
não explica como, qualquer que seja o animal e, qualquer que seja seu
número, seja ele capaz de escalar muros, andar sobre telhados e
obstáculos sem reconhecer impedimentos físicos; e, também, ter
capacidade de passar por pequenas vielas de 30 cm de largura. É
igualmente digno de nota que os rastros não pareciam voltar para trás e
nem circular aleatoriamente. Um animal, seja qual for, deveria
apresentar hesitação, vacilando em alguns pontos mesmo que fosse
conduzido. Ademais, ninguém entrevistado nos vilarejos declarou ter
visto alguém conduzindo um animal com cascos por esse caminho. A noite
em que os rastros surgiram foi quase congelante, marcada por neve
contínua.
5-
Muitas pessoas que se interessaram pelo caso propuseram como solução
para o mistério residia em algum fenômeno natural da atmosfera incidindo
sobre as marcas – que seriam rastros não tão fantásticos que, devido ao
clima, teriam mudado e ficado com aquela aparência. Mas como seria
possível que a atmosfera afetasse uma marca e não outras? Na manhã em
que os rastros foram observados, a neve apresentava pegadas frescas de
cães e gatos, coelhos, pássaros e homens, nitidamente definidas. Por que
então um rastro ainda mais nitidamente definido – tão nitidamente que a
fenda do meio de cada casco podia ser discernida – somente ele, teria
sido afetado pela atmosfera e todas as outras marcas deixadas não o
foram?
Você já experimentou olhar para sua janela. Talvez tenha alguém te observando. Pensou?
Fonte: Olhar Sombrio
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