O ditador Adolf Hitler, marcado na história pela execução de milhões de
judeus no século passado, pode ter escapado da invasão soviética a
Berlim em 1945 e forjado o próprio suicídio a fim de fugir para a
América do Sul, onde teria vivido e morrido com cerca de 95 anos na
pequena cidade de Nossa Senhora do Livramento, a 42 km de Cuiabá. Pelo
menos é o que defende o livro “Hitler no Brasil – Sua Vida e Sua Morte”,
dissertação de mestrado em jornalismo de Simoni Renée Guerreiro Dias,
que subverte a versão conhecida dos últimos dias do nazista. A
pesquisadora deve realizar um exame de DNA em Israel com um suposto
descendente do nazista.
Para quem acompanha de perto algumas conspirações a respeito da segunda
guerra mundial, conhece muito bem os muitos supostos indícios que
apontam para uma suposta fuga de Hitler, antes da invasão Soviética e o
assassinato de um sósia, simulando um suicídio, afim de ludibriar os
soviéticos. Geralmente essas teorias afirmam que o líder nazista teria
rumado para a Argentina depois da fuga, e que ele teria vivido o resto
dos seus dias por lá. Mas a presença de Josef Mengele no Brasil, poderia ser um indício de que os nazistas não estavam apenas interessado na Argentina como local de esconderijo.
Ainda em desenvolvimento, a dissertação segue a linha
de outras pesquisas que apontam rastros de nazistas na Argentina após a
Segunda Guerra, mas já recebeu críticas como a do professor de História
Política e Contemporânea da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT),
Cândido Moreira Rodrigues. Ele aponta falta de rigor científico no
trabalho e afirma que não faltam referências na historiografia segundo
as quais o ditador se suicidou ao ver-se encurralado pelos soviéticos em
1945.
A própria mestranda Simoni Dias, judia e residente em Cuiabá, conta que
demorou dois anos para acreditar nos primeiros relatos que ouviu sobre a
suposta passagem do Führer em território mato-grossense. “Eu zombava,
dava risada, dizia que era blefe”, relata. Hoje, porém, ela se diz
convicta e afirma que o austríaco não teria vindo parar em Mato Grosso
por acaso.
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Autora do livro defende que Hitler tinha interesses em Mato Grosso (Foto: Renê Dióz/G1) |
O polêmico livro
Graduada em Educação Artística, Simoni começou a pesquisar os últimos
anos de Hitler após ouvir boatos de que ele, assim como outros nazistas
de primeiro escalão, teria perambulado pela América do Sul após a guerra
que derrubou o Reich na Europa. Em "Hitler no Brasil", a autora
registrou a parte inicial da pesquisa e ligou as versões de passagem
pela América do Sul a outra história, a de que o Vaticano teria
oferecido ao ditador derrotado o direito de posse e o mapa para
localização de um tesouro jesuíta escondido desde o século XVIII em uma
caverna em Nobres, cidade turística a 151 km de Cuiabá.
Hitler, portanto, teria escapado da invasão soviética e, com ajuda de
Roma, viajou para a Argentina, para o Paraguai, para o Rio Grande do Sul
e, finalmente, para Mato Grosso, instalando-se numa cidade que tem hoje
com pouco mais de 11 mil habitantes.
Na região, teria buscado sem sucesso o tal tesouro prometido pela Igreja
e morreu na década de 80, tendo sido enterrado com outro nome.
'Alemão velho'
No livro, Simoni diz que se intrigou pela existência de um idoso
estrangeiro na cidade de Nossa Senhora do Livramento, na década de 80,
que utilizava como sobrenome a cidade onde o compositor Bach, admirado
pelo líder nazista, foi enterrado. Adolf Leipzig, conhecido pela
vizinhança por “Alemão Velho”, seria o próprio Führer disfarçado e virou
objeto de pesquisa de Simoni, que recolheu objetos, restos mortais e
relatos sobre ele.
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Foto obtida pela pesquisadora mostra o senhor Adolf Leipzig com a companheira em Livramento no ano de 1982, quando Hitler teria 93 anos de idade (Foto: Simoni Guerreiro Dias / Arquivo Pessoal) |
A pesquisadora obteve uma fotografia de 1982 de Adolf Leipzig com sua
companheira "Cutinga" e quase se convenceu por supostas semelhanças
fisionômicas com Hitler. Ela conta que manipulou a foto, adicionando um
bigode no rosto do sujeito, e a imagem alterada lhe teria convencido por
completo. Já a relação com uma mulher fora dos padrões da chamada "raça
ariana" seria mais um elemento de disfarce, supõe.
Supostas Evidências
Outra suposta evidência considerada pela pesquisadora é o registro de
uma internação para cirurgia na Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá no
dia 29 de novembro de 1979. O registro, porém, é para um paciente
chamado Adolfo Sopping, então com 81 anos de idade e natural do estado
do Rio Grande do Sul. Em fevereiro do ano seguinte a Santa Casa
registrou a entrada de Adolfo Lepping, de 82 anos e de mesma
naturalidade. Simoni defende que trata-se da mesma pessoa.
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Pesquisadora obteve roupas e material genético (Foto: Simoni Guerreiro Dias / Arquivo Pessoal) |
Para daí afirmar que se tratava de Hitler, a pesquisadora relata uma
outra suposta evidência: segundo uma fonte não identificada no livro,
uma freira polonesa do hospital teria reconhecido a figura de Hitler.
"Aqui esse homem não entra! Ele é sanguinário! Matou muita gente! Tire-o
daqui, por favor!", teria exclamado a religiosa. Um padre a teria
repreendido afirmando que aquele doente deveria ser atendido por ordens
do próprio Vaticano.
A publicação de Simoni traz ainda evidências de outras supostas relações
de Hitler com grupos de europeus que se fixaram em Mato Grosso, como
suíços, e explora a peculiaridade da arma e de vestimentas que
pertenceriam ao tal Adolf Leipzig, cujos restos mortais foram retirados
do cemitério em Livramento para a pesquisa de Simoni.
Ela pretende submeter parte dos restos mortais, como cabelo e fragmentos
de ossos, a exames genéticos com base em material colhido de um suposto
descendente de Hitler localizado, segundo Simoni, em Israel. Ela deve
viajar para o país ainda este ano para realizar o exame de DNA e depois
seguir para a Alemanha a fim de concluir o projeto de mestrado.
Crítica
Apesar de se tratar de um trabalho acadêmico, o professor Moreira
Rodrigues, da UFMT, afirma que não há qualquer evidência de que Hitler
tenha sobrevivido à invasão soviética a Berlim e deixado o território
alemão após a derrota dos nazistas. Ele também apontou falta de rigor
científico e não enxergou os devidos critérios de apuração
historiográfica na apuração de Simoni.
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Professor da UFMT critica critérios da pesquisa (Foto: Cândido Moreira Rodrigues/Arquivo Pessoal) |
"Não é novidade o fato de que muitos que se dizem historiadores venham a
levantar hipóteses as mais diversas sobre as possíveis estadias de
Hitler na América do Sul e a sua consequente morte num dos países desta
região do mundo", lembra o historiador, referindo-se a outras suposições
já divulgadas sobre passagens de Hitler no Cone Sul.
Segundo ele, a historiografia é farta de evidências de que Hitler e sua
companheira Eva Braun se suicidaram no bunker onde tentavam resistir aos
ataques soviéticos. Subordinados, os próprios nazistas podem ter sido
responsáveis pela incineração do corpo do líder antes que os soviéticos o
capturassem. Segundo Rodrigues, esta é uma das únicas lacunas que ainda
restam nesta história.
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Pesquisa contou com abertura do túmulo em Livramento; o local é indicado apenas por um toco de madeira (Foto: Simoni Guerreiro Dias / Arquivo Pessoal) |
Fonte: G1 Via: Noite Sinistra
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