agosto 2009 - ††† Universo Sobrenatural †††

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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O que é matéria escura?

22:01 0

É uma parte do Universo que os astrônomos sabem que existe, mas ainda não sabem exatamente o que seja. É matéria, porque se consegue medir sua existência por meio da força gravitacional que ela exerce. E é escura, porque não emite nenhuma luz. ssa segunda propriedade é justamente o que dificulta seu estudo. Todas as observações de corpos no espaço são feitas a partir da luz ou de outro tipo de radiação eletromagnética emitida ou refletida pelos astros. Como a matéria escura não faz nenhuma dessas coisas, é "invisível". Ainda assim, sabe-se que ela está lá. Na década de 1930, o astrônomo Fritz Zwicky, um húngaro radicado nos Estados Unidos, calculou a massa de algumas galáxias e percebeu que ela era 400 vezes maior do que sugeriam as estrelas observadas! A diferença está justamente na massa de matéria escura. E quanta diferença! Pelas contas do professor Fritz, você deve ter percebido que ela não é apenas um detalhe na composição do Universo, e, sim, seu principal ingrediente. Hoje em dia, calcula-se que el corresponda a mais ou menos 95% do Universo. É como se todas as galáxias que conhecemos atualmente fossem apenas alguns pedacinhos de chocolate encravados no grande bolo do Universo. Existem várias teorias sobre o que seria a tal massa escura. O mais provável é que ela seja feita de partículas subatômicas, menores que nêutrons, prótons e elétrons e ainda indetectáveis pelos atuais instrumentos de medição dos cientistas. Para terminar, vale um esclarecimento: apesar da semelhança no nome, matéria escura não tem nada a ver com buraco negro. "A massa escura é um componente do Universo, sem luz, enquanto o buraco negro é um objeto astrofísico com um campo gravitacional tão forte que não deixa nem mesmoa luz escapar", afirma o astrônomo Enos Picazzio, da Universidade de São Paulo (USP).


Fonte: mundoestranho
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Diferença entre os pólos magnéticos e geográficos da Terra

21:53 0
Os Pólos Norte e Sul geográficos são uma convenção humana, enquanto os pólos magnéticos são conseqüência de um fenômeno natural. Os pólos geográficos são os lugares onde o eixo de rotação da Terra corta a superfície do planeta. Já os pólos magnéticos são os pontos do planeta em que um ímã aponta para baixo, formando um ângulo de 90 graus com o chão. Isso acontece porque a Terra também é um ímã gigante, fato conhecido desde a Antiguidade - sabendo disso, os chineses inventaram a bússola, por volta do século 4. Quando esse conhecimento chegou à Europa, no século 13, impulsionou as grandes navegações e o mapeamento de todo o globo. A vida dos navegantes ficou mais fácil com a cartografia moderna, que criou o sistema de meridianos e paralelos, baseado no Pólo Norte geográfico. Até o início do século 19, acreditava-se que os pólos geográficos e magnéticos ficavam no mesmo lugar. Mas, em 1831, o explorador inglês James Clark Ross chegou pela primeira vez ao lugar do Ártico onde a bússola aponta para o chão - o norte magnético - e descobriu que os pontos não coincidiam. Naquela mesma época, na Dinamarca, o físico Hans Oersted fazia suas primeiras pesquisas sobre eletromagnetismo, ciência que anos mais tarde ajudaria a explicar esse fenômeno.


Fonte: mundoestranho
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Entenda O que é Fusão e Fissão Nuclear

21:46 0

FUSÃO

Fusão é o processo de colidir dois átomos propositalmente para formar um terceiro, mais pesado. A reação libera energia e, dependendo de quais forem os reagentes, um nêutron livre

CONDIÇÕES PARA OCORRER

Dois átomos não colidem naturalmente porque seus campos eletromagnéticos se repelem. Só pressão e temperatura altíssimas conseguem fazer com que elétrons se dispersem do núcleo, facilitando a colisão. Esse processo só ocorre naturalmente em estrelas, como o Sol

ENERGIA GERADA

6 g de hidrogênio, o elemento químico mais usado na fusão, geram 127 x 1023 MeV, o suficiente para abastecer uma casa com quatro pessoas por 156 dias HISTÓRICO A fusão começou a ser estudada na década de 1930, e, nos anos seguintes, as pesquisas tinham a intenção de criar armamentos militares, que só começaram a ser testados nos anos 1950. Na mesma década, a tecnologia começou a ser estudada para a produção de energia, o que continua até hoje

USOS

Atualmente, seu uso mais notável é na produção de bombas de hidrogênio, um tipo de bomba nuclear. No futuro, servirá, principalmente, para produzir energia de forma mais eficiente e limpa que a fissão

É LIMPA?

Sim. Na reação de fusão mais fácil de ser realizada, a do hidrogênio, dois isótopos (átomos com o mesmo elemento, mas número diferente de nêutrons) se unem para formar um atómo de hélio, gás inerte e não-radioativo.

FISSÃO

Fissão é o processo de forçar a divisão de um átomo para formar dois outros, mais leves. A reação também libera energia e um nêutron livre

CONDIÇÕES PARA OCORRER
A fissão ocorre na natureza a temperatura e pressão ambientes tais como as minas de urânio do Gabão, que funcionaram como um reator natural de fissão há 2 bilhões de anos. Há teorias de que a fusão também possa ser realizada a frio, mas elas ainda são consideradas especulação

ENERGIA GERADA
6 g de urânio, elemento mais usado na fissão, rendem 0,520 x1023 MeV, equivalente ao abastecimento de uma casa com quatro pessoas durante um dia

HISTÓRICO
Também começou a ser pesquisada na década de 1930 e depois passou a ser estudada para uso militar. Daí surgiram as atômicas de Hiroshima e Nagasaki. Em 1957, foi inaugurado o primeiro reator de fissão nuclear para gerar energia

USOS
Já é usada para a produção de energia, embora o lixo radioativo seja considerado um problema. Também é usada para a fabricação de bombas nucleares, como as da II Guerra Mundial e as atuais, de países como a Coréia do Norte

É LIMPA?
Não. Quando um átomo de urânio é dividido, ele pode gerar quaisquer dois elementos (desde que o peso dos dois somados seja igual ao do urânio). Isso inclui os altamente tóxicos e radioativos (como o bário), que não podem ser liberado no ambiente, exigindo armazenamento especial.


FABRIQUINHA DE ÁTOMOS
Para fundir átomos de hidrogênio tem que ter disposição e habilidade

Está em construção nos Estados Unidos o National Ignition Facility (NIF), aparelho que pretende fazer fusões nucleares. Para isso, dois pulsos de laser fracos, de um bilionésimo de joule, sao emitidos e passam por um sistema que aumenta a energia. Cada pulso é emitido no início de um dos dois corredores paralelos, onde os lasers são amplificados por lentes de vidro e divididos em 192 feixes. Os 192 feixes de laser chegam a uma enorme bola de 10 metros de diâmetro, feita com painéis de alumínio e fechada a vácuo para que a rota do laser não seja desviada. Juntos, eles aplicam o equivalente a 1,8 milhão de joules sobre a bola em alguns poucos bilionésimos de segundo, ou cerca de 500 trilhões de watts. Esta grande câmara redonda é revestida por 30 centímetros uma mistura de concreto com boro, elemento que absorve nêutrons que resultam da fusão. A ideia do experimento é reproduzir as fusões que ocorrem em estrelas, com temperatura e pressão altíssimas e que geram mais energia do que gastam. Um dos braços mecânicos segura, no centro da esfera, um pequeno cilindro de ouro que comporta uma bolinha de 0,15 grama, recheada com átomos de deutério e trítio, isótopos do hidrogênio, com diferente número de nêutrons, que são ótimos combustíveis para a fusão nuclear. Os lasers entram pelas extremidades do cilindro e atingem suas paredes, aumentando a temperatura, que chega a dezenas de milhões de graus Celsius. Ao mesmo tempo, o rebatimento dos lasers gera ondas de raios-X que comprimem a cápsula. Com tanta pressão e calor, os nêutrons e elétrons se afastam do núcleo dos isótopos, que se unem e formam átomos de hélio. Em apenas dez bilionésimos de segundo, o experimento deve gerar de dez a cem vezes a energia usada para ativar a máquina – ou seja, de 5 a 50 quatrilhões de watts. Se tudo der certo, pode ser a primeira vez que um processo de fusão gere mais energia do que gasta, o que pode ser, no futuro, uma fonte de energia para a humanidade

HAJA ENERGIA!
Entenda o quanto de energia o NIF vai precisar para funcionar

500 trilhões de Watts = 5 milhões de lâmpadas incandescentes de 100 W
= Mais de 3 500 vezes a capacidade diária de Itaipu
= 5,35 vezes mais do que o produzido por Itaipu em um ano de pico
= 2,63% de toda a energia produzida no mundo em 2008


Fonte: mundoestranho

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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Raul Seixas - Profeta? Messias? Bruxo? Ou simplesmente um personagem criado pela imaginação dos fãs?

16:14 0

O início

A chave para decifrar o enigma Raul Seixas mantém-se à margem do mercado, escondido numa pequena chácara na zona rural da cidade de Miguel Pereira, no Rio de Janeiro. Cláudio Roberto Azeredo conheceu Raul aos 11 anos, através de uma namorada, a escritora Heloísa Seixas. Compuseram a primeira música juntos em 1964, "I Don't Really Need You Anymore", só gravada 25 anos depois. Juntos, compuseram cerca de 30 canções e muitos sucessos, como "Aluga-se", "Cowboy Fora-da-Lei", "Quando Acabar o Maluco Sou Eu", "Coisas do Coração" e "Rock das Aranha", além de todo o LP O Dia em que a Terra Parou. "Raul era uma pessoa muito difícil", admite Cláudio, com a sinceridade a que só os amigos próximos têm direito.

Cláudio e Raul mantiveram contato distante até que, em 1968, Raul resolveu tentar a sorte de sua banda, Os Panteras, no Rio de Janeiro. A iniciativa foi frustrada. Raul voltou para Salvador, casou-se, abandonou a música por alguns meses e só fixou residência no Rio de Janeiro dois anos depois, quando arrumou emprego de produtor na CBS, onde trabalhou com artistas como Trio Ternura, Renato & Seus Blue Caps, Leno e Jerry Adriani. Foi expulso da gravadora em julho de 1971, depois de haver produzido, por baixo do pano, um disco absolutamente experimental, Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta: Sessão das Dez, influenciado por Frank Zappa.

RAUL ENCONTRA O ALQUIMISTA

Certo dia, Raul leu uma matéria sobre discos voadores na revista 2001, editada no Rio de Janeiro pelo mochileiro bicho-grilo Paulo Coelho. Raul convidou Paulo para um jantar em seu apartamento e mostrou algumas músicas que havia feito – bem diferentes das que costumava compor para os contratados da CBS - e propôs a Paulo que fizesse a letra para algumas delas. A partir de então, passaram a preparar alguns temas para o primeiro disco solo de Raul, Krig-Há-Bandolo, que seria lançado em julho de 1973.

No mesmo ano, Raul foi levado por Paulo a conhecer uma sociedade secreta de que o escritor fazia parte, conhecida como Argentum Astrum, AA. Era uma organização filosófica anti-religiosa e cheia de rituais, baseada nos ensinamentos do bruxo inglês Aleister Crowley (1875 - 1947).

Em sua época, Crowley foi marginalizado pela moral vitoriana, chegando a ser chamado de "o homem mais perverso do mundo". Autodenomidado a "Besta 666", seu trabalho consistia basicamente em revelar segredos de livros mágicos e propor, a partir desses segredos, uma nova ordem social (não é à toa que Crowley entrou na moda durante os revolucionários anos 60/70). Sua obra central chamava-se O Livro da Lei. Dizia basicamente que cada homem é seu próprio deus e, por isso, os fortes se sobrepunham aos fracos.O material que emergia da parceria de Paulo e Raul foi muito influenciado por Crowley. Algumas músicas chegam a copiar os textos do bruxo, como "Sociedade Alternativa" e "Liber Oz" (gravada 14 anos depois, com o nome de "A Lei"). Na verdade, todo o repertório do segundo disco de Raul seria colocado "a serviço daquela sociedade secreta", conforme revelou Paulo Coelho no livro Confissões de um Peregrino (editora Objetiva).

O compacto com a faixa "Gita" (cuja letra foi inspirada no Bhagavad-Gita , a mais popular das escrituras sagradas da Índia antiga) foi lançado em julho de 1974 e vendeu 600 mil cópias, dando a Raul seu primeiro disco de ouro. O LP foi lançado logo em seguida, também com grande sucesso. Conforme ia crescendo a popularidade da dupla, Raul e Paulo passaram a realmente acreditar na viabilidade da Sociedade Alternativa. Chegaram a divulgar a construção da Cidade das Estrelas, em Minas Gerais, que funcionaria como o quartel-general da seita. "Vivíamos no mais profundo negrume da ditadura", lembra Pena Schmidt. "Mas Raul propunha o oposto daquilo, numa saída individual, que era um tipo de discurso poderoso mas tolerado pelos manipuladores de informação da Censura". A partir de "Gita", Raul passou a ser visto pelos fãs como uma espécie de conselheiro, de guru. Mães começaram a trazer seus filhos doentes para que ele os curasse.

Rita Lee acredita que a imagem mística que Raul assumiu nesta época pouco tinha a ver com temor religioso. "Me parece que depois que Paulo Coelho entrou na vida de Raul como parceiro de trabalho e de aventuras no mundo da magia, Raul praticamente neutralizou sei jeito Presley de ser e mudou, feliz, para o papel de Profeta Apocalíptico. O fã radical de Elvis ingeriu uma overdose de misticismo e se transformou num guru". Cláudio Roberto acha que o que falou mais alto foi o business: "Era algo do tipo 'oba, isso dá fama e dinheiro, é nessa que eu vou', era show". Ele confessa que viu com desconfiança a aproximação de Raul e Paulo Coelho. "Raul abraçou toda a megalomania, todo o sonho de poder de Paulo, e isso fez muito mal a ele", acredita. "Esse dedo em riste na capa do Gita foi definitivo numa ferida já aberta, porque mostrava Raul assumindo uma coisa que ele sabia não ser ele, algo falso".

Em maio de 1974, a polícia apreendeu e incinerou a maioria dos 20 mil exemplares do gibi-manifesto A Fundação de Krig-Há (patrocinado pela Philips), considerado material subversivo. Raul e Paulo Coelho foram presos e torturados. Raul exilou-se nos Estados Unidos, apoiado pela família americana de sua esposa. Voltou logo depois, mas dali em diante as coisas já seriam diferente.

DEMÔNIOS E OUTROS BICHOS

Paulo Coelho abandonou a AA depois de ser surpreendido por uma personificação do demônio. Raul continuou por mais alguns meses. O relacionamento entre os dois já havia esfriado, assim como a fase de sucesso de Raul. Tentaram restabelecer a parceria três anos depois, alugando quatro suítes em um hotel em Campos do Jordão. Mas não se falavam, apenas trocavam anotações por baixo da porta. Depois de cinco dias trancado no quarto, Raul foi encontrado desmaiado, vítima de inanição.

Passados 25 anos, ainda pouco se sabe sobre a sociedade de que participaram - Paulo nem sequer pronuncia o nome dela. Raul nunca mais tocou no assunto, mas sabe-se que tanto ele quanto sua esposa na época, Gloria Vaquer, abandonaram os rituais após visões desesperadoras que misturavam demonismo e alucinação psicodélica.

O disco Novo Aeon, lançado em outubro de 1975, marcava nitidamente a transição pessoal do cantor. Nas entrevistas de divulgação do disco, Raul tentava dissociar-se da imagem de pregador, dizendo que a verdade estava em cada um e que tentar doutrinar seu público havia sido um erro. "Não sei se ele estava preparado para gerenciar seu próprio carisma", pondera Marcelo Nova. "Essa idolatria, essa coisa de 'Raul sabe-tudo', era perigoso. Nas entrelinhas das canções, ele tentava dizer que não sabia de nada: 'faça você', procure seu caminha', 'eu sou é raulseixista', mas nem todo mundo entendia". Cláudio Roberto, que estreara como parceiro em vinil justamente no disco Novo Aeon, tenta analisar a dubiedade do sucesso que, acredita, acabou por seduzir o amigo: "o sucesso é apenas o fenômeno de preencher uma lacuna do mercado na hora certa", sentencia. "O real talento de um artista só pode ser medido pela sua capacidade em não se deixar manipular pelo momento do sucesso. E Raul não teve essa capacidade".

Apesar de todos os esforços de Raul, a imagem patrocinada pela indústria do disco falou mais alto e, até hoje, muitos fãs buscam orientação espiritual na obra do cantor. Segundo Cláudio Roberto, quem mais precisava de conselhos era o próprio Raul. "Ele era extremamente ambíguo e indefeso, uma pessoa muito sensível", afirma. "Tinha um senso de humor agudo, mas ao mesmo tempo era muito sério e formal, e isso tornava tudo muito sensível", afirma. "Tinha um senso de humor agudo, mas ao mesmo tempo era muito sério e formal, e isso tornava tudo muito mais difícil para ele. Raul era uma criança, morreu dizendo que havia entrevistado John Lennon, até mesmo para mim, quando isso era mentira - ele era absolutamente autêntico dentro dessa falta de autenticidade, o que me faz amá-lo muito mais e absolvê-lo por isso".

Em 1977, Cláudio sobrevivia dando aulas de inglês e vendendo mocassins nas feiras hippies da cidade, quando Raul o convidou para, juntos, comporem seu primeiro disco na gravadora WEA. "Nos discos que lançou pela WEA ele buscou a absolvição pelos erros do passado", avalia Cláudio. "O sucesso fez muito mal a ele, ele bebeu o sucesso todo. Eu, que o conhecia desde antes da bebida, convivi com uma pessoa cerimoniosa, que nunca perdia a linha. Virávamos noites compondo em hotéis, eu de cueca, detonando, e ele de terno e gravata, absolutamente formal".

Cláudio e Raul passaram três meses trabalhando no novo repertório. O Dia em que a Terra Parou foi lançado com todas as regalias que um artista poderia querer. Curiosamente, diz Cláudio, foi a partir deste disco que teve início a decadência pessoal e artística de Raul. "Ele descobriu que poderia usufruir de uma maneira 'light' de compor, mesmo sendo verídica. Mas era preciso fazer uma reavaliação muito grande de valores - imagine, uma pessoa tão solapada por tantos vícios, não só químicos como mentais e posturas..."

Na opinião de Cláudio, o sucesso da faixa "Maluco Beleza" ("Enquanto você se esforça pra ser / um sujeito normal / e fazer tudo igual / eu do meu lado, aprendendo a ser louco / maluco total / na loucura real") teria muito a ver com esse preocesso. "Esta faixa foi, provavelmente, o primeiro hit dele que não era um chiste, uma provocação. Ao contrário, é uma música autêntica, melancólica - é a história de um cara assumindo que não tem controle sobre sua loucura, é foda isso. Mas quando você constrói uma vida em cima de determinados vícios de postura, aí, malandro, é muito difícil. Mas Raul teve a chance de mudar isso, e não quis. Talvez por haver passado tanto tempo sendo um mistificador, ele tenha subestimado a força da autenticidade e superestimado a sua capacidade de manipulação. Mas o tempo julga pela verdade, pela causa e efeito do que você faz, não pelo sentimento do fã, que age apenas pela emoção". Depois desse disco, acredita Cláudio, Raul ficou "artisticamente em cima do muro".

"RAUL JÁ NÃO ERA ELE MESMO"

Os dois amigos, no entanto, continuaram compondo até a morte do cantor. Chegaram a planejar um novo LP em 1978, mas brigaram depois que Cláudio o acusou de haver registrado uma música da dupla em nome de Oscar Rasmussem - a faixa seria "Por Quem os Sinos Dobram".

Cláudio só voltou a ver Raul no início dos anos 80, mas encontrou outra pessoa. "Ele já havia se entregado, o corpo estava cansado de tanta luta inglória - 'é preciso sobreviver, é com isso que eu vou', sabe? O problema dele era lutar até alcançar, depois a motivação desaparece - 'eu me pergunto e daí, foi tão fácil conseguir' (da letra 'Ouro de Tolo'), isso é o resumo de sua vida", acredita. "Vi um show, em 1980, em que Raul enfrentou uma platéia absolutamente gelada, que estava lá para colocar a última pá de cal sobre seu cadáver insepulto. Até o meio da segunda música, ele tocou completamente ensandecido, numa performance que eu nunca havia visto. A audiência não resistiu e foi ao delírio - foi o que bastou para Raul começar a esquecer a letra, tropeçar e fazer uma merda de show. A impressão era a de que ele não suportava conseguir, conquistar".

Mas já era tarde, Raul Seixas já havia conseguido e conquistado. Isso consumiu sua vida, é verdade, mas seu trabalho atravessa as décadas como a voz oficial de uma raça que nunca se extingue: a dos malucos. Mesmo que fosse uma "criança" curiosa, como define "Cláudio Roberto, e não o filósofo onipotente, como o próprio Raul acreditou ser nos tempos de "Gita". A perenidade de seu trabalho foi posta à prova e será mais uma vez nestes dez anos de sua morte: a WEA planeja relançar seu disco Por Quem os Sinos Dobram em CD, incluindo letras, notas biográficas e o encarte original. Depois de tudo, só nos resta a música de Raul para ouvir. E já esta de bom tamanho. O Meio

Os anos 80 foram cruéis para Raul. "Naquela época, ele não atendia telefones nem respondia a qualquer tentativa de aproximação", lembra Rita Lee. "Ele se cercou de vampiros que lhe sugaram até a última gota de sangue." Ao mesmo tempo, Raul era considerado persona non grata por produtores de shows, de eventos e por gente de gravadora. "Havia muitas ramificações ao redor dele, gente que tentava armar show com banda que Raul desconhecia, gente que vendia shows no interior em nome dele sem que ele soubesse, gente que tomava adiantamento de apresentações que ele nunca marcou", diz Marcelo. "Lembro que, certa vez, a secretária de Raul me ligou em casa, dizendo que havia um cara na casa dele, ameaçando-o de morte porque ele não queria fazer uma temporada de banquinho e violão no Amazonas e em Belém do Pará."

CARATECAS, DROGAS E TIROS

Na verdade, o inferno astral de Raul começou ainda no final dos anos 70, quando lançou um disco sem repercussão chamado Por Quem os Sinos Dobram, escrito ao lado de um novo parceiro, Oscar Rasmussen, com quem dividia o apartamento na época. Raul costumava agregar a seu redor os tipos mais estranhos e sombrios, numa versão tropical da "máfia de Memphis" que acompanhava Elvis Presley. Em 1979, ele teve a inacreditável idéia de contratar uma equipe de caratecas argentinos como seguranças. Tanto ele e Oscar quanto os seguranças varavam as noites em festas regadas a álcool e drogas das mais variadas. Numa transação obscura entre os caratecas e traficantes, o faixa preta Hugo Amorrotu foi assassinado a tiros, dentro do apartamento de Raul, num evento que demonstra o grau de descontrole que sua vida havia tomado. O corpo de Raul sentiu as pancadas do destino: o cantor foi internado, retirou metade do pâncreas no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e passou alguns meses hospedado na casa dos pais na Bahia. No ano seguinte, voltou à gravadora CBS (atual Sony Music), onde trabalhara como produtor nos anos 60. O disco que gravava, Abre-te Sésamo, foi, verdadeiramente, o último espasmo do cantor implacável e rebelde dos anos 70. O repertório, inspirado, era sua grande aposta.

PRINCESA DIANA, NÃO!

No entanto, Abre-te Sésamo foi, do início ao fim, um disco marcado por problemas e coincidências infelizes. Primeiramente por conta da Censura, que implicou com a balada "Baby" e o verso "por que esconder o vermelho/ do sangue tingido o lençol?", que virou "a mancha do batom vermelho/ por que esconder no lençol?". Depois, novamente censurado por conta da faixa "Rock das Aranha" (composta como piada e gravada como molecagem). Logo depois da gravação, a diretoria da CBS mudou e o disco foi mal divulgado e pessimamente distribuído. Aparentemente, a gravadora de Roberto Carlos e Amelinha não estava gostando muito da idéia de ter um encrenqueiro do calibre de Raul Seixas em seu cast. Aproveitando a relação desgastada, a gravadora propôs ao cantor que compusesse algo tendo o casamento da princesa Diana e príncipe Charles como tema. Raul respondeu com o pedido de rescisão de contrato.

Sem trabalho, Raul passou a divulgar planos mirabolantes, como filmar em Hollywood, candidatar-se a deputado federal e lançar um livro infantil. Pretendia prensar um disco pirata, chamado The Pirate Record (sic), com gravações raras de sua antiga banda Os Panteras, feitas nos anos 60. O assassinato de John Lennon tornou o cantor, normalmente avesso aos shows, ainda mais recluso. Um show na cidade de Caieiras, em São Paulo, foi desastroso: Raul foi confundido com um impostor e por pouco não foi linchado pelo público. Acabou levado à delegacia, onde foi esbofeteado e encarcerado.

Eventos assim só desgastavam sua imagem e o empurravam ainda mais para o alcoolismo. Seu vício foi progredindo de maneira proporcional à sua falta de atividade profissional. Sua esposa na época, Kika Seixas, passou a utilizar de seus contatos como assessora de imprensa para tentar reerguer a carreira do cantor. Depois de dois anos de tentativas, finalmente uma boa notícia: Raul foi chamado por Augusto César Vanucci para estrelar um especial infantil da TV Globo chamado Plunct Plact Zum, interpretando o personagem Carimbador Maluco. Animado, ele compôs um tema infantil, inspirado pela filha Vivian, de 2 anos. O sucesso da inocente canção rendeu seu segundo disco de ouro. Os fãs buscaram nos versos da canção alusões ao anarquismo, mas a música tratava mesmo de um personagem infantil - tanto que, em dezembro, Raul, vestido de Carimbador Maluco, cantou no estádio do Maracanã, na festa de chegada do Papai Noel, ao lado da Turma do Balão Mágico, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.

O cansaço físico e profissional falou mais alto que a boa fase "família" do cantor. Raul voltou a beber, e muito. Kika deixou-o em 1984. "Minha filha já estava crescendo e o pai dela bebendo o tempo todo", lembra. "Nos últimos anos Raul não tomava mais banho, estava sempre deprimido, não comia mais alimentos sólidos, se urinava sempre. Mas nunca perdeu a força de vontade, sempre de bom humor, fazendo planos para o futuro". Wanderléa, que conheceu Raul nos anos 60 e chegou a dividir com ele os vocais da faixa "Eu Quero Mais" (do LP Raul Seixas, de 1983), lembra que Raul passava os dias sozinho, trancado em seu apartamento: "De meias, chinelos, às vezes de luvas, assistindo a horas e horas de vídeos de seus heróis de adolescência, Jerry Lee Lewis, Little Richard, Elvis Presley". O mesmo cantor que bradava contra a nostalgia em 1975 transformava-se em um personagem saudoso e reacionário. "A partir de determinado momento, aqueles vídeos passaram a ser a única relação dele com o ambiente que amava, que um dia o motivara a cantar", lembra.

Do início ao fim, a década de 80 viu Raul entregando-se a seus excessos, deixando-se devorar pelo monstro que se formava ao redor de seu nome. Desistindo de viver. "Ele perdeu o interesse pela carreira", analisa Marcelo Nova. "O que o desmotivou, eu não sei. Ele era muito popular, e isso implica muita solidão, porque todo mundo te conhece, mas você não conhece ninguém", cogita. "Ele era muito simples e as pessoas abusavam um pouco disso. Mas o que o teria desanimado dessa forma ainda é uma incógnita". O Fim

Raul dos Santos Seixas morreu aos 49 anos, de parada cardíaca. Já vivia havia nove anos sem dois terços do pâncreas. Diabético, driblava como podia as injeções de insulina ("Odeio injeção, por isso nunca fui junkie", dizia), mas não dispensava chocolate. Alcoólatra, seu café da manhã consistia de um copo de vodca com suco de laranja no bar mais próximo de casa, seguido de doses paulatinas de éter ao longo do dia. Separado de sua quinta esposa, Lena Coutinho, desde 1988 morava sozinho num pequeno flat alugado no Centro de São Paulo. Num destes cavalos-de-pau que o destino dá, um homem que odiava apresentar-se ao vivo e digladiava-se com gravadoras morreu descansando de uma maratona de 50 shows realizados ao lado do fã e último parceiro, Marcelo Nova. Naquela mesma semana, chegaria às lojas A Panela do Diabo, disco da dupla lançado pela multinacional WEA. E mais shows estavam programados até dezembro, quando a turnê seria encerrada com uma festa no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

"Muita gente dizia que esta turnê não daria em nada: 'ah, o porralouca do Marcelo e o cachaceiro do Raul', mas Raul excursionou, fez 50 shows e não faltou em nenhum, mesmo quando estava com crise de diabetes", lembra Marcelo. "Por que, eu não sei. Raul só fazia o que queria e não havia ninguém no mundo para convencê-lo do contrário."

TOCA, RAUL!

Amigos desde 1984, a relação entre Raul e Marcelo Nova (ex-membro do grupo de rock baiano Camisa de Vênus) cresceu inicialmente movida pela paixão comum pelo blues e o rock dos anos 50. A parceria musical surgiu quatro anos depois, quando Marcelo decidiu visitar o amigo e deu-se conta do estágio terminal de sua vida e sua carreira. "Na verdade, não havia mais carreira. Ele estava parado há quatro anos, longe de seu público. Um dia cheguei em sua casa e ele estava sem um dente, abatido, bêbado, pesando 55 quilos. Alguma coisa precisava ser feita, não dava para assistir aquilo de braços cruzados. Levei Raul ao médico da minha família, que o examinou do cabelo à unha do pé e me disse que a única coisa a receitar era trabalho, já que ele se recusava a parar de beber", lembra.

"O esforço do indivíduo Raul Seixas em estar presente naquela turnê sempre foi subestimado", acredita Marcelo. "Já li muito sobre o 'andar trôpego e cambaleante' de Raul, mas, independentemente disso, ele pegava o microfone e, bem ou mal, com energia ou sem, subia no palco e cantava. Quem sabia dos problemas pessoais e físicos que ele enfrentava, sabe que se tratava de um esforço quase heróico".

Durante as gravações de A Panela do Diabo, o esforço de Raul atingiu seu ponto mais alto de emoção e simbolismo, como bem lembra o produtor Pena Schimidt: "O ritmo das gravações obedecia ao ritmo de Raul. Gravávamos uma estrofe de manhã, parávamos à tarde, retornávamos no dia seguinte e assim foi durante o tempo todo". Este ritmo seria seguido até o momento de gravar o número solo de Raul no LP, uma faixa chamada "Nuit", que ele havia composto em 1981 e, inexplicavelmente, mantinha inédita. Pena lembra que, neste dia, ele se viu diante do velho Raul Seixas hipnótico e poderoso que conhecera no Festival de Saquarema, em 1975. "Ele pediu para que todas as luzes fossem desligadas e exigiu gravar os vocais numa tacada só, sem retoques", lembra. "E assim foi, apesar de Raul Ter perdido a voz nos últimos versos. Quando as luzes se acenderam, todos no estúdio estavam com os olhos rasos d'água, porque entendiam que aquela letra era um bilhete de despedida". Versos como "quão longa é a noite/ a noite eterna do tempo/ se comparada ao curto sonho da vida" não deixam dúvidas - e os motivos que levaram a canção a permanecer reservada por tanto tempo foram finalmente esclarecidos.

ON THE ROAD

E mesmo na estrada, nos quase 12 meses de duração da turnê, a dupla manteve-se constantemente nos limites do imaginário rock'n'roll. Marcelo, num misto de sensibilidade histórica, ingenuidade adolescente e filantropia rocker; Raul, agarrando-se no fio de possibilidade que ainda lhe restava para provar, para si próprio, que a velha metamorfose ambulante poderia gingar feito Elvis. "Acredito que a turnê tenha dado motivação para o homem, não para o artista, que este não precisava", conta Marcelo. "Havia uma parte do meu coração querendo devolver um pouco de inspiração que ele havia me dado quando eu queria montar um grupo de rock na Bahia, aos 16 anos. Todos estavam muito motivados: no camarim, a banda era capaz de parar de beber para que Raul não visse que havia uísque, e ir lá conversar com ele, animá-lo, distraí-lo. Muitas vezes tivemos que tirar neguinho do quarto do Raul na porrada, porque os caras entravam lá no hotel com sacos enormes de cocaína, como presente para ele". No final, eram 18 pessoas trabalhando para que Raul Seixas "fosse aplaudido, como foi", depois de anos e anos à margem da cultura pop brasileira. A Morte

O escritor Paulo Coelho fazia sua segunda peregrinação depois da conversão ao cristianismo, o Caminho de Roma, também conhecido como Caminho Feminino. Era manhã de segunda-feira, 21 de agosto de 1989, quando Paulo interrompeu sua caminhada em um pequeno vilarejo perdido na cadeia montanhosa dos Pirineus, na França, e ligou para a esposa, Cristina Oiticica, no Rio de Janeiro. Com apenas três moedas no bolso, precisava falar rápido. "Olha, Paulo, não sei se devo te estragar o dia com notícias ruins", dizia a mulher do outro lado da linha, depois das necessárias saudações e troca de carinhos. "Pode falar, mas fala logo que a ligação vai cair", ele pediu com urgência. Cristina disse: "O Raul morreu". E a ligação caiu.

ALEGRIA NA MORTE

Paulo já havia escrito dois de seus grandes sucessos, Diário de um Mago e O Alquimista, mas muito de sua fama ainda se devia aos primeiros anos da década de 70, quando, ao lado de Raul Seixas, escreveu 65 canções, entre elas alguns dos maiores clássicos da música pop brasileira, como "Sociedade Alternativa", "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás" e "Medo da Chuva". "Quando a linha caiu, fiquei sem saber por que meu parceiro havia morrido, sem saber em que circunstâncias - só poderia ligar de volta à noitinha - mas senti uma profunda alegria, uma sensação muito positiva, como se Raul estivesse bastante feliz por haver morrido."

Durante o sono, às 5 horas da manhã daquela segunda-feira, Raul encerrava a luta que travava consigo mesmo havia mais de dez anos. Preso no emaranhado de mitos e lendas que ele próprio havia criado, o cantor passou toda a década de 80 deixando-se consumir pelo cansaço da batalha. Ao morrer, terminava uma história secreta, muito mais melancólica do que a que fora registrada em suas canções. Magia e rock'n'roll e carisma e insegurança e fanatismo e fraquezas alimentaram a trajetória mais estranha que o Brasil já presenciou - e que jamais procurou entender.

O DIA EM QUE A TERRA PAROU
CHORO E HISTERIA COLETIVA NO VELÓRIO DE RAUL. SUMIRAM ATÉ COM A LÁPIDE.

O descontrole emocional da multidão, que Raul tanto temia em vida, viu-se multiplicado em muito no dia de sua morte. Como forma de homenagear o cantor, a gravadora WEA reservou o salão nobre do Palácio das Convenções do Anhembi para a despedida do público. Às dez horas daquele 21 de agosro, milhares de fãs tomaram os espaços do local gritando em uníssono: "Raul não morreu!" enquanto outros, de violão em punho, lembravam sucessos do cantor. Um fã mais ousado tentou beijar o rosto do músico, perdeu o equilíbrio e acabou quebrando o vidro do caixão.

As celebridades não apareceram, com exceção de Kiko Zambianchi, Marcelo Nova, do Maestro Miguel Cidras e Kid Vinil. Neste dia, Raul era do povo. Quando os bombeiros chegaram para levar o caixão para o aeroporto, a confusão começou. Alguns garotos se penduraram nas alças, outros jogavam bilhetes sobre o ataúde. Todos gritavam "Raul! Raul!". Na tentativa de chegar mais perto do ídolo, fãs quebraram os vidros do aeroporto de Congonhas.

Já na Bahia, além da família, apenas dois fãs aguardavam o avião - e um deles declarou que esperava ver o cantor levantar-se do esquife e pregar mais uma peça no "sistema". Multidão mesmo estava reunida no Cemitério Jardim da Saudade, esperando pela visitação pública ao caixão, que ficou na capela. Três horas depois, a missa de copo presente exigia que a capela fosse fechada, o que deu início a um tumulto e a nova tentativa de invasão.

Um ano depois do enterro, um fã de 21 anos, com o rosto de Raul tatuado no braço, roubou a lápide do cantor para transformá-la em item maior do "santuário" que montava em casa, ao lado de discos, cartazes, recortes e fotos. Uma nova tentativa de furto ocorreria dois anos depois. A direção do cemitério, cansada dos furtos, finalmente decidiu pregar a lápide com concreto. Hoje Raul descança em paz. (R.A.)

Matéria publicada pela revista Trip, nº 71, (agosto 1998)


Fonte: acasadobruxo

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Samhain - A Morte do Deus

16:06 0

31 de outubro no hemisfério Norte
&
1º de maio no hemisfério Sul

Samhain (pronuncia-se Sou-ein), festejado em 31 de outubro no hemisfério Norte e em 1º de maio no hemisfério Sul, é o Ano-Novo dos Bruxos. Esse dia sagrado é conhecido por inúmeros nomes. Para muitos, talvez, o mais conhecido seja Halloween. Para nós, Bruxos, é a festa na qual honramos nossos ancestrais e aqueles que já tenham partido para o País de Verão.

Essa é a noite em que o véu que separa o mundo material do mundo espiritual encontra-se mais fino e o contato com nossos ancestrais torna-se mais fácil. É também o momento tradicional para celebrar a última das colheitas e se preparar para o Verão.

O poder de magia pode ser sentido no ar, nessa noite. O Outro Mundo se coaduna com o nosso conforme a luz do Sol baixa e o crepúsculo chega. Os espíritos daqueles que já partiram para o outro plano são mais acessíveis durante a noite de Samhain.

Samhain ocorre no pico do Outono. É o tempo do ano em que o frio cresce e a morte vaga pela Terra. O Sol está enfraquecendo cada vez mais rapidamente, a sombra cresce e as folhas das árvores estão caindo, numa preparação ao Inverno que chegará. Essa é a última colheita, o tempo em que os antigos povos da Europa sacrificavam seus gados e preservavam sua carne para o Inverno, pois esses animais não podiam sobreviver em grande escala nesse período do ano devido ao frio vindouro. Só uma pequena parte, os mais viris e fortes, era mantida para o ano seguinte.

Samhain é a noite em que o Velho Rei morre e a Deusa Anciã lamenta sua ausência nas próximas seis semanas. O Sol está em seu ponto mais baixo no horizonte, de acordo com as medições feitas através das antigas pedras da Britânia e da Irlanda, razão pela qual os Celtas escolheram esse Sabbat, em vez de Yule, para representar o Ano-Novo. Para os Antigos Celtas, esse dia sagrado dividida o ano em duas estações, Inverno e Verão. Samhain era o dia no qual começavam o Ano-Novo celta e o Inverno, por isso era um tempo ideal para términos e começos.

É o dia ideal para honrar os mortos, pois nele os véus que separam os mundos estão mais finos. Aqueles que morreram no ano passado e aqueles que estão reencarnando passam através dos véus e portais nesse dia. Os Portões das Sidhe estão abertos e nem humanos nem fadas precisam de senhas para entrar e sair.

Em Samhain, o Deus finalmente morre, mas sua alma vive na criança não-nascida, a centelha de vida no ventre da Deusa. Isto simboliza a morte das plantas e a hibernação dos animais, o Deus torna-se então o Senhor da Morte e das Sombras.

Samhain é um festival do fogo e é a entrada para a parte sombria e fria da Roda do Ano. É em Samhain que as fogueiras são acesas para que os espíritos do outro mundo possam encontrar os caminhos para partirem ao Outro Mundo (País de Verão).

Samhain é o tempo de lembrarmos com amor aqueles que partiram para o outro lado, por isso é chamado de a Festa Ancestral. Toda a família, ou grupo, se reúne para reverenciar os que já partiram. É muito comum nesse Sabbat se realizar uma ceia em silêncio, conectando-se com aqueles que já cruzaram os portais dos mundos. É tradicional também deixar um lugar à mesa para os ancestrais e lhes servir pratos como se eles estivessem presentes à ceia.

Para aqueles que não têm família para festejar e celebrar seus ancestrais, alimentos geralmente são deixados do lado de fora de casa, na porta de entrada, em homenagem aos familiares e amigos desencarnados.

É também tradicional deixar uma vela acesa na janela da casa para ajudar a guiar os espíritos ao longo de sua caminhada ao nosso mundo para que possam encontrar o caminho de volta.

De acordo com os antigos celtas, havia apenas duas divisões do ano que iam de Beltane a Samhain (Verão) e de Samhain a Beltane (Inverno).

Samhain é um dos quatro grandes Sabbats e muitas vezes é considerado o Grande Sabbat.

Por ser o maior de todos e o mais importante também, todos os Pagãos consideram Samhain como a noite mais mágica do ano. Muitas práticas adivinhatórias foram associadas a Samhain, as mais comuns eram aquelas que prenunciavam casamentos e fortunas para o próximo ano que estava se iniciando.

Uma das tradições mais comuns praticadas pelos povos antigos era a de colocar várias maçãs em um grande barril de água. Várias mulheres se reuniam em volta do barril, e a primeira que conseguisse pegar uma das maçãs seria a primeira a casar no próximo ano.

Na Escócia, colocavam-se pedras entre as cinzas da lareira, deixando-as "descansar" durante a noite. Se alguma pedra fosse descoberta durante a noite, representaria a morte iminente durante o próximo ano de um dos moradores da residência.

Sem sombra de dúvida a prática mais famosa do Samhain é o Jack O'Lantern (máscaras de abóboras), que sobrevive até hoje nas modernas celebrações do Halloween. Vários historiadores atribuem suas origens aos escoceses, enquanto outros lhe conferem origem irlandesa. As máscaras eram utilizadas por pessoas que precisavam sair durante a noite de Samhain. As sombras provocadas pela face esculpida n abóbora tinham a virtude de afastar os maus espíritos e todos os seres do outro mundo que vinham para perturbar. Máscaras de abóboras também eram colocadas nos batentes das janelas e em frente à porta de entrada para proteger toda a casa.

O costume norte-americano de vestir-se com trajes típicos e sair pelas casas dizendo Trick or treating, nas noites de Halloween, é de origem céltica. Nos tempos antigos, o costume não era relegado às crianças, mas sim aos adultos. Em tempos ancestrais, os vagantes iam cantando cânticos da época de casa em casa e eram presenteados com agrados pelo seus habitantes. O Treat (presente) também era requerido pelos espíritos ancestrais nessa noite através de oferendas.

O Deus neste período é identificado com os animais que eram sacrificados para continuidade da vida.

Samhain é um tempo para a reflexão, no qual olhamos para o ano mágico que passou e estabelecemos as metas para nossa vida no ano que entra.

Correspondência de Samhain

Cores: preto e laranja

Nomes Alternativos: Festa de Todos os Santos, All Hallows, Mischief Night, Hallowmas, Noite de Saman, Samaine, Halloween, All Hallows Eve.

Deuses: Deuses Anciãos, a Deusa na sua face da Anciã, o Deus como o Senhor das Sombras.

Ervas: nós-moscada, sálvia, menta, mirra, patchuli, artemísia, alecrim, musgo, calêndula, louro, mandrágora.

Pedras: obsidiana, floco de neve, ônix, cornalina, turmalina negra, âmbar, granada, hematita.

Atividades:

Tomar resoluções para serem colocadas em prática no próximo ano que se inicia.
Queima de pedidos.
Confeccionar um Jack O'Lantern.
Fazer oferendas de maçãs e pães no jardim dos ancestrais.
Adivinhação através do Tarô, das Runas, da bola de cristal, da vidência em espelho negro e caldeirões com água.
Fazer máscaras que expressem a sua sombra.
Confeccionar vassouras.
Confeccionar um Bastão Mágico.
Confeccionar uma Witch's Cord (Corda de Bruxa) para proteção durante o decorrer do ano.
Acender uma vela laranja à meia-noite para atrair sorte no ano que se inicia.
Erigir um Altar com a foto de seus ancestrais amados e colocar oferendas sobre ele, demonstrando seu agradecimento e reconhecimento pelos feitos deles na Terra.
Comidas e Bebidas Sagradas: maçã, romã, nozes, cidra, vinho quente, abóbora, chá de ervas, batata.

Queima de Pedidos

A Queima de pedidos é um dos rituais tradicionais de Samhain. Nele banimos tudo o que tivemos de negativo e pedimos o que queremos atrair de positivo para o ano mágico que se inicia.

Para isso você vai precisar de:

Dois pedaços de papel em branco;
Um lápis;
Álcool de cereais;
Folhas de louro;

Seu Caldeirão.

Num dos papéis escreva tudo aquilo que você quer afastar de sua vida: obstáculos, doenças, pessoas indesejadas, dificuldades, etc.

No outro escreva tudo aquilo que você quer atrair para a sua vida: saúde, prosperidade, amor, sucesso, etc.

Seja bem específico em seus pedidos e não se esqueça de no final assinar e colocar a seguinte frase: Que tudo isso seja correto e para o bem de todos.

Coloque um pouco de álcool no seu Caldeirão, acenda-o e jogue o primeiro papel, aquele que contém as coisas que você quer afastar, no fogo. Enquanto o papel queima, mentalize o mal sendo afastado. Peça à Deusa e ao Deus que todas as forças negativas sejam anuladas e que o mal seja banido.

Espere o fogo acabar, então coloque um pouco mais de álcool no Caldeirão, tomando o devido cuidado, pois o álcool quando colocado em um recipiente quente evapora e pode entrar em combustão espontaneamente. Jogue então o segundo papel, aquele que contém as coisas que você quer atrair para a sua vida, no fogo. Coloque as folhas de louro nas chamas, sempre mentalizando as boas coisas que você quer atrair para a sua vida.
Quando o fogo acabar, concentre-se na fumaça, provocada pelas folhas, subindo os céus, e peça que seus pedidos se elevem ao mundo dos Deuses.

Confeccionando um Jack O'Lantern

A confecção do Jack O'Lantern é uma atividade tradicional desse Sabbat. Eles enfeitam toda a nossa casa no decorrer do dia, além de servirem de ornamentação indispensável para a cerimônia de Sabbat.
Coloque um Jack do lado de fora de sua casa na noite de Samhain para afastar o s maus espíritos e visitas indesejadas de outros planos.
Para confeccionar um Jack você vai precisar de:

· Uma abóbora ou moranga;
· Uma faca;
· Uma vela branca;
· Um óleo essencial de patchuli.

Faça uma tampa na parte superior da abóbora, retire suas sementes e com a faca entalhe uma face na abóbora da forma que você achar melhor. Unja a vela branca com a essência de patchuli e coloque-a dentro da abóbora. Acenda a vela dizendo:

Com esta vela, por esta luz e pela brisa que vem do além
Eu dou as boas-vindas aos espíritos nesta noite de Samhain.

Trançando uma Corda de Bruxa

Trançar uma Corda de Bruxa (Witch's Cord) é um ato tradicional na noite do Samhain. Elas simbolizam o cordão que liga todos nós ao Outro Mundo, além de serem uma representação simbólica do cordão umbilical que traz todos à vida terrestre.

A Corda de Bruxa é confeccionada utilizando cores apropriadas que simbolizem aquilo que você quer atrair para sua vida no ano mágico que se inicia. Por isso escolher a cor correta para confeccionar sua Corda de Bruxa é essencial:

Branco: Para harmonia.
Vermelho: Para afastar os inimigos, vencer os obstáculos, atrair garra e coragem.
Laranja: Para sucesso e prosperidade.
Rosa: Para atrair amor.
Preto: Para proteção e afastar o azar.
Verde: Para abundância.
Amarelo: Para atrair saúde e ter sorte no comércio.

Caso sua necessidade seja maior do que apenas uma cor pode lhe oferecer, você poderá escolher até três cores diferentes que representem os seus desejos para o próximo ano.
Pegue três barbantes na cor ou cores escolhidas e corte-os na medida de sua altura. Então comece a trançar os barbantes, sempre mentalizando aquilo que você quer atrair para a sua vida, pedindo que a Deusa e que o Deus lhe auxiliem e abençoem a corda que você está trançando.

Quando tiver terminado, costure ou cole alguns símbolos no decorrer da corda que representem o seu objetivo. Por exemplo: corações para amor; moedas para prosperidade, etc.

Coloque a sua Corda sobre o seu Altar durante a celebração do Sabbat e consagre-a durante a cerimônia.

Pendure a sua Corda de Bruxa em um lugar de sua casa e, sempre que visualizá-la, lembre-se dos objetivos que o motivaram a confeccioná-la. Assim sua vontade será ativada.

O Ritual de Samhain

Material necessário:
· Caldeirão;
· Uma vela preta;
· Uma vela laranja;
· Uma maçã;
· Um pão feito por você;
· Uma romã;
· Dois pedaços de papel em branco;
· Lápis;
· Alecrim;
· Uma colher de pau;
· Álcool de cereais;
· O Cálice com vinho.

Procedimento: Coloque o Caldeirão sobre o Altar e disponha a vela laranja do lado direito e a vela preta do lado esquerdo. Coloque a maçã perto da vela laranja e a romã perto da vela preta. Trace o Círculo Mágico e então diga:

Neste dia sagrado, no qual o véu que separa os mundos se encontra mais fino, somos visitados por nossos ancestrais.
Que a Deusa Anciã e o Senhor das Sombras possam abençoar todos os amados que viverem partilhar deste Rito de Sabbat.

Acenda as velas, dizendo:

Sagrados Ancestrais, venham a mim.
Nesta noite eu canto a magia e realizo este ritual em homenagem àqueles que partiram ao País de Verão.
Que este Rito seja agradável aos olhos daqueles que já se foram.
Abençoados sejam todos eles.

Eleve o Caldeirão, dizendo:

Este é o ventre da Mãe, o Caldeirão dos fins e recomeços.

Coloque-o novamente no lugar e pegue um pedaço de papel. Nele escreva tudo o que você quer afastar de sua vida. Acenda-o na vela preta e deixe-o queimar dentro do Caldeirão.
Pegue o outro pedaço de papel e escreva tudo o que você quer atrair para a sua vida. Acenda-o na vela laranja e deixe-o queimar dentro do Caldeirão.
Coloque o alecrim no Caldeirão, junto com as cinzas, e comece a mexer a mistura no sentido horário, dizendo:

Que o velho morra e que o novo possa entrar.
Pelo poder da Vida e da Morte,
Saúdo os espíritos desta noite de Samhaim.

Coloque um pouco de álcool no Caldeirão e então ponha fogo, dizendo:

Através desta luz e o elo mar além,
Saúdo todos os espíritos nesta noite de Samhaim.

Olhe para as chamas do fogo e mentalize todos os seus desejos.
Com o seu Athame, abra a romã, com algumas sementes, enquanto pensam todas as coisas negativas que quer afastar de sua vida. Coloque algumas sementes no fogo.
Parta a maçã ao meio, coma uma das partes e jogue um pequeno pedaço nas chamas do Caldeirão. Mentalize agora tudo o que você quer atrair de positivo.
Com a sua colher de pau, mexa o conteúdo de seu Caldeirão e então diga:
Que o negativo se torne positivo,
Que o mal se transforme em bem,
Que a doença se torne saúde,
E o ódio em amor.

Beba um gole do vinho e despeje um pouco dentro do Caldeirão, fazendo uma libação, enquanto diz:

Faço esta libação em homenagem à Deusa e ao Deus.
Homenageio também a todos os meus Ancestrais.
Que assim seja e que assim se faça!
Toque o pão com o Bastão e diga:
Eu te consagro em nome dos Antigos.
Que você me traga saúde, sucesso, prosperidade e amor.
Coma um pedaço do pão.
Cante, dance e festeje em homenagem à Deusa e aos seus antepassados.
Agradeça aos Ancestrais e destrace o Círculo.

Coloque o resto do pão no seu jardim ou aos pés de uma árvore como oferenda aos seus ancestrais.


Fonte: acasadobruxo

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O Projeto Starchild, a "Criança das Estrelas"

15:51 0

Há aproximadamente 60 ou 70 anos atrás, uma menina americana morando no México descobriu os esqueletos de um adulto e uma criança aparentemente malformada em uma caverna próxima à sua vila. A menina coletou os dois crânios e os guardou por toda a vida, até sua morte recente. Pouco antes de morrer, ela passou os crânios a um homem americano desconhecido que os manteve durante cinco anos. Os crânios foram então passados a um casal americano que os possui até hoje.

Esta é pelo menos a história que vem sendo contada sobre a assim chamada 'Starchild', ou 'criança das estrelas'. Os crânios e a história contada são certamente interessantes. É interessante especular sobre por que o adulto e a criança morreram naquela caverna. Qual era a causa das malformações da criança? Eram congênitas, adquiridas ou algo mais? Teriam sido a causa da morte dela? A mãe morreu pela dor da criança perdida, ou foram ambos expulsos de sua aldeia? Certamente, uma comovente história deve estar por trás dos restos de um adulto e uma criança malformada achados lado a lado em uma caverna no México.

Há uma tendência, porém, de preencher tal especulação com a mitologia da cultura local. E uma das mitologias prevalecentes de nosso tempo refere-se à visitação de nosso planeta por pequenos aliens cinzas que estariam conduzindo um projeto misterioso de abdução humana, talvez envolvendo um projeto de hibridização. Não é surpresa portanto que aqueles que acreditam e popularizam esta mitologia apegaram-se à história destes dois crânios e interpretaram os detalhes de acordo com suas convicções.

Dois destes crédulos, Lloyd Pye e Mark Bean, montaram o que eles chamam de Projeto Criança das Estrelas (The Starchild Project), e têm um extenso website dedicado à sua investigação destes crânios (Pye e Bean, 1999). A investigação deles é um exemplo típico de pseudociência, e eu examinarei a análise deles citando as características pseudocientíficas presentes.

Aqui está um excerto da introdução do website:

Como informado por seu descobridor, o crânio "Criança das Estrelas" é malformado de muitos modos cruciais. De fato, há pouco no crânio que se compare a um humano normal. Ele realmente possui o mesmo número e tipo de ossos cranianos, mas nenhum é amoldado ou está posicionado como nos humanos. Também há outras semelhanças, incluindo certas extrusões e contornos ósseos, ligamentos de músculo e aberturas para veias e artérias que correspondem a humanos. Apesar dessas e outras conformidades reconhecíveis, uma esmagadora maioria de comparações demonstra desvios da norma humana.
Por vezes essas divergências são pequenas, mas na maioria das vezes elas são enormes, a um grau que deveria ter produzido um monstro fetal incompatível com a vida como nós a conhecemos. Ao invés, elas se combinam sutilmente para formar um esboço craniano assustadoramente semelhante ao tipo alien cinzento exemplificado na capa do livro de Whitley Streiber, "Communion".
Uma vez que o crânio "Criança das Estrelas" mostra tantos desvios da norma humana, nós podemos seguramente esperar que o teste de DNA prove uma das três coisas: (1) um puro alien tipo Cinzento; (2) um híbrido alien-humano; ou (3) a mais bizarra deformidade humana desde o Homem Elefante.

Algumas características pseudocientíficas são reconhecíveis no excerto anterior. Os autores claramente mostram seus preconceitos de vários modos: usam citações assustadoras sobre a palavra 'malformado', chamam o crânio em questão de "Criança das Estrelas" (Starchild) e têm preferência clara por uma explicação alienígena. Eles usam uma linguagem forte para enfatizar as divergências do crânio, enquanto subestimam as similaridades com a anatomia humana. Eles então partem para declarar que as divergências se encaixam "sutilmente" com a imagem de um típico alien cinzento. (Veja a alegada reconstrução forense do crânio reproduzido no início. Seria curioso descobrir como eles sabem que os olhos eram completamente negros.)

Finalmente os confiantes autores predizem que a "Criança das Estrelas" ou é um alien cinza, um híbrido alien-humano, ou "a mais bizarra deformidade humana desde o Homem Elefante". Aqui eles estão prematuramente limitando o número de hipóteses potenciais a duas hipóteses desejadas e uma caricaturização tendenciosa. Eles estão tentando estabelecer por uso de linguagem forte que se a criança for o resultado de uma malformação, é uma unicamente extrema e bizarra. Esta é uma tentativa clara de fazer esta hipótese não desejada parecer menos provável.

Agora que eles definiram a pergunta de uma forma limitada que lhes é conveniente, eles continuam a descartar a indesejada hipótese alternativa. Eles discutem as causas da deformidade, separando-as em duas categorias, infligidas e naturais. Eles discutem então, corretamente, que a natureza das deformidades não corresponde a qualquer prática conhecida de deformidade infligida, como bandagens na cabeça. Eles erram quando descartam uma possível deformidade natural.

Eles discutem que a criança não pode ter uma malformação genética (herdada) por causa da simetria do crânio e da falta de fusão prematura das suturas cranianas. Porém, eles descartam todas desordens genéticas nesta base, quando na verdade há algumas desordens sem assimetria nem fechamento prematuro das suturas cranianas. Eles discutem então que a criança não pode ter sofrido uma malformação congênita (presente no nascimento, mas não necessariamente herdada) porque a deformação é muito grande para que a criança sobrevivesse. Argumentam que malformação congênita em três áreas do crânio principais geralmente produz um feto inviável, enquanto a "Criança das Estrelas" exibe malformações em oito regiões do crânio e sobreviveu durante pelo menos alguns anos (métodos de cálculo de idade estimam que a criança tinha aproximadamente cinco anos quando morreu). Porém, eles ignoram a possibilidade da que a criança tenha sofrido uma desordem capaz de produzir vasta deformidade ao longo do crânio, sem causar morte imediata.

Pye e Bean alegam que consultaram 50 peritos (que eles mantêm em sigilo) e nenhum dos peritos pôde explicar adequadamente a aparência da "Criança das Estrelas" com base em deformidade natural. Eles declaram que "nas mãos de cientistas dedicados a enfiar peças quadradas nos buracos redondos do pensamento convencional, a patologia pode explicar virtualmente qualquer desvio". Dado o preconceito claro e profundo dos autores, porém, não é surpreendente que eles tenham chegado a esta conclusão. Eles também demonstram a característica pseudocientífica de descartar a ciência como mera protetora do status quo. O que eles não fornecem é uma análise detalhada de qualquer deformidade particular oferecida pelos peritos e por que a deformidade proposta não se ajustaria ao crânio "Criança das Estrelas".

Os autores nunca consideram diretamente a hidrocefalia congênita como uma possível explicação, embora eles a descartem junto com uma lista longa de deformidades naturais. Hidrocefalia quer dizer literalmente "água no cérebro" e resulta de um bloqueio no fluxo normal de fluido cérebro-espinhal (FCE) de onde ele é produzido dentro do cérebro ao espaço que cerca o cérebro e a coluna espinhal onde é reabsorvido. Como resultado do bloqueio, o fluido se acumula dentro do cérebro, empurrando para fora o cérebro e o crânio. Uma vez que em crianças pequenas os ossos do crânio ainda não se fundiram, o crânio fica livre para aumentar e acomodar este acúmulo de fluido.

Se uma criança sofrer de hidrocefalia sem tratamento até a idade de quatro ou cinco anos, seu crânio exibiria distorções em quase todas características. Todos ossos, proeminências, buracos, e suturas estariam presentes, como elas estão no crânio "Criança das Estrelas", mas estariam deformados e deslocados. Isto é exatamente o que nós encontramos no crânio "Criança das Estrelas". A hidrocefalia se acumula com o passar do tempo, assim uma criança com esta desordem pode sobreviver vários anos, e sem tratamento (hoje a hidrocefalia é tratável com uma cirurgia para drenar o fluido) provavelmente morreria com alguns anos de idade. A grande cabeça bulbosa resultante seria vagamente semelhante à imagem típica de um alien cinza.

Pye e Bean virtualmente ignoram esta explicação mundana, e a descartam com bases insatisfatórias. Eles também se estendem longamente para interpretar o crânio de acordo com sua hipótese claramente preferida. Eles assim demonstram a característica central da pseudociência.

E quanto à previsão confiante de que o teste de DNA provaria que a criança era alien? Bem, uma amostra de DNA foi tirada do crânio e sujeita a análises de DNA desenhadas para descobrir seqüências de DNA únicas aos humanos (executadas pelo Dr. David Sweet, Diretor da Agência de Odontologia Legal da Universidade de British Columbia). O DNA do crânio "Criança das Estrelas" foi descoberto como possuidor tanto de um cromossomo X quanto um Y. Isto é evidência conclusiva de que a criança não só era humana (e um menino), mas que ambos os pais deveriam ter sido humanos também, já que cada um deve ter contribuído com um dos cromossomos sexuais humanos presentes.

Frente a tal evidência, seria razoável esperar que se Pye e Bean fossem cientistas genuínos eles abandonariam sua hipótese alienígena. Porém, o website deles continua a apoiar uma explicação alien à "Criança das Estrelas", e isto é o que eles têm a dizer sobre a evidência de DNA:

Outro conceito avançado que deve ser considerado é a suposição razoável que um híbrido alien-humano poderia ter tanto DNA humano quanto instruções genéticas aliens embutidas em sua formação, com ambos os conjuntos de instruções ativos, complementares e cooperativos. Além disso, ambos poderiam ser construídos de modos completamente diferentes, com o DNA sendo a base da estrutura genética humana e ??? (base de silício, nanotecnologia, etc.) sendo a base da estrutura alien. Indo um passo adiante, tanto DNA quanto ??? poderiam estar presentes como conjuntos completos -- a totalidade do DNA humano e a totalidade do código genético alien, qualquer que seja -- e ambos os conjuntos estariam disponíveis para referência ou reparo.

Pye e Bean executaram a clássica manobra pseudocientífica de recuar frente a evidência contrária e partir para uma versão mais estranha e bizarra de sua hipótese desejada. Se um conjunto completo de DNA humano estiver presente, então todos os testes para humanidade serão positivos. O desconhecido componente alien provavelmente nunca será detectável. Pye e Bean agora se isolaram de qualquer chance de abandonar a hipótese desejada.

Dada a tendência dos pseudocientistas de abraçar a cultura do estranho, e rejeitar padrões científicos, eu não fui pego de surpresa ao descobrir que tanto Pye quanto Bean já defenderam outras idéias pseudocientíficas. Pye, por exemplo, publicou um livro intitulado "Tudo o que você sabe está errado, Parte 1: Origens Humanas" (Everything You Know is Wrong, Part I: Human Origins) no qual ele diz explicar por que nós só usamos 10% de nosso cérebro, por que a evolução Darwiniana está errada, por que não há nenhum antepassado fóssil humano, provas do Pé Grande e o Yeti, e como os antigos Sumérios aprenderam tudo você sempre quis saber sobre origens humanas de aliens espaciais. (Pye, 1999) Pye promete "evidência forte e baseada em fatos" para apoiar suas alegações.

Nós provavelmente nunca saberemos toda a história sobre a "Criança das Estrelas", mas o que está claro é que aliens não precisam ser invocados. A criança muito provavelmente sofreu de hidrocefalia não tratada, uma explicação mundana e simples para as anomalias vistas no crânio. Testes de DNA confirmam, sem surpresa, a ascendência humana da criança. Entretanto, é provável que os verdadeiros crentes agarrem-se tenazmente a suas hipóteses preferidas, e continuem a espalhar historinhas sobre um programa de procriação alien-humano. A ciência progride, enquanto a pseudociência permanece estagnada em desejadas crenças predeterminadas.


Fonte: ceticismoaberto

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Alemanha descobre estátua do Império Romano de 2.000 anos

15:50 0



Após derrotar os romanos em 9 d.C., tribos alemãs destruíram a estátua e enterraram a cabeça do cavalo.

Arqueólogos alemães revelaram nesta quinta-feira uma cabeça de cavalo de bronze e ouro que acreditam ser um vestígio de uma estátua romana de 2.000 anos.

Uma equipe de escavações em uma antiga cidade romana perto de Waldgirmes, no centro da Alemanha, encontrou a cabeça junto ao pé de um cavaleiro no dia 12 de agosto.

"Esta escultura de bronze está entre as melhores peças já encontradas na área do antigo Império Romano", disse Eva Kuehne-Hoermann, ministra de Estado para Ciência em Hesse, durante o anúncio em Frankfurt.

Especialistas dizem que a estátua data de 3 ou 4 a.C. quando o posto romano perto de Waldgirmes foi estabelecido, e provavelmente representa o imperador Augustus.


Imperador Augustus


Após derrotar os romanos na batalha de Teutoburg em 9 d.C., tribos alemãs destruíram a estátua e enterraram a cabeça, afirmaram arqueólogos.

"Em nenhum outro lugar há uma descoberta desta forma ou qualidade", disse Kuehne-Hoermann.

A rédea do cavalo é ornamentada com imagens de Marte, Deus da guerra, e Victoria, que personifica vitória.


Fonte: Estadão/arquivosdoinsolito
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Cientistas desvendam mistério do carbono perdido

15:49 0
Reações químicas entre partículas de carbono e oxigênio podem explicar por que a Terra tem muito menos carbono em suas rochas do que seria esperado



Misteriosamente, a Terra tem muito menos carbono em suas rochas do que seria esperado, considerando as quantidades disponíveis do elemento nas regiões de formação de planetas de nossa galáxia.

Mas um novo modelo sugere que reações químicas entre partículas de carbono e oxigênio podem ser a explicação.

Planetas surgem dos discos de gás e poeira que se unem ao redor de estrelas. O gás e a poeira nesses discos constituem o meio interestelar que forma o espaço entre estrelas em galáxias, com a poeira contendo partículas ricas em carbono e silicato.

Apesar da superfície verde e rica em carbono de nosso planeta, o manto da Terra é muito pobre em carbono se comparado à quantidade encontrada no meio interestelar.

Meteoritos, considerados os blocos de construção de nosso planeta, também apresentam pouco carbono, ao contrário de cometas, formados a uma distância maior do Sol.

Inversamente, o silício parece conseguir passar do meio interestelar, do qual os planetas se formam, para o corpo do planeta.

Astrônomos se esforçavam para compreender completamente a falta de carbono no manto terrestre e em meteoritos.

Agora, Ted Bergin, da Universidade de Michigan, Ann Arbor, desenvolveu um modelo que pode explicar o que aconteceu com o carbono.

Ele apresentou suas ideias no recente congresso da União Internacional de Química Pura e Aplicada, em Glasgow, Reino Unido.


Dreno de partículas


A evaporação das partículas primordiais ricas em carbono do disco era uma das teorias anteriores para explicar por que todo o carbono do meio interestelar não havia chegado ao material que formou a Terra.

Mas, para esse modelo funcionar, as temperaturas deveriam estar a pelo menos mil graus Kelvin, uma temperatura inalcançável na Terra considerando sua distância do Sol.

Bergin, com Jeong-Eun Lee, da Universidade de Sejong, na Coreia do Sul, e seus colegas desenvolveram um modelo dos processos químicos que poderiam estar ocorrendo no disco para determinar a temperatura do oxigênio e o local em que essas reações estariam acontecendo.

Bergin afirma que a superfície do disco já foi quente, embora nem de perto tão quente quanto os 1,2 mil graus Kelvin necessários para evaporar carbono.

Neste cenário, existem átomos de oxigênio que reagem com as minúsculas partículas de carbono, mas não com os silicatos.

Essas partículas têm cerca de um décimo de micrômetro de diâmetro. Por causa dessa reação, a parte intermediária do disco, onde os planetas são formados, teria se esvaziado de carbono.

"A reação é oxigênio se chocando com partículas de carbono e ejetando carbono", diz Bergin. E isso pode ocorrer a cerca de 500 Kelvin, explica ele.

Distante de uma fonte de calor, a reação entre oxigênio e carbono seria bem mais lenta, o que explica a razão de planetas como Marte não apresentarem déficit de carbono.


Salva-vidas


Mike Jura, da Universidade da Califórnia, Los Angeles, considera o modelo muito plausível. "Em amostras aleatórias de matéria interestelar, espera-se encontrar muito carbono", afirma ele.

Jura concorda que o modelo que sugere a evaporação de carbono é falho: "Não estamos nem perto de 1,2 mil Kelvin. E isso exige muito calor." O modelo químico de Bergin ajuda a descartar a necessidade de calor, diz ele.

Se o novo modelo estiver correto, espera-se constatar carbono em abundância na parte gasosa do disco do qual os planetas são formados.

Ele trabalha agora em uma forma de detectar esse carbono astronomicamente e espera no futuro testar a teoria.

E todo o carbono extra na parte gasosa do disco liberado no modelo pode ter ajudado a formar a vida, sugere Jura.

"Está muito claro que se a Terra ficasse com todo o carbono disponível, creio que isso representaria um certo problema para a formação da vida", afirma Bergin. "Nós teríamos um excesso de efeito estufa e a água teria evaporado."


Fonte: Terra/arquivosdoinsolito
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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Síndrome de Münchhausen

22:34 0
Síndrome de Münchausen é uma desordem psiquiátrica em que os afetados fingem doença ou trauma psicológico para chamar atenção ou simpatia a eles. Às vezes os sintomas podem ser induzidos ou fingidos.

Síndrome: A Síndrome de Münchausen é uma doença psiquiátrica em que o paciente, de forma compulsiva, deliberada e contínua, causa, provoca ou simula sintomas de doenças, sem que haja uma vantagem óbvia para tal atitude que não seja a de obter cuidados médicos e de enfermagem. Na Síndrome de Münchausen, a pessoa afetada exagera ou cria sintomas nela mesma para ganhar atenção, tratamento e simpatia. Em casos extremos, pessoas com esta síndrome têm um alto conhecimento sobre medicina e conseguem produzir sintomas para operações desnecessárias. Por exemplo, podem injetar na veia um material infectado, causando infecção e prolongando sua estada no hospital. É diferente de Hipocondria, o paciente com Munchausen sabe que está exagerando, enquanto o hipocondríaco acredita que está doente de fato.


Origem do Nome: O nome deriva de Barão de Münchausen (Karl Friedrich Hieronymus Freiherr von Münchausen, 1720-1797), a quem é atribuída uma série de contos fantásticos.

Em 1950, o Dr. Richard Asher (o pai de Jane Asher e Peter Asher) foi o primeiro em descrever um padrão de auto-dano onde os indivíduos fabricavam histórias, sinais, e sintomas de doença. Lembrando o Barão de Münchausen, Asher nomeou esta condição como Síndrome de Münchausen. Originalmente, este termo era usado para desordens fictícias. Porém, agora é considerada que é um grupo extenso de desordens fictícias, e a diagnose de Síndrome de Münchausen é reservada para a forma mais severa onde a simulação de doença é a atividade central da vida da pessoa afetada.


*essa postagem foi sugerida por uma amiga


Fonte: wikipedia
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Ficção Científica, Ciências Ocultas e Mitos Nazistas

22:32 0

Não é minha intenção fazer pouco do nacional-socialismo interpretando-o em termos de fantasias pitorescas. Todavia, negligenciar e ver como inofensivos os elementos totalmente irracionais do nazismo, evidentes desde sua primeira origem, têm ao menos ajudado parcialmente à conjurar uma aparentemente "natureza incompreensível" das ações nazistas.

No nacional-socialismo, as contradições e irracionalidades de um sistema sócio-econômico clássico capitalista e suas estruturas de poder, foram transmutadas em uma ideologia e apologia aparentemente "naturais". O poder explorador e limitador de classes tornou-se racismo, com uma raça de senhores e sua liderança mística; ciclos de crise econômica e outros direcionamentos tornaram-se a lei cósmica de ciclos recorrentes; o caráter alienante da ciência e tecnologia usados indevidamente como meios para dominação, tornaram-se os conceitos centrais de cultos secretos pseudo-religiosos; o atraso da economia e tecnologia assim como as prevalecentes condições sociais tornaram-se uma obscura mistura de industrialismo enfurecido com uma teoria de "Sangue e Solo". O continuísmo das classes governantes obsoletas era salvaguardada por mitos de "conspirações", enquanto às massas oprimidas eram oferecidos bodes expiatórios como um escoadouro para agressões reprimidas.

Qualquer um que se negue à identificar as justificativas para a irracionalidade na filosofia "séria" (de Schopenhauer e Nietzsche à Spangler ou Jung) como conduzindo ao obscurantismo, naturalmente ficará impressionado em ver que tais fantasias são subitamente e de fato, tomadas muito seriamente quando o fascismo chega ao poder.

Em 1919, a burguesia alemã precisava experimentar quaisquer meios que justificassem a defesa do seu poder. Nesta época, mitos e mágica mudaram-se das salas de visita e cafeterias para lutar contra razão e revolução. A enchente de panfletos e dissertações pseudo-científicas tornou-se devastadora. A FC, lida pelas classes sociais que não eram atingidas pelos panfletos pseudo-científicos e filosóficos, também sucumbiu à esta irracionalidade. A idéia de que o tempo estava maduro para uma "reorientação espiritual" também na literatura, era persistentemente sugerido por tais autores. Eles clamavam por sensações e fantasias imaginativas que ajudariam a conquistar o "materialismo" bruto e sua contraparte, o realismo. Uma articulação aparentemente não-política destas tendências, estendia-se como se segue:

Existem muitos indícios de que o materialismo mecanicista - derivado das ciências exatas que imprimiram sua marca na última década, está finalmente agonizando, devido à recente revolução espiritual. Obviamente, as saudades transcendentais da maioria da humanidade não podem ser suprimidas à longo prazo... Em primeiro lugar, chegamos novamente ao ponto de vista do "assombro" - isto é, nós não mais desprezamos como tolices todas as coisas que não são explicáveis em termos das leis conhecidas da física. Misteriosas conexões entre os seres humanos, independentes de separação espacial e temporal, espectros, a aparição de fantasmas, estão todos novamente no reino do possível.(1)

A citação vêm da revista Der Orchideengarten, a qual era devotada a publicar somente ficção fantástica e desenhos - de modo análogo às revistas americanas "sobrenaturais" e "fantásticas" de FC. Max Valier, que posteriormente seria pioneiro de foguetes e presidente da "Sociedade para o Vôo Espacial", que viajou por todo o país palestrando sobre o fim do mundo, sobre Atlântida e Lemúria, sobre a Cosmogonia Glacial e a penetração no Espaço, e que em 1929 fez uma tentativa mal-sucedida de interessar Hitler no potencial militar dos foguetes (2), foi ainda mais explícito, seja escrevendo só -

Nossa época atual, mais do que qualquer outra, requer uma fonte e centro verdadeiramente cósmicos, para orientação espiritual. Nós precisamos de um choque tremendo, mesmo supra-terreno, para fazer com que recuperemos o senso de nossa identidade que perdemos no redemoinho do egoísmo cotidiano... Na base de uma nova teoria da cognição, buscaremos um conhecimento mais profundo; e para nossas emoções, buscaremos sensações do verdadeiramente primevo choque, de forma que mesmo o fim do mundo e desta Terra, será uma experiência construtiva.(3)

- ou em conjunto com G. W. Surya:

Acreditamos que a astronomia e a astrofísica, dentre as ciências naturais, são pela natureza do seu tema, particularmente talhadas para despertar essa elevação de pensamento, essa revolução espiritual, a qual nós tão desesperadamente precisamos, se o destino de nossa Pátria, até mesmo o do mundo inteiro, é fazer uma virada para melhor... Somente o retorno à um ponto de vista profundo, transcendental, podem ajudar a curar nossas feridas à partir de dentro.(4)

Valier passava a fazer mais precisas suas metáforas nebulosas de realidades políticas e sociais contemporâneas, declarando que "ele sentia-se obrigado a considerar Einstein... como um representante da extrema esquerda"(5). Uma nova publicação de Surya, A Metafísica e a Guerra Mundial, a qual tentava provar que as guerras mundiais não eram devidas somente à atividades humanas, mas que "outras forças" estavam também em operação, era mais abertamente apresentada como "uma tese política extremamente importante".(6)

A função política de tal teoria altamente transcendental é claramente demonstrada nos trabalhos do ex-monge cisterciano Adolph Joseph Lanz, aliás, "Jörg Lanz von Liebenfels", aliás, "Dr. Jörg Lanz". Ele foi o fundador da "Teozoologia" e da "Ordo Novi Templi" (ONT). Em seus trabalhos, termos como "materialismo" e "egoísmo", tornam-se códigos para política racional, socialismo, revolução, e "intelectualismo judeu-bolchevista". "Revolução espiritual", "Fé na transcendência" e "idealismo", por outro lado, representam conciliação social, políticas domésticas reacionárias e uma política nacionalista para estrangeiros:

ao promover seu desenvolvimento, o Império Talmúdico-Tacandálico obteve sucesso em controlar a inteligência dos Cristãos Arianos para seus propósitos, por intermédio da... sociedade secreta dos Maçons. Esta sociedade de obscurantistas é responsável pelo assim chamado "Iluminismo", as várias revoluções, liberalismo, socialismo e materialismo no século XIX, e pelo bolchevismo no XX... Durante a Idade Média... não havia proletariado e nem problema proletário. Esta classe somente veio a existir através dos esforços demoníacos dos maçons modernos e suas falsas doutrinas do assim chamado "Iluminismo".(7)

Qualquer um que veja a razão como a mais elevada atividade da mente humana, é tão retrógrado quanto aqueles eruditos da Renascença que consideravam a Terra como centro do universo.(8)

O monte de esterco conceitual, o excremento mental que é a filosofia e a ciência materialisticracionalistica-socialdemocrática-bolchevista-tacandálica do período moderno, não serão mesmo de interesse histórico nas futuras gerações.(9)

Lanz deriva suas percepções da "teozoologia" e "metafísica racial", cada uma destas um tipo de ciência oculta. Se fôr extraído o nem tão distante racismo moderno declarado, metafísica racial poderia ser vista como o projeto para uma parte considerável da FC produzida em nossos dias:

A prática da metafísica de raças, está relacionada com a pesquisa da história das raças antes de seu ciclo de desenvolvimento terrestre (pré-terrestre)... no futuro das raças depois de seu período terrestre (pós-terrestre), e finalmente com a pesquisa das forças extra-sensoriais, extra-terrestres e cósmicas que influenciam o desenvolvimento racial no presente.(10)

As contradições inerentes deste e de sistemas similares não serão discutidas aqui. Uma análise de tais itens assim como a rejeição simultânea do darwinismo e a aceitação da pseudo-darwinista "sobrevivência dos mais aptos", ou os argumentos para um universo populado com seres inteligentes, os quais são contraditos pelo conceito de um universo racialmente etnocêntrico, meramente ilustraria em detalhe as bases irracionais destes sistemas insanos. Parece mais frutífero apontar a flagrante congruência de tais construções com os sintomas psicóticos e as tendências fascistas de "caráter autoritário", tais como [1] o desejo sado-masoquista por submissão à uma força externa irresistível (diversamente interpretada como um "agente" da Providência, ou Natureza, ou Destino, etc), com o concomitante desejo de fazer as pessoas mais fracas pagarem, em compensação por isso; [2] a projeção de nossos próprios impulsos destrutivos e primitivos sobre minorias impopulares; [3] a rejeição da política racional, de fato, de todo e qualquer esclarecimento intelectual; [4] as lendas de "conspirações".(11)

O grau em que fantasias conspiratórias foram projeções puras de suas próprias intenções secretas, é demonstrado pelo modo como elas foram primeiro nutridas em grupos de ciências ocultas de algum tipo de sociedade secreta. Estes grupos e seu obscurantismo foram de considerável significância no primitivo desenvolvimento do partido nazista, sua ideologia e sua posterior organização de células em "ordens".(12)

Da confusa massa de conceitos obscuros que eram usados em FC, quatro tentativas vagas de sistematização podem ser extraídas: "Cosmogonia Glacial", o mito da Atlântida/Thule, Teozoologia, e a teoria do Mundo Oco. Estas sistematizações podiam ser combinadas, e apoiavam-se uma na outra.

Cosmogonia Glacial ou a Doutrina do Gelo Universal (Welteislehre) e o mito da Atlântida tinham um relacionamento particularmente próximo. Atlântida (ou Thule) representava o Paraíso Terrestre e o lar original dos arianos teutônicos, enquanto o conceito de recorrência cíclica da Cosmogonia Glacial assegurava que a Atlântida se levantaria novamente. Deste modo, o mito da Atlântida e a Cosmogonia Glacial tornaram-se os temas dominantes da FC germânica nos anos 1920 e 1930. Ou o ressurgimento da Atlântida causaria a submersão dos países da Entente (13) (possivelmente de acordo com a teoria dos vasos comunicantes), ou restos da Atlântida, a qual tinha sido destruída por eventos cósmicos, eram descobertos no espaço, advertindo os astronautas germânicos a reconstruirem o legítimo império global ariano (isto é, alemão), retornar à pureza racial, à uma liderança mística e ao irracionalismo chamado "ciência ariana":

As criaturas estavam muito mais próximas da terra nestes dias. Eles controlavam as misteriosas forças da natureza não em virtude do seu conhecimento, muito menos por sua ciência, mas em virtude de seu próprio ser. Quanto mais a humanidade aprendeu a pensar racionalmente, quanto mais perdeu seus poderes visionários. Eles se deliciaram com sua perspicácia e falharam em notar o aviso de seus poderes primevos.(14)

Naturalmente, as várias quedas da Lua sobre a Terra na Cosmogonia Glacial, sempre ocorriam em tempos de depravação racial e ética.

A crença na Atlântida e na Cosmogonia Glacial também inspiraram os cerca de 600 membros da "Sociedade para o Vôo Espacial"(15), que desejavam escapar da miséria alemã por meio de espaçonaves. Eles queriam descobrir "novos mundos, como conquistadores modernos"(16); eles planejavam aumentar a grandeza da Alemanha construindo uma estação espacial cujo "valor estratégico", entre outras coisas, consistia, como Willy Ley escreveu, em "criar tornados e tempestades, destruindo exércitos em marcha e suas linhas de suprimentos, e queimando cidades inteiras"(17). Graças à ativa propaganda desta sociedade, a idéia da viagem espacial tornou-se tão popular que foguetes lunares tornaram-se um item regular em desfiles carnavalescos, e Fritz Lang foi estimulado a fazer o filme A Mulher na Lua (1928), para o qual ele recorreu à consultoria especializada da Sociedade.

Os líderes nazistas tinham uma fraqueza especial pelo mito da Atlântida. O professor racista e panfletário Herman Wirth, interpretou um papel principal nesta conexão, advogando em seus concílios internos, "uma tremenda reviravolta da cultura, para longe da idade da razão e consciência, rumo à era de uma 'certeza sonâmbula', a era da mágica supra-racional". Heinrich Himmler e Wirth fundaram o "Grupo de Estudo da História Espiritual", Deutsches Ahnenerbe (Herança Germânica) - a qual propagava tal pseudo-ciência e a qual era, por exemplo, responsável pelos experimentos de congelamento profundo (com coito subseqüente, "um antigo remédio popular"!) nos campos de concentração, bem como pela coleção de esqueletos em Estrasburgo, abundantemente suprida por espécimes de "raça inferior" assassinados (18). Deste modo, eles acharam louváveis os esforços do Conselheiro de Edificação do Governo (Regierungsbaurat), Edmund Kiss, um dos mais bem sucedidos exploradores dos temas Cosmogonia Glacial/Atlântida. Além dos romances de aventura em geral, ele escreveu uma tetralogia (19) na qual apresentava uma versão mitologizada da queda do império germânico, sua reconstrução, e sua vindoura supremacia mundial sob a norma fascista.

No primeiro volume de Kiss, O Mar Vítreo, o apocalipse de João, o qual "encarna o conhecimento primitivo do cosmos e do nosso mundo" (20), é reinterpretado como uma descrição de uma catástrofe global, a qual resultou da queda da "lua terciária". Antes deste evento, havia existido ordem no mundo: escravos tinham sido treinados com o "relho de mamute" (p.120). Agora, para os "louros de olhos azuis", havia chegado a hora de "manterem suas cabeças erguidas sob as bordoadas do destino" (p.169), e assegurar "a existência continuada da raça humana" apossando-se das mulheres disponíveis - lema: "Faça com que confiem em você, depois agarre-as" (p.240).

No segundo volume, Primavera em Atlântida, os "Ases" (isto é, arianos) obtiveram sucesso. Eles se multiplicaram rapidamente em seu reino setentrional, até o ponto de construirem a "comunidade orgânica de um império mundial" (p.11), com seu centro e capital na Atlântida. "Peles marrons de olhos puxados" trabalham para os "louros de crânios estreitos". Graças à uma efetiva "direção espiritual", os Ases são reverenciados como "deuses brancos" (p.12, p.18). "As nações escravas visitam Atlântida, a fim de levarem a profunda e inarrancável impressão do esmagador e irresistível poder dos nórdicos, ao voltarem para seus lares distantes" (p.41). (Hitler tinha as mesmas idéias concernentes às medidas que ele empregaria para inculcar uma "consciência-mestra" nas "populações não-germânicas das zonas setentrionais ocupadas": "Ele também pensava que a superstição era um fator que tinha de ser considerado no negócio de liderar homens, mesmo sendo alguém completamente superior à ela e rindo-se dela"; "o único propósito permitido de lições de geografia deveria ser o de ensinar que a capital do Império é chamada Berlim, e que todo mundo deveria visitar Berlim pelo menos uma vez na vida"; "uma vez por ano, seria dado à uma trupe de kirghizes, um passeio turístico através da capital, para que impressionassem sua imaginação com o poderio e o poder de seus monumentos de pedra")(21). De volta à Kiss: o "Birô Racial de Asgard" (p.17), supervisiona a manutenção da pureza racial na raça mestra (22); todavia, os líderes têm de fazer as mesmas concessões que os nazistas descobriram serem inevitáveis:

O desejo de milhões [é] criar uma base racial granítica como alicerce do império, não um bloco de absoluta pureza racial - os pecados de nossos antepassados tornaram isso impossível - mas um bloco de precioso material racial com a riqueza da alma nórdica como sua importante herança. (p.278)

O herói também tinha o "olhar fixo do Führer", que Hitler supostamente praticava na frente do espelho, e que é fortemente evocativo dos efeitos de uma tireóide hiperativa:

Mas no mesmo momento... a centelha dourada brilhou novamente, das profundezas dos persuasivos olhos cinzentos, a centelha que constituía o mistério da radiante essência infantil deste homem. Quando esta centelha morria, as feições aquilinas dispostas numa expressão de férrea e predatória determinação, e o gélido fulgor cinza-claro, obrigavam muitos inimigos, não usualmente dados à tais ações, a evitar seus olhos. (p.72)

O terceiro volume, A Última Rainha da Atlântida, mostra o império dos Ases no ápice do seu poder. Os "homens nórdicos" vivem em "castelos isolados e fazendas fortificadas nas marcas fronteiriças". Os atlantes continuam a provê-los com mulheres "racialmente puras" ou puro-sangue (p.28) - como podemos ver, precisamente o modo de vida que os nazistas imaginavam para si mesmos nos territórios ocupados do Leste Europeu:

Por um momento, observamos os trabalhadores, aqueles Zipangus fortes, animalescos, cujos crânios são enfaixados em tenra idade para que se desenvolvam para trás, para que eles possam ser mantidos como o grupo projetado para o trabalho físico.(p.48)

Nós, os atlantes, sabemos por nossa história milenar, tão cheia de conquistas e derrotas, que somente uma casta de seres humanos superiores podem efetivamente governar o globo que é nossa bela Terra. Raças inferiores devem ser treinadas e moldadas para satisfazer as necessidades e os propósitos que promovem o crescimento do reino. (p.49, e igualmente p.258)

Falta de sorte! O "martelo do destino" (p.101), "atinge com poderoso golpe" (p.118), a aparição de uma nova Lua (a nossa) condena Atlântida, e os Ases são mais uma vez reduzidos a pessoas que devem "lutar por seu lugar ao sol" (p.192).

Em Os Cisnes Cantantes de Thule, os atlantes sobreviventes têm de abrir seu caminho (tendo com eles, naturalmente, a bandeira, branca e azul com uma suástica, da Atlântida) de volta à terra de origem. Em sua "luta pela vida, território e poder" (p.27), o princípio da liderança é restabelecido: "Situações desesperadas só podem ser salvas se um homem comanda e os outros obedecem" (p.65). Para que mesmo o mais obtuso dos leitores entendesse a referência, os Ases encontram a "Teutolândia" habitada por uma "população de camponeses nórdicos de... razoavelmente boa raça" (p.208). Com a ajuda genética dos nativos, os Ases criam - num mundo cheio de "ralé de pele escura", "animais humanos" e "homens inúteis" (p.183) - "uma nova, dura e arrepiante nobreza" (p.188). Para conseguir isso, eles ocasionalmente atacam tribos vizinhas para, usando a terminologia de Hitler(23), "apurar a raça" (p.169). O romance culmina com a seguinte declaração:

Somente um homem que irá proteger tanto seus objetivos quanto sua liberdade com uma espada afiada no ataque e na defesa, pode manter o domínio sobre sua vida nessa terra. Ataque é sua melhor política. Não é nunca uma questão de ser nosso direito fazer assim. Isto é nosso em virtude da nossa existência. É uma questão de poder. (p.206)

As coisas que Kiss projetou no passado distante, as quais Hitler e Himmler queriam realizar no Leste Europeu, foram projetados no futuro próximo por Paul Alfred Mueller (pseudônimo "Lok Myler") em sua série de panfletos Sun Koh, O Herdeiro da Atlântida, e Jan Mayen (24). Os heróis, tipos carismáticos de líder, foram escolhidos pelo destino - e também providos com recursos de uma sofisticada e extremamente poderosa tecnologia. É sua vocação criar novos territórios cultiváveis para o povo alemão e as raças brancas. Isto eles obtém retirando a Atlântida do oceano e fazendo a Groenlândia (Thule) cultivável. O modo pelo qual "Sun Koh" e "Jan Mayen" tratam o resto da humanidade na perseguição dos seus objetivos, diferencia-se dos métodos nazistas somente pelo fato de que os fictícios povos inferiores se submetem rapidamente. Mueller também foi um dos autores que propagaram a teoria do "Mundo Oco". Esta importação teórica dos EUA, experimentou o ápice de sua popularidade em 1941-42, quando o Ministério da Frota Alemã aparentemente realmente executou experiências de radar, que teria - se a teoria estivesse correta - permitido-lhes observar Scapa-Flow [a principal base da Marinha britânica - N. do T.] a partir de Reugen, no Mar Báltico. A teoria do Mundo Oco era tolerada pelos nazistas (25), mas tinha somente uns poucos seguidores nos escalões superiores do partido. Dessa forma, Mueller tinha de manobrar cuidadosamente quando tentava instituir a teoria do Mundo Oco na visão de mundo oficial dos nazistas. Em seu romance, o alto funcionário do partido nazista que tinha sido convertido à teoria, sofreu um acidente fatal quando ia fazer a comunicação ao Führer.

"Teozoologia", propagada por Josef Lanz na série de panfletos de Ostara, A Biblioteca dos Louros e Direitos Masculinos (26), não era abertamente adotada nos escritos oficiais nazistas, e só raramente era explorada na FC (27). Todavia, esta teoria mostra as mais obscuras motivações do merniqueanismo racista, idéias que ainda estão espalhadas na FC de hoje em dia. Lanz não pode nem mesmo exigir o direito de ter sido o criador e inventor deste sistema de ilusão sexualmente neurótico. Um caso de compêndio para psicanálise, Lanz meramente reinterpretou a antropogênese teosófica de Blavatsky e Besant em termos sexuais. Na teosofia, a humanidade cai porque os homens copularam com animais femininos; no sistema de Lanz "todas as calamidades na história do mundo... têm sido causadas pelas mulheres liberadas" (28). De acordo com sua teoria, anunciada primeiramente em 1905 (29) (August Strindberg foi um dos primeiros convertidos):

A raça do puro-sangue e completo Homem Ariano, não foi somente o resultado de seleção natural. Em vez disso, como indicam os escritos esotéricos, ele foi o resultado de um cuidadoso e consciente processo de criação por tipos superiores e diferentes de seres, tais como os Theozoa, Elektrozoa, Anjos et sim., os quais viveram outrora nesta Terra (30).

Eles eram máquinas eletro-bióticas perfeitas, caracterizados por seu conhecimento e poder sobrenatural. Seu conhecimento englobava tudo a ser encontrado no universo e além, nos espaços metafísicos da quarta, quinta e enésimas dimensões. Eles percebiam tais objetos por meio do seu olho eletro-magnético-radiofótico em sua testa, o rudimento do qual é a glândula pineal humana. Eles tinham conhecimento de todas as coisas, e podiam ler o passado, presente e futuro a partir do éter. É por isto que eles executavam o papel de oráculos até bem dentro dos tempos históricos e continuam, ainda hoje, nos médiuns. Eles possuíam poderes sobrenaturais "divinos", cujo centro está localizado no cérebro lombar. (Nota: veja os "cintos mágicos" que conferiam desmedido poder à deuses e demônios; a "capa de invisibilidade" de Siegfried e Alberich.) Seus corpos exsudavam raios de fogo e luz, os quais... materializavam-se em uma mão e se desmaterializavam na outra, quebrando átomos e reconstruindo-os, cancelando a gravidade. (31)

Todas as espécies daninhas e imprestáveis de plantas, animais, e humanos são naturalmente o trabalho dos "Daemonozoa" (isto é, anjos caídos). O pecado original do "Homo sapiens, ou, mais precisamente, o Homo Arioheroicus" (32) foi causado pelas mulheres destes arianos louros e celestiais, que - como agora - foram atraídas, "por causa da magnitude do membro" dos "antropossauros masculinos" (com seus "pés de mesa"!) e seus descendentes, "as raças de animais humanos (negros, mongóis, judeus etc)". As mulheres copulavam com estas criaturas baixas de modo "mais sodomítico" (33). Especialmente os traços faciais dos "sanguinários bolche-judeus... nos fazem lembrar até hoje as horríveis faces dos monstros-dragões antediluvianos"; eles são os "descendentes diretos dos... hominídeos-dinossauros de duas pernas" e apropriadamente ainda pertencem ao "reino animal"; Rosa Luxemburgo, a líder assassinada da esquerda germânica e judia de origem, era uma "pequena, anã Bezah puro-sangue" - "como aquelas criadas 2000 anos atrás nos templos-zoos da Palestina" (34). "Bolchevismo, marxismo, sovietismo, comunismo, socialismo, democratismo... são desdobramentos... destas origens raciais primevas, vis e inferiores" (35). Para fazer a correção destas condições raciais e políticas, os arianos devem praticar a pureza racial e a procriação científicas:

Através do influenciamento consciente e orientado à objetivos das glândulas secretoras, seremos capazes, nos próximos dois séculos de reconstruir os átomos e células de todas as criaturas viventes e... finalmente criar uma nova raça humana, a qual desenvolverá como resultado o Aryoheróico. (36)

E quanto à técnica, "a tecnologia... [E] toda a sabedoria científica superior... deve permanecer como conhecimento secreto de uma elite governante heróico-ariana numericamente pequena, puro-sangue". (37)

Uma criatura escrava recém-criada, com nervos rudes e mãos fortes, cujas potencialidades mentais tenham sido cuidadosamente limitadas... realizará para nós todos aqueles trabalhos para os quais nós não tivermos inventado máquinas... O proletariado e a sub-humanidade não podem ser melhorados ou salvos ou tornados felizes. Eles são trabalho do Demônio e devem ser simplesmente - claro, humanamente e sem dor, eliminados. Em seu lugar, teremos máquinas biológicas, cuja vantagem sobre máquinas mecânicas é que elas consertarão e reproduzirão à si mesmas... Este 'robô' será a chave para o futuro, dado que sua existência solucionará não somente o problema tecnológico, mas também o social e o rácio-econômico - e através disso todos os problemas políticos - que nos importunam. Igualdade total é besteira!... A questão social é uma questão racial e não econômica... Quem pode dizer onde a igualdade de direitos irá parar? Por que pará-la no aborígene australiano? Gorilas, chimpanzés e morcegos têm exatamente a mesma reivindicação por "direitos humanos" socialistas.(38)

Lanz descobriu-se em ilustre companhia com tais idéias. Oswald Spengler articulou o conceito fascista-tecnocrático de tecnologia, ciência e filosofia como instrumentos de dominação quase da mesma forma - os arianos tornar-se-iam novamente "os sábios sacerdotes da máquina" (39) e cultivar as ciências como uma religião de classe dominante:

O grupo da espécie-Führer permanece pequeno. Eles constituem o grupo das verdadeiras bestas de rapina, o grupo dos dotados, os quais dominarão o crescente rebanho dos outros, de um jeito ou de outro. (40)

Estas são... não somente dois tipos de tecnologia... mas também dois tipos de criaturas humanas... aqueles cuja natureza é para comandar, e aqueles que obedecem, sujeitos e objetos de qualquer processo político e econômico. O mais significante sintoma do iminente declínio e queda, está para ser encontrado no que eu gostaria de chamar de traição da tecnologia... Em vez de manter o conhecimento científico secreto, o conhecimento que representa a mais sagrada posse das pessoas "Brancas", foi prepotentemente revelado para qualquer um, em universidades, em conversas, palestras, e publicações... As vantagens insubstituíveis que as pessoas brancas mantinham, têm sido desperdiçadas, dissipadas, traídas. (41)

Himmler e Hitler (42) queriam prevenir a iminente derrocada da civilização "Ocidental", nos territórios conquistados da Europa do Leste ao menos, precisamente através destes métodos que eles imputavam aos judeu-bolchevistas: "tentar eliminar os transportadores nacionais de inteligência dentro de uns poucos anos, para fazer as pessoas... prontas para um destino de permanente escravidão e opressão" (43). As pessoas dos "Territórios Orientais" deviam, de acordo com as idéias de Hitler e Himmler, viver em comunidades aldeãs isoladas e desenvolver seus próprios "cultos mágicos": "Seria melhor ensinar-lhes a entender apenas uma linguagem de sinais. O rádio deveria prover música ilimitada, o que é bom para estas comunidades. Eles não devem aprender a usar seus cérebros." (44)

Hitler, o discípulo de Lanz, também considerava "Ciências puras e aplicadas... uma realização quase exclusivamente Ariana" (45). Somente "quando conhecimento readquire o caráter de conhecimento secreto, iniciático, e deixa de ser acessível à qualquer um, isto preencherá novamente a sua função normal, nomeadamente aquela de ser os meios e o poder para controlar tanto a natureza humana quanto a não-humana" (46). Com seu inegável instinto para o que era publicamente aceitável, Hitler discutiu suas teorias favoritas somente entre íntimos. Estas idéias provaram ser coletadas quase que exclusivamente de tratados de "ciência popular" tais como os de Boelsche e Lanz:

Eu tenho lido um trabalho sobre a origem das raças humanas. Eu costumava pensar muito sobre esse assunto na minha juventude, e eu devo dizer que se alguém olhar mais de perto para os mitos e lendas tradicionais... chega-se às mais peculiares conclusões. Em parte alguma há um desenvolvimento dentro das espécies que seja comparável em grau e tipo ao que o homem teve de experimentar, para cobrir a distância entre um estado de quase-símio e seu presente modo de ser... Mitos não podem ter sido construídos sem qualquer fundamento. Qualquer conceito deve ser precedido pelo fenômeno do qual é derivado. Não há nada que nos impeça, e deveras, eu acredito que deveríamos estar certos, em assumir que personagens e situações mitológicos são representações de uma realidade anterior. (47)

Um novo tipo de ser humano está começando a se manifestar, muito no sentido científico de uma nova mutação. As velhas espécies de homem até aqui existentes, agora entram necessariamente no estágio biológico de degeneração... Uma submergirá sob o homem e a outra se erguerá bem acima do homem atual... Sim, o homem deve ser transcendido... O novo homem vive entre nós. Ele existe!... Eu vou lhes contar um segredo. Eu vi o novo homem, destemido e impiedoso. E eu tive medo. (48)

Lanz poderia não só afirmar ser um dos "avôs do Fascismo e Nacional Socialismo"(49), ele é também um legítimo ancestral da moderna FC. Como declarou em 1930, "uma geração totalmente nova de autores está já agora vivendo de sua exploração das idéias-'Ostara'" (50).

Uma ciência e tecnologia funcionando como uma religião de massa e a "transcendência do homem" são hoje mesmo os conceitos favoritos de precisamente todos aqueles burocratas (e seus aliados literários) que pensam em si mesmos como particularmente progressistas e não-preconceituosos. Da mesma forma que no fascismo, freqüentemente eles também propagam uma pseudo-filosofia de modo-de-vida-são, usualmente consistindo de um barbarismo social-darwinista como estilo de governo e princípio de organização social. Como Hitler disse: "Sim, nós somos bárbaros. Nós realmente escolhemos sê-los. É um título principesco. Somos nós que renovaremos o mundo, Este mundo está morrendo" (51). A epítome de todos os slogans contra-revolucionários, "Em nosso mais distante passado jaz nosso mais moderno futuro", de Lanz (52), foi o lema sócio-político do fascismo. Na FC - germânica e americana - este conceito é ainda constantemente utilizado e reanimado (quanto ao bestseller de Erich Von Däniken, Memórias do Futuro, alguém poderia começar uma ação de direitos autorais contra ele). Sua conjunção tradicional com o racismo, têm, sem dúvida, se tornado menos prevalente, mas a combinação programática de "espada e feitiçaria" como estilo de poder e estrutura social, com "ficção científica", representando o capitalismo sem freios e o industrialismo tecnocrático, ainda está conosco.

(Manfred Nagl é crítico literário, e autor de Science Fiction in Deutschland).



Fonte: ceticismoaberto

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