Estigmas apontam na direção da Paixão e Morte de Cristo
ROMA, 13 ABR., 2001 (Zenit.org).- Estigmas, sinais distintivos da paixão de Cristo, estão no centro de um debate teológico.
Começando com Francisco de Assis, e incluindo figuras do tempo moderno como o Bem-Aventurado Padre Pio de Pietrelcina, houve cerca de 250 casos aparentemente autênticos de indivíduos com estigmas. A Igreja nunca emitiu nenhuma declaração infalível sobre o recebimento deles por alguém.
Ainda assim, qual seria o significado dessas chagas dolorosas nas mãos e pés de pessoas que em alguns casos mudaram o curso da história da cristandade?
A Agência ZENIT entrevistou o padre passionista Tito Paolo Zecca, professor de teologia pastoral e espiritualidade na Universidade Pontifícia do Latrão e o Ateneu Pontifício Antoniano de Roma, para compreender melhor o debate. O padre Zecca escreveu livros sobre estigmas e é um dos maiores especialistas no assunto.
O sacerdote deu uma palestra sobre "O Crucifixo do Santo Sudário e Pessoas com Estigmas" no Centro Sindológico de Caravita em Roma (http://www.sindonologia.it).
--P: Qual o significado dos estigmas?
--Padre Zecca: O Evangelho mostra que, no mistério da ressurreição de Jesus, as chagas não desapareceram. Os estigmas são um sinal do que Cristo sofreu durante a paixão; portanto, há dados teológicos que precisam de muito mais estudo do que já foi feito até hoje. No Evangelho de João, quando Jesus entra no Cenáculo atravessando portas fechadas e saudando os discípulos, ele mostra os estigmas para se identificar. Ele disse a São Tomé: "Põe teu dedo no meu lado". A consternação dos apóstolos também é um fato revelador deste mistério. Este fenômeno mostra a eficácia da salvação de Cristo na cruz, e permanece de modo especial no sinal dos estigmas, tornando-se um fato distintivo da eficácia redentora e salvadora da fé.
--P: Houve 250 casos de santos e bem-aventurados que tiveram os estigmas.
Qual o significado histórico desse sinal?
--Padre Zecca: É um [fenômeno] particular da espiritualidade e misticismo ocidental. Desde São Francisco, tivemos um número significativo de santos e bem-aventurados que viveram a experiência desconcertante de reproduzir os estigmas de Cristo em seus corpos.
Até hoje, a pesquisa tem enfatizado o caráter de configuração e imitação de Jesus, que se origina da intensa relação pessoa que essas pessoas tiveram com Ele. Entretanto, tem sido feita uma análise muito pequena do papel que estes santos e bem-aventurados tiveram na Igreja. Tem havido insuficiente reflexão sobre a missão particular relacionada com os estigmas.
--P: O senhor pode citar um caso concreto?
--Padre Zecca: Por exemplo, São Francisco de Assis recebeu os estigmas quando todos os seus planos santos -- fundação da ordem, aprovação da regra primitiva, viagem à Palestina -- falharam. Ele estava só e abandonado. Foi consolado por ser identificado com o Crucificado, e ainda, simultaneamente, o sofrimento dos estigmas se tornou um bem para a ordem e uma mensagem para toda a Igreja.
O sucessor de São Francisco, Frei Elias, compreendeu o significado dos estigmas, e enfatizou isto em sua carta a todos os fiéis.
Esta mesma mensagem e missão dos estigmas pode ser vista em Santa Margarida Maria de Pazzi e Santa Catarina de Sena. No século que terminou, esta missão foi claramente vista em pessoas como Santa Gemma Galgani [falecida em 1913], Bem-Aventurado Padre Pio de Pietrelcina [1887-1968], e Marta Robin [mística francesa, falecida em 1981, cujos escritos estão sendo estudados antes do início de seu processo de beatificação].
Marta Robin se tornou conhecida depois que o famoso escritor Jean Guitton escreveu o livro "A Jornada Imóvel". Marta Robin ficou acamada por 40 anos. Assim como Gemma Galgani e Padre Pio, ela inspirou muitos grupos de espiritualidade e oração ao redor do mundo.
--P: O que sente uma pessoa que recebe os estigmas da paixão de Cristo?
--Padre Zecca: É uma experiência de alegria e dor. O Senhor é sempre Quem toma a iniciativa. Os recipientes dos estigmas consideram isso uma imensa graça, da qual se sentem indignos. De fato, eles pedem ao Senhor que os tire, porque ficam envergonhados. Esta atitude era evidente em Padre Pio. O bem-aventurado de Pietrelcina mostra claramente o que é a missão daqueles que carregam os estigmas. Padre Pio fundou grupos de oração e a Casa para Alívio dos Sofredores, um grande hospital que faz um trabalho específico para amenizar os sofrimentos físicos. Além disso, a capacidade de intercessão de pessoas que têm os estigmas é maior, unido a outros em oração, na renovação, salvação e proteção do mundo.
--P: Mas por que o Senhor concede esta "graça" a determinadas pessoas?
--Padre Zecca: A resposta está, precisamente, em sua missão. É um serviço de que a Igreja precisa em um momento particular de sua história. É como um sinal profético, um chamado, um fato surpreendente capaz de relembrar aos homens sobre o que é essencial, por exemplo, identificar-se com Cristo, e a salvação de Cristo que nos resgatou por suas chagas.
De certa forma, todos nós temos os estigmas, porque no batismo somos submersos na vida de Cristo, que nos permite participar no mistério pascal de sua morte e ressurreição. Em um pequeno nível, cada um de nós tem os estigmas. Se nós os carregamos com o espírito de fé, esperança, coragem e fortaleza, estas chagas, que podem ser purulentas e nunca curar-se, podem ajudar a curar a outros.
Em uma palavra, os estigmas representam a aceitação consciente da cruz, vivida espiritualmente.
Fonte: Grandecruzada
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