A Nasa lança na sexta-feira, às 22h48 (0h48 de sábado em Brasília), o primeiro telescópio espacial com capacidade de encontrar um planeta fora do Sistema Solar com tamanho e condições de habitabilidade semelhantes às da Terra.
A Missão Kepler vai monitorar a luminosidade de 170 mil estrelas simultaneamente para cumprir sua tarefa. Cada vez que o brilho de uma estrela cai, é sinal de que um planeta pode estar passando na sua frente.
Nasa |
Missão Klepler observará uma região do céu por anos para achar astros habitáveis perto de estrelas a até 3.000 anos-luz do Sol |
Esse método, conhecido como "trânsito", já é usado por outros telescópios. O Kepler, porém, terá uma sensibilidade inédita. Um planeta do tamanho da Terra, se observado a distância, oculta apenas cerca de um décimo de milésimo da luz emitida por sua estrela-mãe, e o novo telescópio espacial poderá enxergar isso.
"Isso equivale à queda de luminosidade que ocorre quando uma pulga passa na frente do farol de um carro vindo na direção contrária a você, de noite, bem longe", disse à Folha Jon Jenkins, da Nasa, um dos criadores do software que servirá como cérebro do Kepler.
Diferentemente de telescópios como o Hubble, porém, o Kepler não tirará fotos do Universo bonitas o suficiente para enfeitar paredes. Seu papel será mesmo medir a emissão de luz de cada estrela e perceber mínimas oscilações.
Contudo, só depois de análises cuidadosas de dados é que cientistas poderão dizer onde estão os tão procurados planetas "gêmeos" da Terra.
O problema é que o brilho de estrelas oscila naturalmente, atrapalhando as medições. Segundo Sylvio Mello, astrônomo da USP, saber se as oscilações ocorrem sozinhas ou por causa dos planetas será "o maior desafio técnico" do Kepler.
Para decretar o achado de um planeta, é preciso ver pelo menos três trânsitos com quedas de brilho semelhantes e separados pelo mesmo intervalo.
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Veja como é o telescópio da missão Kepler |
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Telescópio espacial é o primeiro com capacidade de encontrar planetas tão pequenos quanto a Terra |
Trabalho prolongado
A missão durará ao menos três anos e meio, com orçamento previsto de US$ 591 milhões. O Kepler vai girar em torno do Sol, na mesma órbita da Terra, seguindo-a.
A vantagem de estar no espaço é que não há ar para atrapalhar a visão. Além disso, como a Terra gira, um telescópio terrestre não é capaz de observar uma mesma estrela continuamente.
Às vésperas da decolagem do foguete Delta-2, que levará o Kepler ao espaço, os cientistas cruzam os dedos. "Estou um pouco ansioso porque lançar uma nave espacial é difícil e, como somos tristemente lembrados de tempos em tempos, não é livre de riscos", diz Jenkins.
O Kepler vasculhará uma área específica do céu, perto da constelação do Cisne. É uma região da nossa galáxia muito rica em estrelas e, espera-se, em planetas. Outra vantagem é que o Sol nunca estará na direção em que o telescópio aponta, o que impediria as observações.
A estrelas que o Kepler vai monitorar estão de 500 anos-luz a 3.000 anos-luz de distância da Terra (um ano-luz é igual a 9,5 trilhões de quilômetros).
O Kepler dá continuidade a projetos similares anteriores, mais baratos, como o francês Corot. Os menores planetas encontrados pela missão até hoje, porém, apresentam o dobro do tamanho da Terra.
Eduardo Janot, astrônomo da USP que colabora com o Corot, diz que o Kepler terá de superar dificuldades semelhantes.
"A precisão exigida é muito grande, o que demanda muito esforço", diz. "É fácil achar planetas grandes, já temos mais de 300 "jupíteres" por aí. Mas queremos "terras". Isso é caro e demora."
O interesse em procurar planetas pequenos é que aqueles muito grandes -chamados de gigantes gasosos- não possuem uma superfície sólida com condições habitáveis. Entretanto, lembra Mello, habitável não significa habitado. E ainda não há muito como tentar investigar se um planeta fora do Sistema Solar tem vida.
"Seria muita casualidade encontrar algo logo de saída", diz.
Fonte: Folha Online
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