O que é a gripe suína?
É uma doença respiratória que atinge porcos causada pelo vírus influenza tipo A, que tem diversas variantes. Algumas das mais conhecidas são a H1N1, a H2N2 e a H3N2.
O atual surto, que teve início na América do Norte, é provocado por uma versão mutante do vírus H1N1 capaz de infectar humanos e se propagar de pessoa para pessoa.
Quais são os sintomas da gripe suína?
A sintomatologia clássica da doença engloba febre, dores musculares, tosse, dor de cabeça, irritação na garganta e secreções nasais. Os vírus se multiplicam no epitélio ciliado das vias respiratórias superiores e inferiores, causando necrose celular e irritação. Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa, dependendo da idade, de seu estado geral de saúde e, do “status” imunológico no que se refere a infecções anteriores, podendo evoluir para complicações como pneumonia causada pela propagação viral no epitélio alveolar e/ou pneumonia bacteriana secundária. Anualmente mais de 10% da população mundial, cerca de 600 milhões de pessoas são acometidas pelo vírus da gripe. Somente nos Estados Unidos, a doença causa cerca de 110.000 hospitalizações com 36.000 mortes todos os anos. Idosos com idade igual ou superior a 65 anos constituem o grupo de maior risco de morte por influenza. Cerca de 90% das mortes causadas pela gripe ocorrem nessa faixa etária. A doença afeta também a classe economicamente ativa, o que causa queda de produtividade e, conseqüentemente prejuízos financeiros.Transmissão:
A influenza é transmitida por aerossóis e perdigotos. Quando as gotículas contendo os vírus são inaladas, esses entram em contato com o epitélio do trato respiratório, sendo esse o tecido primário alvo para os vírus influenza. A glicoproteína de superfície NA é uma enzima que age nos ácidos siálicos do muco facilitando o acesso do vírus para que haja contato direto com a membrana celular. As partículas virais, através da HA ativada, ligam-se a receptores de ácido siálico presentes em glicoproteínas e glicolipídios da superfície celular. E iniciam o ciclo infeccioso.
Os vírus influenza do tipo A e B quando adaptados a condições laboratoriais, assumem forma esférica com diâmetros de 80 a 120 nm. No entanto, as cepas recém isoladas são pleiomórficas, podendo conter partículas virais filamentosas. O genoma viral é composto por segmentos de RNA de fita simples e de polaridade negativa. Cada um dos oito segmentos dos vírus influenza tipo A e B e, os sete segmentos do vírus influenza tipo C estão associados à nucleoproteína NP em conjunto a um complexo de polimerase viral. Assim, forma-se um complexo ribonucleoprotéico composto por RNA viral (vRNA), NP e polimerases. Englobando os complexos ribonucleoprotéicos, há uma matriz protéica constituída por proteínas M1, a qual é envolvida por uma bicamada lipídica derivada da célula hospedeira. Duas glicoproteínas de superfície, codificadas pelo genoma viral, projetam-se através da bicamada lipídica. Dessas, a hemaglutinina (HA) é a mais abundante e, apresenta-se na forma de bastão. Já a neuraminidase (NA), presente em menores quantidades, apresenta-se na forma de cogumelo. Ainda, uma terceira proteína, formadora de canais e denominada de M2, encontra-se inserida na bicamada lipídica.
Ciclo Viral
O vírion é endocitado pela célula hospedeira, após sua ligação a superfície. O pH baixo da vesícula endocítica induz mudanças conformacionais na HA facilitando sua inserção na membrana vesicular, iniciando a fusão das membranas viral e vesicular. Os nucleocapsídeos virais migram para o núcleo da célula hospedeira e, as proteínas com atividade de polimerase iniciam a transcrição dos RNAs do vírion (vRNAs) em RNAs mensageiros (mRNAs). A síntese de mRNA do vírus da influenza é iniciada por fragmentos de RNAs celulares recém sintetizados pela RNA polimerase II da célula hospedeira, os quais já possuem a modificação “cap” (m7GPPPNm) nas suas extremidades 5’. A partir desses iniciadores de transcrição, as cadeias de mRNA são elongadas pela transcriptase viral até que esta atinja uma região terminadora composta por uma seqüência de 5 a 7 nucleotídeos de uridina localizada aproximadamente a 16 nucleotídeos da extremidade 5’ do vRNA molde. Nesse ponto da síntese, é adicionada uma cauda de poliadenilato [poli (A)] à extremidade 3’ do mRNA. Participam do processo de transcrição, compondo o complexo da transcriptase viral, as proteínas PB1, PB2 e PA. A polimerase PB2 atua no reconhecimento e quebra das extremidades 5’ modificadas dos mRNAs celulares e, portanto inicia o processo de transcrição. A polimerase PB1 é responsável pelo processo de elongação do mRNA viral. A função da polimerase PA na transcrição primária ainda não é conhecida, no entanto este polipeptídio é necessário para a transcrição e replicação do vRNA. Os transcritos produzidos são utilizados na tradução das proteínas virais. No início da infecção predominam as sínteses de NP e NS1, proteínas essas que migram para o núcleo. Acredita-se que o aumento da concentração de NP livre dispare a mudança da síntese de mRNA (transcrição) para a síntese de cRNA e vRNA (replicação). A replicação é feita através de um processo de transcrição alternativo, que resulta na produção de cópias integrais de vRNAs. A replicação é iniciada pela síntese de RNAs complementares (cRNA), os quais diferem dos mRNAs pelas ausências das modificações 5’ “cap” metiladas e caudas de poli A 3’. Assim, a primeira etapa na replicação dos vRNAs seria a mudança de síntese de mRNA para síntese de cRNA. Os requisitos para esta mudança são: (1) a mudança do processo de iniciação de transcrição, o qual era dependente de iniciadores 5’ "capped", para um processo de iniciação que não requer iniciadores e; (2) antiterminação no sítio de poliadenilação, permitindo que a transcrição de cRNA gere uma cópia completa do vRNA. Acredita-se que NP tenha papel fundamental na mudança de síntese de mRNA para cRNA, como descrito acima. Finalizando o processo de replicação, moléculas de cRNA atuam como molde para a síntese do vRNA genômico. Os vRNAs recém-sintetizados são encapsidados pela NP no interior do núcleo e, funcionam como moldes para a transcrição de mRNAs virais da infecção tardia. Os principais produtos de tradução nesta etapa da infecção são as proteínas M1, HA e NA. HA e NA são processadas após a tradução no retículo endoplasmático rugoso e, transportadas para a superfície celular apical via complexo de Golgi. A entrada da proteína M1 no núcleo celular parece estar associada com a migração de nucleocapsídeos para fora do núcleo, culminando com a montagem das partículas virais no citoplasma. Pouco se sabe a respeito do processo de montagem dos vírus da influenza. Acredita-se que nucleocapsídeos envolvidos por uma cápsula de proteína M1 migrem para a face interna da membrana plasmática, para onde já foram transportadas as glicoproteínas HA, NA e M2. Foi proposto que a interação de M1 com os domínios citoplasmáticos dessas 3 glicoproteínas sinalize o processo de brotamento. A atividade da neuraminidase na superfície da célula infectada destrói o receptor de HA, permitindo que as partículas virais geradas sejam propagadas e, evitando a adsorção destas partículas à mesma célula. O passo final na maturação dos vírus é a clivagem de HA0 em HA1 e HA2 por proteases extracelulares do hospedeiro.
Esta doença no México é um novo tipo de gripe suína?
A Organização Mundial de Saúde (OMS) confirmou que alguns dos casos registrados são formas não conhecidas da variedade H1N1do vírus Influenza A.
Ele é geneticamente diferente do vírus H1N1 que vem atacando humanos nos últimos anos e contém DNA associado aos vírus que causam as gripes aviária, suína e humana, incluindo elementos de viroses europeias e asiáticas.
Os vírus da gripe têm a capacidade de trocar componentes genéticos uns com os outros, e parece provável que a nova versão do H1N1 resultou de uma mistura de diferentes versões do vírus, que podem normalmente afetar espécies diferentes no mesmo animal hospedeiro.
Os porcos normalmente oferecem uma condição boa para que esses vírus se misturem.
O quanto as pessoas devem se preocupar?
Quando um novo tipo de vírus da gripe aparece e adquire a capacidade de ser transmitido de pessoa para pessoa, é monitorado de perto para verificar seu potencial de gerar uma epidemia global, ou pandemia.
A Organização Mundial da Saúde advertiu que, considerados em conjunto, os casos no México e nos Estados Unidos podem gerar uma pandemia e afirma que a situação é séria.
Porém os especialistas dizem que ainda é muito cedo para avaliar completamente a situação.
Atualmente, eles dizem que o mundo está mais perto de uma pandemia do que em qualquer época após 1968.
Ninguém conhece todo o impacto potencial de uma pandemia, mas especialistas advertem que poderia custar milhões de vidas em todo o mundo.
A pandemia de gripe espanhola, iniciada em 1918 e também causada por um tipo de vírus H1N1, matou 50 milhões e infectou 40% da população mundial.
Mas o fato de que em todos os casos registrados nos Estados Unidos os sintomas eram leves pode ser encorajador.
Isso sugere que a gravidade do foco no México pode ser resultante de algum fator específico ligado à localização - possivelmente um segundo vírus não relacionado que circula na comunidade.
Outra hipótese é de que as pessoas infectadas no México podem ter buscado tratamento num estágio posterior da doença.
Também pode ser o caso de que a forma do vírus circulando no México seja ligeiramente diferente da registrada em outros lugares, mas isso só poderá ser confirmado por análises de laboratório.
Também há a esperança de que, como os seres humanos são normalmente expostos a formas do H1N1 por meio de gripes sazonais, nossos sistemas imunológicos já estão preparados para combater a infecção.
Porém o fato de que muitas das vítimas serem jovens aponta para algo incomum. As gripes sazonais normais tendem a afetar mais os idosos ou os bebês.
O vírus pode ser contido?
O vírus parece já ter começado a se espalhar pelo mundo, e muitos especialistas acreditam que a sua contenção, numa era de viagens aéreas fáceis, deverá ser muito difícil.
A gripe suína pode ser tratada?
As autoridades americanas dizem que duas drogas geralmente usadas para tratar casos de gripe, Tamiflu e Relenza, se mostraram úteis no tratamento de casos que aconteceram até agora.
Porém esses remédios devem ser ministrados nos estágios iniciais da doença para terem efeito.
O uso desses medicamentos também torna mais difícil que pessoas infectadas passem o vírus para outros.
Ainda não está claro que efeito as atuais vacinas podem ter para oferecer proteção contra o novo tipo do vírus, já que ele é geneticamente diferente de outros tipos.
Uma vacina foi desenvolvida em 1976 para proteger os seres humanos de um tipo de gripe suína.
Porém a vacina provocou efeitos colaterais graves, com mais mortes por causa da vacina do que por causa do foco de gripe.
O que eu devo fazer para me proteger?
Qualquer pessoa com sintomas de gripe e que podem ter tido contato com o vírus da gripe suína, como aqueles que moram em áreas afetadas do México ou viajaram para o país, devem procurar ajuda médica.
Mas os pacientes não devem ir a clínicas médicas, para evitar transmitir a doença para outras pessoas. Em vez disso, elas devem ficar em casa e contactar seus serviços de saúde para receber recomendações.
Nesta segunda-feira, a União Europeia recomendou aos seus cidadãos que evitem viajar às áreas afetadas pela doença.
Que medidas posso tomar para evitar a infecção?
Evite contato com pessoas que parecem não estar bem e que tenham febre e tosse.
Medidas comuns para se evitar infecções e de higiene manual podem ajudar a reduzir a transmissão de viroses, incluindo a gripe suína em humanos.
Estas medidas podem ser simples como cobrir a boca e o nariz quando tossindo ou espirrando, usar um lenço de papel quando possível e jogando-o fora logo após o uso.
É importante também lavar as mãos frequentemente com água e sabão para evitar que o vírus se propague de suas mãos para a face ou para outra pessoa. Outra providência é limpar a maçaneta de portas com frequência, usando produtos normais de limpeza.
Ao cuidar de uma pessoa gripada, o uso de máscara cobrindo o nariz e a boca diminui o risco de transmissão.
É seguro comer carne de porco?
Sim, não há evidência de que a gripe suína pode ser transmitida ao se comer carne de animais infectados.
Mas é essencial que a carne tenha sido cozida direito. Uma temperatura acima de 70°C mataria o vírus.
E a gripe aviária?
O tipo de vírus da gripe aviária responsável pela morte de algumas centenas de pessoas no sul da Ásia nos últimos anos é diferente do da gripe suína.
O vírus da atual gripe suína é o H1N1 e o da gripe aviária é oH5N1.
Especialistas temem que o H5N1 tem o potencial de gerar uma pandemia por causa de sua capacidade de mutação rápida.
Mas até agora, ela permanece de forma geral uma doença de pássaros.
Os humanos infectados, sem exceção, trabalhavam em contato próximo com pássaros e casos de transmissão entre humanos são extremamente raros. Não há indícios de que o H5N1 tem a habilidade de ser transmitido facilmente de uma pessoa à outra.
Fonte: BBC Brasil
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