Duas décadas depois do acidente nuclear na usina de Chernobyl, na antiga União Soviética, a radiação ainda provoca um declínio na população de insetos e aranhas da região, segundo estudo publicado na revista especializada Biology Letters.
De acordo com os pesquisadores que trabalham na zona de exclusão estabelecida em torno da usina, há "um forte sinal de declínio associado à contaminação".
Os cientistas concluíram que as populações de espécies de abelhas, borboletas, gafanhotos, libélulas e aranhas foram afetadas.
O estudo foi liderado pelo professor Timothy Mousseau, da Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, e por Andrés Moller, da Université Paris-Sud. Os dois já haviam publicado uma pesquisa mostrando que a radiação da área teve impacto negativo sobre as populações de passarinhos.
"Nós queríamos expandir a cobertura de nosso estudo para incluir insetos, mamíferos e plantas", disse Mousseau. "Este estudo é o próximo da série".
Zona fantasma
O professor Mousseau trabalha há quase uma década na zona de exclusão - a área contaminada em torno da usina que foi evacuada e onde hoje não há praticamente ninguém morando.
Neste estudo, os cientistas usaram o que Mosseau descreveu como "técnicas ecológicas padrão" - usando "linhas" em áreas selecionadas e contando o número de insetos e teias de aranhas que eles encontram ao longo destas linhas.
Ao mesmo tempo, os pesquisadores usaram unidades manuais de GPS e aparelhos para monitorar os níveis de radiação.
"Usamos as linhas nas áreas contaminadas em Chernobyl, em terra contaminada na Bielorrússia e em áreas livres de contaminação", disse Mousseau.
"Encontramos o mesmo padrão básico nessas áreas - os números de organismos declinam com o aumento da contaminação."
Segundo o pesquisador, esta técnica de contagem de organismos é mais eficiente porque leva em conta as diferenças entre os níveis radiação na zona estudada.
"Nós podemos comparar áreas relativamente limpas às mais contaminadas", explicou ele.
Florescendo ou morrendo?
Mas alguns pesquisadores questionaram as conclusões, afirmando que a falta de atividade humana na zona de exclusão beneficiou a vida selvagem.
O pesquisador Sergii Gashchak, do Centro Chernobyl, na Ucrânia, afirmou que sua equipe chegou a "conclusões opostas" com os mesmos dados coletados sobre pássaros.
"A vida selvagem realmente floresce na área de Chernobyl por causa do pequeno nível de influência humana", disse Gashchak à BBC.
Depois do acidente, os organismos vivos não conseguiram suportar a radiação no local, "mas 10 anos depois do acidente, as doses (de radiação) caíram de 100 a mil vezes".
O professor Mousseau respondeu que seu objetivo é usar o local para descobrir os verdadeiros efeitos da contaminação por radiação sobre o ambiente a longo prazo.
"Os estudos de longo prazo no ecossistema de Chernobyl oferecem uma oportunidade única de explorar esses riscos potenciais que não devem ser ignorados."
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