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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Especialistas desmentem mitos sobre nova gripe disseminados na internet


E-mails chamam vacina de 'assassina' e passam remédios caseiros. Entidades e pessoas citadas nas mensagens desmentem afirmações.

Com medo da nova gripe, internautas estão caindo na armadilha de hackers, de teorias conspiratórias e até de pessoas bem-intencionadas que acabam, sem querer, espalhando pânico e desinformação pela internet.

O G1 ouviu especialistas para tentar esclarecer os principais mitos em relação aos e-mails que circulam sobre a gripe A (H1N1) na rede.


Unimed desmentiu afirmações do e-mail. (Foto: Reprodução)


Um dos e-mails mais disseminados traz uma suposta conversa em um comunicador instantâneo entre um usuário identificado apenas como “deco”, que se diz médico de Curitiba filiado à Unimed, e uma mulher, também de Curitiba, chamada Lívia Aguiar (que usa o nome “Lilis” na conversa).

O nome de Lívia também assina o email, se identificando como “doutora” e “fisioterapeuta especialista em acunpuntura”, ao lado de dois números de telefone, um fixo e um de celular.


O G1 ligou para os dois números. O celular caiu direto na caixa postal lotada. O telefone fixo ficou chamando, sem ser atendido, até cair em uma gravação que dizia que o número não existia.

O Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacinal do Paraná afirma que não pode dar informações sobre se existe ou não uma Lívia Aguiar registrada na entidade.

Em nota, a diretoria do órgão disse que “tomou conhecimento do caso em questão e imediatamente deu início à apuração rigorosa deste episódio.”



O telefone celular da mensagem cai direto na caixa-postal. O número fixo não atende. (Foto: Reprodução)


Na conversa, “deco” conta a “Lilis” sobre supostas mortes entre os médicos da capital paranaense após “reuniões com uns medicos da Unimed” [sic].

Na mensagem, ele afirma: “morreram 12 medicos em Curitiba já, 3 deles cooperados da Unimed”; “as operadoras de saude, tao recebendo oficios do governo pra nao divulgar dados” [sic].


A Unimed Curitiba divulgou nota desmentindo a afirmação. “Trata-se de um documento apócrifo que traz fatos que não correspondem à verdade e que lamentavelmente acaba por alarmar a população de modo absolutamente irresponsável”, afirma a entidade.


Segundo “deco”, um jantar entre médicos teria sido desmarcado por um “Dr. Marclo Tizzot, que foi o cara que diagnosticou o primeiro caso da gripe em Ctba” [sic].

Nos registros do Conselho Regional de Medicina do Paraná não existe nenhum “Marclo Tizzot”. Também não existem Marco Tizzot, Marcos Tizzot ou Márcio Tizzot. Há um Marcelo Tizzot, endocrinologista de Curitiba.


A citação a Tizzot no e-mail fez tantas pessoas o procurarem que ele parou de divulgar e atender seu próprio telefone. Na sede da empresa de planos de saúde Uniclínicas, a qual Tizzot é filiado, a telefonista afirma que está proibida de passar o número do médico.

“Ele passou a orientação apenas de dizer para todo mundo que liga que é mentira essa história do e-mail. Ele não tem nada a ver com a gripe”, diz ela.


Marclo Tizzot não existe. O endocrinologista curitibano Marcelo Tizzot diz nada ter a ver com a gripe e que as afirmações do e-mail são mentirosas. (Foto: Reprodução)


Na mensagem, “deco” faz outras afirmações enganosas. Por exemplo: “eles não sabem o que fazer a partir do quinto dia da doença se não curar até lá”, “tão colocando as pessoas em coma induzido para amenizar o sofrimento” e “a solução é só se diagnistitcar ela ante do vírus chegar no pulmao” [sic].


O infectologista Edimilson Migowski, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que a maioria dos casos da doença, mesmo os que evoluem para pneumonia, tem sintomas leves.

“A maior parte evolui muito bem, sem maiores problemas. Se a pessoa receber uma assistência adequada, a chance de recuperação é grande”, afirma.


A avaliação é a mesma do também infectologista Antônio Pignatari, do Hospital 9 de Julho, de São Paulo. “Não há motivo para pânico.

A grande maioria é bem levinho, tranquilo. É só procurar o médico caso os sintomas sejam mais fortes”, afirma.


Migowski também esclarece: “não há ninguém em coma induzido. Isso é aquele exagero que surge nessas situações em que a população está assustada.”


'Vacina assassina'


Outro email que tem espalhado medo na população diz que a vacina contra a nova gripe é uma forma de fazer um “genocídio em massa do planeta”.


Mensagem começa com erro logo na primeira linha. (Foto: Reprodução)


A mensagem começa com um erro básico logo nas primeiras linhas, ao confundir a vacina com o Tamiflu. “Principalmente, sobre NÃO tomar essa vacina assassina que estão querendo que seja compulsória acho que é Tamiflu” [sic].

O Tamiflu não é a vacina. É o remédio antiviral usado para o tratamento da doença. A confusão entre o medicamento e a vacina se repete outras vezes ao longo da mensagem.

Segundo o e-mail, a vacina seria fatal por conter duas substâncias que chama de “altamente tóxicas”, mas que são, na verdade, não apenas seguras, mas utilizadas em outras vacinas: o mercúrio e o óleo de esqualeno.

O mercúrio usado na nova vacina não é o mesmo mercúrio tóxico, que existe na natureza. Ele é na verdade, o “etilmercúrio”, um composto completamente diferente do venenoso “metilmercúrio”, explica Edimilson Migowski.

“O etilmercúrio é um conservante que mantém a vacina própria para uso depois que o frasco foi aberto”, afirma o médico.

O infectologista Renato Grinbaum, do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual, de São Paulo, também ressalta a segurança do conservante. “É um mercúrio diferente, perfeitamente seguro”, afirma.

O etilmercúrio é usado em outras vacinas, que constam do calendário brasileiro, conta Migowski. “Toda vacina que vem em frascos de múltiplas doses tem esse conservante”, explica o médico.

Exemplos? A vacina contra hepatite B, a dupla bacteriana, a tríplice contra difteria, tétano e coqueluche e a vacina contra gripe comum.

O “óleo de esqualeno”, por sua vez, é uma substância natural produzida por plantas, animais e até seres humanos.

Todas as pessoas já têm esqualeno em seu organismo: ele é produzido pelo fígado e se espalha pelo sistema circulatório.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a substância é utilizada como aditivo nas vacinas contra os vírus influenza – ela aumenta a resposta imune do organismo.

“O esqualeno é adicionado para melhorar a eficácia de diversas vacinas experimentais, como a da gripe pandêmica e a da malária, que estão me desenvolvimento”, afirma a entidade.

Desde 1997, a OMS já administrou mais de 22 milhões de doses de vacinas contra gripe contendo esqualeno. “Nenhum efeito colateral severo foi encontrado”, afirma a organização.


Erva-doce


Outro email que tem circulado bastante prega que as pessoas usem erva-doce contra a nova gripe no lugar do Tamiflu.


Anis encontrado na China é diferente do encontrado no Brasil. (Foto: Reprodução)


A mensagem começa com uma informação verdadeira: a de que o medicamento contém um princípio ativo retirado de uma especiaria chamada de “anis estrelado”, encontrada na China.

A partir disso, o autor orienta que “como é difícil encontrar o anis estrelado aqui no Brasil”, as pessoas usem erva-doce, que teria o mesmo princípio ativo.


Segundo o médico Edimilson Migowski, isso não é verdade. “O fato de um anis na China ter um princípio ativo qualquer não significa que um anis no Brasil vá ter também”, explica o infectologista.

“Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Não é por que uma uva dá um bom vinho, que outra uva de outro lugar vá fazer uma bebida da mesma qualidade”, diz ele.


O laboratório Roche, fabricante do Tamiflu, não se manifesta sobre emails da internet, mas em seu site a farmacêutica tem um tira-dúvidas sobre o medicamento.

Ali, explica: “a matéria-prima do processo produtivo do Tamiflu é o ácido chiquímico, extraído das vagens (a parte que embrulha as sementes, em forma de um octágono) do anis estrelado”, afirma a nota.

“A Roche usa um tipo específico de anis encontrado em quatro províncias montanhosas no sudoeste da China que oferece uma pureza e uma safra muito maiores do que os encontrados em outros locais.”

Para o infectologista Antônio Pignatari, não há nada errado na população consumir o chá de erva-doce. “Minha avó já dizia: a cura da gripe é repouso e caldo de galinha.

Se o caso não for grave, pode tomar à vontade”, afirma o médico. “Se os sintomas piorarem, no entanto, a pessoa precisa procurar o médico para tomar o Tamiflu”, orienta.


Tire suas dúvidas


O Ministério da Saúde mantém uma página na internet que responde perguntas sobre a nova gripe (clique aqui). A população pode se informar também através do telefone do Disque Saúde: 0800 61 1997.

Fonte: globo.com/arquivosdoinsolito

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