A busca por vida fora da Terra, uma das obsessões do ser humano, acaba de ganhar uma importante contribuição brasileira.
A molécula adenina, um dos quatro alicerces do DNA, indispensável para a vida, foi obtida em simulação das condições de Titã, uma das luas de Saturno. O experimento foi realizado no Laboratório Nacional de Luz Síncroton, em Campinas (SP).
De acordo com o pesquisador Sergio Pilling, um dos responsáveis pelo trabalho, a descoberta indica a possibilidade, ainda que remota, de vida no local.
"As moléculas poderiam culminar nisso se o astro fosse mais quente no passado, ou se houver uma mudança de temperatura no futuro", diz o astrônomo.
A superfície dessa lua é muito fria, da ordem de -200 ºC, de acordo com Pilling. "Nenhum metabolismo que a gente conhece sobrevive a esta temperatura, a não ser em estado embrionário", explica.
Ainda assim, estes são resultados de peso para a astronomia brasileira, diz Diana Andrade, outra pesquisadora responsável pelo estudo.
"Todo o trabalho foi feito no Brasil, e é de mesmo nível de algo da Nasa [agência espacial norte-americana]", comemora.
Segundo os autores, a formação das moléculas-chave foi conseguida com radiação mais energética que a convencional utilizada anteriormente.
Outros pesquisadores na Europa e Estados Unidos até conseguiram gerar a molécula de adenina em simulação para Titã, mas foi com feixe de elétrons.
É uma diferença relevante, porque esta lua é na verdade irradiada por fótons de raios-X, que foram os utilizados de forma pioneira no trabalho brasileiro. Isso torna o resultado mais plausível.
Apesar de terem realizado o trabalho quando eram associados à PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), a dupla de astrônomos acaba de ingressar na Univap (Universidade do Vale do Paraíba), em São José dos Campos (SP), em agosto.
Lá, pretendem implementar um núcleo de pesquisas na área e aprofundar os estudos, com possível apoio da Fapesp.
Semelhanças com a Terra
A sonda espacial Cassini, missão conjunta de europeus e norte-americanos, tem revelado uma série de fenômenos em Titã que mostram algum paralelo com aspectos da Terra, como a paisagem de lagos, rios e chuvas de metano --que equivale à água nessa lua de Saturno.
O último aspecto similar ao terrestre apresentado, na Assembleia Geral da IAU (União Astronômica Internacional), no Rio --entre 3 e 14 de agosto--, foi a atividade geológica em Titã: uma espécie de vulcanismo, mas frio.
Em junho passado, cientistas alemães e britânicos revelaram, em artigo publicado na revista "Nature", que Encélado, outra das luas de Saturno, oculta um oceano salgado sob sua superfície do polo sul. O achado pode ter implicações para potencial vida extraterrestre também neste astro.
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