Em junho de 1833, Charles Darwin pediu ao capitão da embarcação HMS Beagle que atrasasse a partida de Tierra del Fuego para que ele pudesse estudar um grupo estranho de rochedos de granito que ele havia encontrado na costa da Bahía San Sebastian.
"Um deles, com um formato de celeiro, tinha 14 metros de circunferência e se projetava 1,5 metro acima da praia", ele posteriormente escreveu.
"Havia muitos outros com metade desse tamanho e eles devem ter viajado pelo menos 144 km de seu rochedo de origem."
O que tornava os rochedos incomuns era que, fora as cerca de 500 grandes rochas espalhadas em uma região longa em forma de banana, não havia outros rochedos nas proximidades. Darwin ficou perplexo. Como as rochas haviam chegado lá?
"Darwin é conhecido principalmente pela evolução e seleção natural", diz Edward Evenson, geólogo glacial da Universidade Lehigh em Bethlehem, Pensilvânia - mas seus interesses eram mais amplos.
"Darwin se considerava um geólogo", Evenson disse em recente encontro da Sociedade Geológica da América em Portland, Oregon.
Na América do Sul, as rochas misteriosas não foram tudo que Darwin encontrou. Ele também viu paisagens praianas, centenas de metros acima das águas do Pacífico de hoje.
Ele viu rochas incrustadas em gelo glacial e ouviu pelo menos um relato de um iceberg rochoso flutuando no alto mar.
Os rochedos, ele concluiu, haviam se desprendido de montanhas e foram levados por geleiras mar adentro.
Os icebergs encalharam nos bancos de areia, derreteram e depositaram sua carga rochosa no leito do mar, onde uma elevação subsequente ergueu as rochas sobre as ondas.
Em forma de picles
Era uma boa teoria, mas infelizmente, disse Evenson, que recentemente revisitou o local como parte de um projeto de mapeamento, ela não funciona.
Para começar, ele disse, existe outro grupo similar de rochas em um lugar chamado Bahía Inútil. Esse grupo era composto de mil grandes rochedos, também espalhados por uma zona alongada, cujo contorno Evenson comparou a um picles ou pepino em conserva, com oito quilômetros de extensão e dois quilômetros de largura. "Darwin nunca viu essas rochas", ele disse.
Se ambos os grupos tivessem sido carregados por icebergs, esses icebergs teriam que ser extraordinariamente parecidos.
No entanto, ambos os grupos de rochas eram angulares, indicando que haviam sido carregados no topo do gelo, ao invés de empurrados em sua parte frontal.
"Onde grandes rochedos angulares são carregados por geleiras hoje?", Evenson perguntou. "Em deslizamentos de pedras."
O formato da área onde estavam os rochedos deu outra pista: como o fluxo das geleiras é mais rápido no centro do que nas beiradas, fragmentos de deslizamentos tendem a se estender em elipses cada vez mais longas enquanto descem um vale.
Finalmente, ele disse, a rocha deve ter caído sobre a geleira em algum lugar acima da zona onde a neve derrete mais rápido do que se acumula.
Daí para cima, Evenson disse, as geleiras tendem a ser côncavas, possibilitando que as rochas deslizem para longe.
Em altitudes mais baixas, as geleiras tendem a ser mais convexas, aprisionando as rochas perto das beiradas.
Juntando todas essas pistas, Evenson foi capaz de determinar três possíveis locais de origem da queda das rochas, sendo que a mais provável delas fica ao lado de um afluente chamado Parry Glacier, a 200 quilômetros dos locais atuais dos rochedos.
Quando o fluxo de um grupo mais ou menos circular de rochas surge a partir desse local, ele disse, "acabamos com um picles em Bahía Inútil e uma banana em San Sebastian".
Outros cientistas ficaram impressionados. "Foi bem convincente", disse Kevin Padian, curador do Museu de Paleontologia da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
Ele observa, no entanto, que Darwin não estava completamente errado. "Ele acertou na ideia geral de onde (as rochas) vieram e em qual direção elas estavam indo, mas não percebeu que elas foram carregadas por uma geleira", Padian disse. "Ele achou que elas foram carregadas por icebergs."
Fonte: Terra/arquivosdoinsolito
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