A origem da bruxaria está nos problemas metafísicos da raça humana. Os primeiros bruxos e bruxas foram indivíduos que escolheram empregar sua ousadia, seu tempo e sua inteligência, memória e capacidade de observação na solução de problemas nos quais as relações diretas de causa e efeito não são perceptíveis, são ocultas à observação direta. As preocupações físicas do homem atual são, conceitualmente, quase as mesmas dos ancestrais pré-históricos e atentam à manutenção da vida: sustento (comer, beber, vestir, emprego, dinheiro etc.), abrigo (casa), sexo e engajamento social (proteção de um grupo). Algo semelhante ocorre com as preocupações metafísicas, de fundo escatológico (finalista), assombrações do fantasma da morte. A morte ocupa a mente humana desde o Homem de Neanderthal. Uma tumba rudimentar foi uma das primeiras descobertas arqueológicas relacionadas a este tipo ancestral, que existiu há cerca de 100 mil de anos, coexistiu e se miscigenou com a espécie Homo Sapiens:
Antes que o Paleolítico chegasse ao fim, o homem de Neanderthal alcaçava um certo progresso cultural. Nas entradas das cavernas em que vivia ...descobriram-se eiras (área de solo batido) em que era trabalhado o sílex e lareiras de pedra, onde, ao que parece, eram alimentadas enormes fogueiras. Isto sugere a origem da cooperação e da vida grupal ...Maior significado, porém, possui a prática neanderthalense de dispensar cuidados aos defuntos, enterrando-os em sepulturas rasas junto com utensílios e outros objetos de valor. Isso indica, talvez, o desenvolvimento de um sentimento religioso ou, pelo menos, a crença em alguma espécie de sobrevivência após a morte.
Tais práticas são encontradas ainda mais sofisticadas em habitats dos Homens de Cro-Magnon. ...Existem provas suficientes de que o homem de Cro-Magnon tinha idéias muito evoluídas sobre um mundo de forças invisíveis. Dispensava mais cuidados aos corpos dos defuntos que o homem de Neanderthal, pintando os cadáveres, cruzando-lhes os braços sobre o peito e depositando, nas sepulturas, pingentes, colares, armas e instrumentos ricamente lavrados. Formulou um complicado sistema de magia simpática destinado a aumentar a provisão de alimentos. A magia simpática baseia-se no princípio qde que imitando um resultado desejado, se produz esse resultado.
Seguindo este princípio, o homem de Cro-Magnon fez pinturas nas paredes de suas cavernas representando a captura de renas, nas caça; ou esculpiu a imagem do urso das cavernas com o dorso transpassado por azagaias. Modelou bisões e mamutes em argila de depois mutilou-os com golpes de dardo. ...Encantamentos e cerimônias acompanhavam, talvez, a execução das pinturas e imagens e, é provável, que o trabalho de produzí-las fosse realizado enquanto a verdadeira caçada estava em andamento. ...O significado da arte do homem das cavernas esclarece muitas questões relativas à mentalidade e aos costumes primitivos.
Mas as principais obras de arte dificilmente teriam sido produzidas com o fim de criar coisas belas. ...As melhores pinturas e desenhos, geralmente, se encontram nas paredes e tetos das mais escuras e inacessíveis partes das cavernas. Há sinais que o homem de Cro-Magnon olhava com grande indiferença os aspecto artístico de suas obras de arte. Muitas vezes usava a mesma superfície para uma nova produção. ...O importante não era a obra acabada em si mesma, mas o ato de fazê-la. Para o homem paleolítico a verdadeira finalidade da arte era tornar mais fácil a luta pela existência. O próprio artista não era um esteta mas um mágico e sua arte era uma forma de magia destinada a promover o êxito de um empreendimento. MacNALL BURNS, 1975.
A consciência da morte e as idéias especulativas sobre a morte, esta é mais uma característica da condição humana. Todos os fenômenos que ameaçam a vida despertam terrores: as doenças, as catástrofes, violências da Natureza, o sofrimento, dores do corpo e da alma, o destino. São problemas que a agricultura, o pastoreio, a engenharia, a arquitetura, a tecelagem e olaria, não resolvem. Uma comunidade humana precisa de especialistas em dificuldades metafísicas. Os armeiros cuidam de prover os equipamentos de guerra; os caçadores providenciam alimento; os artesão, utensílios e assim por diante.
O feiticeiro, a feiticeira, cuida da tristeza, cuja causa ninguém alcança; cuida da sorte, que ninguém pode prever; cuida da dor na cabeça, cuja fonte ninguém enxerga. Por suas atribuições, o feiticeiro é um especialista em palavras, com suas fórmulas verbais, seus cantos; em performances gestuais, com seus rituais, suas danças; mas também é um botânico conhecedor das propriedades de ervas e outras substâncias; e um artista, que freqüenta as profundezas das cavernas para reprodutuzir nas paredes rochosas, como quem cria realidades, o retrato do próprio futuro situações de vitória e derrota envolvendo homens, mulheres e animais.
A bruxaria foi a primeira religião, a primeira arte e a primeira das ciências humanas e naturais da humanidade. Suas práticas estão presentes em todos os núcleos primitivos de desenvolvimento de sociedades humanas em todo o planeta. Não há império, cultura ou nação cuja história não contenha bruxaria. Porque a bruxaria é a religião e a ciência cotidianas do povo; é maneira como as pessoas simples lidam com a metafísica dos fenômenos: a doença, o sofrimento, o inimigo invisível, a morte. Bruxos e Bruxas existem na China, Japão, Índia, Leste Europeu, Países Baixos, Francos, Anglo-saxões, Íberos, Mediterrâneos, Árabes e Israelenses, Norte-americanos, aborígenes do Pacífico, brasileiros, argentinos, cubanos.
A essência é a mesma: a Bruxaria, em todos os lugares, consiste em agir sobre a realidade (ou sobre o problema), presente ou futura, por meio de "simpatias", ou melhor, estabelecendo "simpatias". A SIMPATIA é um contato; é um meio de relação com o objeto através do pensamento simpático manifestado por gestos que guardam analogia com o que se pretende. O "pensamento simpático" é uma idéia concentrada, intensa, dirigida ao objeto ao qual se refere e ao efeito que se pretende produzir. Por isso, no simbolismo das SIMPATIAS, são usadas substâncias e executadas ações tidas como atrativas ou repulsivas de acordo com o senso geral. Mel, flores e cores alegres para casos de amor; fotos queimadas e bonecos de cera espetados, velas negras, nomes costurados na boca de sapos, para ações de ódio ou rejeição. É o mesmo princípio do feiticeiro pré-histórico, que agia por analogia, combatendo e matando o bisões e antílopes traçados na parede da caverna; ou reproduzia um homem com o falo destacado e uma mulher gorda de grandes seios, quando desejava promover o aumento de uma prole.
Bruxos e Bruxas
A primazia da mulher como precursora da bruxaria é enfatizada por muitos autores "exotéricos" que defendem esta idéia enfatizando a hipótese do sistema de hierarquia matriarcal das comunidades primitivas pré-históricas. Argumentam ainda com descobertas arqueológicas de estatuetas representando mulheres opulentas, as Vênus do Neolítico, consideradas como representações de Deusas-Mãe e objeto de culto. Ocorre que, objetivamente, as estatuetas e suposto sistema matriarcal não justificam afirmar o pioneirismo feminino nas práticas mágicas. Não há evidências arqueológicas deste fato assim como não há indícios de que os homens sejam precursores.
O mais provável é a simultaneidade das idéias e práticas da magia entre homens e mulheres. Reflexão e inventividade jamais foram acentuados em virtude do sexo do indivíduo. No que se refere às origens da bruxaria pode-se especular sobre uma tênue divisão de sexos em função de certas especialidades: algumas práticas a cargo de homens, principalmente; outras, talento notável de mulheres. Todavia, não deveriam existir restrições severas ao trânsito dos sexos entre as práticas.
A lógica indica que coube às mulheres a habilidade com a "magia curativa" das ervas e de outras substâncias de origem animal ou mineral. Isso se justifica pela natureza das atividades femininas no cotidiano (coleta, intimidade com as plantas) e pelo conhecimento dos ciclos biológicos relacionados às fases lunares, fenômeno muito nitidamente experimentado em seus próprios corpos. As mulheres devem ter sido também talentosas artesãs de objetos, artistas da pinturas e ornamentos corporais e da dança ritual. Os homens estão claramente relacionados à magia simpática das artes plásticas, a pintura, o desenho e a escultura em cavernas, o que não os exclui do conhecimento sobre as fórmulas medicinais e sobre o encantamento do gesto aplicado ao artesanato em adornos, armas, danças e, possivelmente, o encantamento dos primeiros instrumentos musicais, que certamente foram usados em cerimônias mágicas.
BRUXARIA & RELIGIÃO
Como religião, em seu sentido mais popular, a bruxaria, sem dúvida, correponde a uma abordagem primitiva, simplista, dos problemas metafísicos, das questões existenciais. Entretanto, a bruxaria é, inegavelmente, a semente de todas as religiões. A reflexão sobre os fenômenos mágicos conduziu pessoas mais vocacionadas ao pensamento teológico, cuja primeira expressão é a personificação das forças naturais, do destino. A personificação consiste na concepção de divindades, os deuses, entidades superiores ao homem que governam todas as coisas que fogem ao controle da ação humana direta.
Ainda no neolítico, a teologia, o pensar em deuses, emergiu na mente humana. Desde então, pouco a pouco, a religião passou a ocupar um lugar mais prestigiado que a bruxaria, diante dos poderes das organizações sociais e, já nos primórdios dos tempos históricos, os grandes impérios eram Estados teocráticos, como na Mesopotâmia e Egito, por exemplo. A bruxaria sobreviveu como religião popular e informal, composta pelos sincretismos de crenças mundiais e milenares e até hoje, mesmo depois de passar por severas perseguições, convive, um tanto clandestina, em meio à credibilidade socio-oficial das ciências e das grandes religiões. Mas a magia popular é tão antiga e tão enraizada nas culturas de todo os povos que se tornou quase invisível em pequenos gestos do dia a dia.
São exemplos destas práticas pouco notadas como herança da bruxaria: bater na madeira três vezes para anular uma má influência; o sinal da cruz, o se benzer, substituindo outros gestos mais antigos; a vassoura atrás da porta para espantar visita indesejável; o uso de velas a fim de obter proteção e realizar desejos; uso de amuletos; adoção de certas plantas ornamentais pelas virtudes mágicas associadas, como o alecrim, a arruda, o manjericão, a espada de São Jorge; preferência ou rejeição por certas cores, roupas e objetos ligados a êxitos e fracassos; o hábito mental de manter uma idéia fixa a fim de interferir no visível através do invisível (o pensamento); a crença no "olho gordo" ou "olho de seca pimenteira".
Bibliografia
FRIEDMAN, Estelle. Mil séculos de caverna. In A formação do Homem [Trad. Almira Guimarães]. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura Ed, 1963.
MacNALL BURNS, Edward. Idade da pedra e culturas pré-literárias. In História da Civilização Ocidental [Trad. Lourival G. Machado e Lourdes santos Machado]. Porto Alegre: Globo, 1975.
Sobre a autora Mahajah!ck:
Bacharel em jornalismo graduada na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia com a monografia As Ciências Ocultas na Internet.
Pesquisadora de Ocultismo.
Editora dos sites:
http://sofadasala.vila.bol.com.br/ MILADYS ETHERNAL REVISTA OCULTISTA
http://mahabaratha.vila.bol.com.br/ Centro de Estudos em Ciências Ocultas
http://ligiacabus.sites.uol.com.br/ SITE ACADÊMICO: SEMIÓTICA E CIÊNCIA HOLÍSTICA.
Fonte: Sobrenatural.org
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