Na manhã do dia 27/8/2015, o jornalista Ricardo Boechat escreveu, em sua página do Facebook (clique AQUI
para Ler), sobre ter sofrido um surto depressivo recentemente. O relato
é corajoso e sensível e mostra que ainda há muito o que ser discutido
sobre a depressão.
A doença muitas vezes é vista como uma frescura e é tratada como se
fosse tabu. Ainda assim, Boechat não está sozinho. Um estudo realizado
pela Federação Mundial de Saúde Mental mostra que uma em cada 20 pessoas
tem depressão. A instituição estima que a doença afeta cerca de 350
milhões de pessoas ao redor do mundo.
“Os quadros de depressão podem ser leves e às vezes
são confundidos com questões de personalidade, como se fosse um tipo de
frescura”, diz André Brunoni, coordenador do Serviço de
Neuromodulação do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo
(IPq-USP). “Esse tipo de comportamento faz com que o próprio paciente
não se sinta estimulado a procurar tratamento no começo ou perceba os
sinais de depressão que está apresentando. Ele só vai se tratar quando o
quadro fica grave.”
Causas e Efeitos
A depressão é causada por dois fatores: a genética e o ambiente. Isso
significa que aqueles que têm um histórico familiar de depressão correm
um risco maior de serem afetados pela doença. E algumas características
do ambiente de convivência do indivíduo, como estresse e pouca
valorização, podem ser decisivas para a saúde dele. Fora isso, há uma
série de eventos que ocorrem ao longo da vida que podem levar alguém a
ter depressão. O luto e o período pós-parto, por exemplo, são alguns
deles.
Quem tem a doença sofre alterações no córtex pré-frontal, região do
cérebro responsável pela tomada de decisões e julgamentos do que é certo
e errado. Muda também a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade dos
neurônios de se comunicarem entre si. A sensação que um indivíduo tem
durante um surto depressivo, segundo o psiquiatra, é de dificuldade em
processar informações e agir, como se o cérebro não estivesse
funcionando muito bem.
Ao longo do surto o corpo também sofre outros tipos de alterações, como o
aumento na produção de cortisol. O excesso do hormônio aumenta a
adrenalina no sangue e faz com que a variabilidade da frequência
cardíaca do paciente diminua.
O tratamento para a doença varia de acordo com a gravidade. De acordo
com André Brunoni, quadros leves e moderados podem ser tratados a partir
de mudanças no estilo de vida, como exercícios e alimentação. Em casos
mais sérios, é necessário contar com a ajuda de antidepressivos.
Como nem todos os pacientes podem adotar a medicação, seja por conta de
outros remédios ou condições pessoais, novas técnicas de tratamento
estão sendo desenvolvidas. Uma delas é a estimulação magnética
transcraniana, na qual um pulso eletromagnético é gerado no córtex
pré-frontal de forma a estimular a neuroplasticidade. “Essa técnica não
tem efeitos colaterais, o que é muito importante pois é comum que
pacientes melhorem por conta dos remédios, mas sofram com ganho de peso,
perda de libido, problemas gastrointestinais. Se elas param de tomar a
medicação, a depressão volta e cria-se um ciclo vicioso”, afirma
Brunoni.
No momento, o psiquiatra e outros profissionais da área estão
pesquisando a possibilidade de o tratamento ser mais eficaz que o uso de
medicamentos. Por isso, farão o estudo a partir de 240 voluntários -
ainda há 40 vagas, os interessados podem entrar em contato com os
pesquisadores através do e-mail pesquisa.depressao@gmail.com.
Dados do Instituto de Psiquiatria da USP mostram que 15% das pessoas
terão algum tipo de depressão ao longo da vida. Com tanta gente propensa
a ser afetada por essa doença, relatos como o de Boechat e outros
profissionais que atingem um maior número de pessoas, como Dan Harris, apresentador do programa americano Good Morning America, e da jornalista e roteirista Mariliz Pereira Jorge, são importantes e necessários.
Fonte: Revista Galileu
Via: Noite Sinistra
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