A Nasa anunciou nesta segunda-feira, 17, que glicina, um componente fundamental da vida, foi encontrada em amostras do cometa Wild 2 (pronunciado "Vilt 2"), enviadas à Terra pela sonda Stardust.
Uma cápsula com as amostras acondicionadas em aerogel caiu na Terra em janeiro de 2006, e o material vem sendo estudado desde então.
"Glicina é um aminoácido usado por organismos vivos para produzir proteínas, e esta é a primeira vez que aminoácidos são descobertos em um cometa", disse, em nota, a cientista Jamie Elsila, do Centro de Voo Espacial Goddard. Meteoritos - rochas espaciais caídas na Terra - já haviam revelado aminoácidos.
Ilustração de um trecho da treliça de aerogel, com o rastro das partículas aprisionadas
A cientista é a principal autora do artigo que descreve a descoberta, e que será publicado no periódico especializado Meteoritics and Planetary Science. O trabalho também será apresentado em congresso da Sociedade de Química dos Estados Unidos.
Pesquisadores já determinaram, por exemplo, que o meteorito Murchison, uma rocha espacial descoberta na Austrália em 1969, contém xantina e uracila, duas substâncias necessárias para a formação de DNA e RNA, além de vários aminoácidos.
Sinais de matéria orgânica também já foram detectados em nuvens moleculares que flutuam pelo espaço.
"A descoberta de glicina apoia a ideia de que os componentes fundamentais da vida estão presentes no espaço, e reforça o argumento de que a vida no universo pode ser mais comum do que rara", disse, também por meio de nota, o diretor do Instituto de astrobiologia da Nasa, Carl Pilcher.
Os cientistas da Nasa dizem ainda que a glicina encontrada contém um isótopo raro de carbono, o carbono 13. Segundo eles, isso reforça a hipótese de que a moléculta tem origem extraterrestre.
A Stardust passou pela nuvem de gás e poeira que circunda o núcleo de Wild 2 em janeiro de 2004. Uma treliça contendo aerogel - uma substância tão leve que é mais de 99% espaço vazio - capturou as amostras, que foram acondicionadas numa cápsula que, por sua vez, foi lançada para a Terra.
Ao retornar à Terra, a cápsula percorreu a atmosfera a 45.000 quilômetros por hora, a maior velocidade de reentrada já atingida por um objeto artificial - quase o dobro da de um ônibus espacial, por exemplo. O retorno da cápsula iluminou o céu de parte do estado de Utah, nos EUA.
Além de coletar poeira de cometas, a Stardust também recolheu poeira interestelar - material originado em outras estrelas, a anos-luz de distância, e que vaga pelo espaço.
Para ajudar a localizar essas partículas interestelares, cientistas criaram o programa Stardust@home, que permite que internautas de todo o mundo se ofereçam como voluntários para observar imagens de microscópio do aerogel e marcar quais apresentam sinais dessa poeira de estrelas distantes.
Diferentemente de programas como o SETI@home, que requerem apenas tempo ocioso do computador do voluntário, o Stardust@home requer o envolvimento direto do participante, que deve, antes de se inscrever, passar por um pequeno tutorial e ser aprovado num teste.
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